Ao entregar seu pedido de exoneração na tarde de quarta-feira, o ex-secretário de Segurança Pública e Proteção Social, José Francisco Mallmann, ressaltou deixar um grande legado para Caxias do Sul. Com 92 páginas, o planejamento estratégico é um guia para os próximos cinco anos da secretaria na cidade. O documento é um reflexo da convicção de Mallmann de que a municipalização da segurança pública é inevitável.
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O delegado federal aposentado ressalta que a saída da gestão é motivada apenas por uma razão de foro íntimo. Mallmann quer ficar próximo da família, especialmente da bisneta Sophia, que nasceu em junho deste ano. Por isso, solicitou a exoneração e retornará para Porto Alegre.
Em carta ao prefeito Daniel Guerra (PRB), Mallmann destacou realizações como a celebração do convênio com a Samae, que destinará R$ 600 mil por ano para serem investidos na Guarda Municipal, e a criação de quatro operações permanentes em prol de combate à insegurança.
Pioneiro: O senhor sempre ressaltou que pensava num trabalho de longo prazo. Por que está deixando o cargo agora?
José Francisco Mallmann: terminamos no dia 20 de novembro o planejamento estratégico da secretaria, um trabalho de 100 dias úteis que traçou quatro objetivos estratégicos, 26 políticas e 231 estratégias de execução. Um trabalho exaustivo que repensou a secretaria e traçou ações até 2022. Este planejamento estratégico é o verdadeiro legado que deixo. O novo secretário basta sentar e ler. Está tudo ali, pronto para ser feito. Virão novos tempos de paz social em Caxias do Sul.
Não teme que este planejamento não seja executado?
Falei com o prefeito e estamos contratando uma pessoa exclusiva para cuidar somente da execução do planejamento estratégico. Ela que vai centralizar e cobrar a execução. Todos os servidores (da secretaria) receberão este planejamento estratégico para se comprometer com a execução. Só sei trabalhar em cima de planejamento, o que não existia. Agora, a Secretaria de Segurança Pública tem políticas e ações bem definidas. Com certeza será um novo tempo de paz social. Muitas ações já começaram, mas a previsão é para seis anos. Claro que muitas ações irão depender da situação econômica do município. É um projeto muito ambicioso. O tempo de pequenez acabou. Principalmente para a Guarda Municipal.
Como o prefeito recebeu a sua intenção de sair?
Eu já havia sinalizado que, muito provavelmente, no final do ano, depois deixar a casa arrumada, eu sairia. Estava muito cansativo. Este ano, tive a felicidade de ser bisavô. Ao longo da minha vida, ocupando vários cargos, praticamente não vi meus filhos crescerem. Deus está me dando esta oportunidade de ter uma segunda chance, de participar da vida destes seres. Quero ter o encargo de cuidar da minha família e ser avô.
Sugeriu algum nome para substituí-lo?
Sim, sugeri um nome, pois o prefeito (Daniel Guerra) me pediu. Mas ele tinha outros dois nomes e a escolha é dele. Provavelmente será anunciado amanhã (quinta-feira). Eu disse ao prefeito que para garantir a execução deste planejamento estratégico é preciso colocar uma pessoa exclusiva para cuidar dele e cobrar. Este nome já está sendo apresentado na governança.
Foram muitas dificuldades enfrentadas neste ano?
Se tivéssemos mais recursos, é lógico que poderíamos ter feito muito mais. Mas tenho que entender a situação. Já participei de vários governos, e o primeiro e segundo ano (de mandato) são para a arrumar a casa. O deslanche sempre acontece no terceiro ano. Não é uma questão eleitoral. É a verdade. O gestor precisa colocar seu modo de ser. E eu tive toda esta liberdade.
O policiamento comunitário continua sob impasse. Foi o ponto negativo no seu trabalho?
Todos os quatro convênios da Brigada Militar estão pendentes da prestação de contas. O convênio que eu e o prefeito Daniel Guerra assinamos, que tinha o aditivo que a prestação de contas seria mensal, terminou em 16 de setembro e não recebi nenhuma prestação de contas. O que competia à BM não recebi. Cobrei várias vezes e, sem a documentação, encaminhei para a PGM (Procuradoria-Geral do Município). Por que a BM não manda? O impasse continua porque a BM não presta as contas e promove um termo de cooperação que não pode ser.
Está estremecida a relação com a BM?
Estremeceu porque a BM não presta contas. Lá no convênio, há quatro servidores da BM que recebem verba do policiamento comunitário só para cuidar dos contratos, para fazer a coordenação, mas a coisa não anda. Não sei o que está acontecendo. O problema não é com a prefeitura. Está tudo documentado. A solução é a BM prestar contas.
Qual seu conselho para o próximo secretário?
Se debruce sobre o plano estratégico e execute. Lógico que precisa fazer a sua avaliação. Um planejamento estratégico é dinâmico e sempre cabe sugestões de melhorias. Este planejamento foi feito com pensamento de pessoas que estão há muito tempo na secretaria. Foram oito elaboradores e 10 colaboradores, pessoas capacitadas para tal fim.