Moradores da área e parentes de Robson dos Santos Oliveira, 23, um dos quatro mortos na ação da Brigada Militar no bairro Primeiro de Maio no final da manhã desta quinta-feira (23), contestam a versão da polícia. Eles afirmam que ninguém reagiu à aproximação dos policiais.
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— Eu estava dormindo, com as crianças. Quando ouvi os estouros, olhei na porta e eles (os policiais) estavam subindo as escadas dando tiros. Aí arrebentaram a porta e entraram atirando — conta Márcia de Fátima da Silva dos Santos, 42, mãe de Robson.
Ela mora com três filhas no primeiro e segundo pisos do imóvel invadido pela polícia, que fica em uma viela que pode ser acessada pela Rua Antonio Nakhoul El Andari, via paralela ao Parque Mato Sartori. Robson ocupava a peça no terceiro piso, onde morreu com os três homens que estavam ali.
— Foi a maior covardia, eles estavam dormindo e (os policiais) chegaram atirando — reforça Irene da Silva dos Santos, 44, tia de Robson, que só chegou ao local depois do tiroteio.
Márcia relata que, ao ouvir os tiros, correu para fora com as filhas de sete e 12 anos. Após deixar as meninas na rua, voltou para ver Robson.
— Eu estava subindo as escadas e (os policiais) apontaram uma arma para mim. Disseram que eu só poderia ver ele na ambulância. Nem deu tempo de ninguém reagir, eles morreram deitados onde estavam — defende.
De acordo com Márcia, Robson estava reunido com os outros jovens que foram mortos porque eles iriam acampar pela manhã. Contudo, a BM afirma que o grupo estava envolvido com uma facção e crimes, segundo relatos colhidos pelo setor de inteligência.
— O que temos de concreto é que o primeiro disparo (de espingarda) partiu deles. O outro suspeito, que confrontou os policiais na rua, também atirou com um revólver — rebate o comandante do 12º BPM, major Ribas.
Os familiares afirmam não ter conhecimento da ligação de Robson ou de Rodrigo de Andrade de Matos, também morador do Primeiro de Maio, com facções criminosas. Pedro Henrique Caxambu de Jesus, 20, e Leandro de Melo Alves, 20, não eram conhecidos na comunidade. Para o avô de Robson, Ataídes de Oliveira, 66, nada justifica a ação de ontem.
— Que eu saiba ele (Robson) fumava maconha, mas se fazia outra coisa não sei. Se ele cometeu algum crime, que venham e levem para a cadeia. Mas não como fizeram, arrombar a porta e pegar a gurizada dormindo — reclama.
O pai de Rodrigo de Andrade de Matos também contesta ação da BM. Paulo Cesar de Matos, 47, que é cego, diz ter sido agredido por tentar se aproximar do filho após o tiroteio.
— Eles me algemaram, me derrubaram no chão. Meu filho não tinha envolvimento com tráfico não — defende.
Na noite desta quinta, Matos foi registrar boletim de ocorrência contra a agressão que diz ter sofrido da Brigada.
Os moradores são unânimes ao contestar que houve confronto com a polícia. Um vizinho, que não quis se identificar, diz estranhar a ausência de marcas de tiroteio.
— Na casa, não tem marca nenhuma de tiro. Encontramos só capsulas calibre .40 pelo chão. Não tem vidro quebrado, nem nada. Só onde eles estavam deitados, ali tem os furos na coberta e no colchão. Como é que teve troca de tiros? — questiona.
Confrontos
Com os quatro óbitos, já são 14 mortes em confronto com forças de segurança neste ano em Caxias. Doze casos tiveram relação com ações da BM e dois envolveram a Guarda Municipal durante um assalto a banco. Em todo o ano passado, 15 criminosos morreram em confronto com as forças policiais.