A comunidade de Caxias do Sul e, consequentemente, seus representantes discutem os núcleos comunitários da Brigada Militar (BM) porque este é o seu interesse maior — ter policiais por perto. O fato de apenas nove dos 24 núcleos no estarem cumprindo seus objetivos, como mostrado pelo levantamento do início desta série, torna o debate ainda mais válido. No entanto, o programa de policiamento comunitário é uma doutrina muito mais ampla e que promove a integração dos esforços na tentativa de eliminar as causas da violência. São nos bairros que entenderam esta proposta de união que a prevenção apresenta os melhores resultados.
O Cinquentenário é um destes bons exemplos. Localizado na área central, o bairro sempre sofreu com assaltos e a circulação de usuários de drogas. A insegurança começou a mudar após um assalto em julho de 2015, quando um jovem sugeriu a criação de um grupo de WhatsApp entre os moradores mais próximos. A ideia encantou o economista Eduardo Soares Rodrigues, 75 anos, que organizou e espalhou a iniciativa.
— Usamos uma arma poderosa contra os marginais: a informação. Assim, combatemos a prinicipal arma dos bandidos: o elemento surpresa. Antes que eles ataquem, nós já estamos sabendo — exalta o fundador do Cinquentenário em Alerta.
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Metódico, Rodrigues desenvolveu cadastros dos moradores e desenvolveu planilhas que mostram as áreas de maior risco no bairro. Como a sensação de insegurança estava em alta, a ideia logo se espalhou. A parceria com o policiamento comunitário trouxe credibilidade ao projeto. A própria BM, no entanto, destaca que o diferencial foi a organização dos moradores.
Atualmente, o bairro está dividido em nove regiões. Cada área possui um grupo de WhatsApp e dois coordenadores, que compõe o comitê central do bairro. A intenção é que qualquer movimentação seja identificada e monitorada até a chegada da BM, caso necessário. O maior desafio dos coordenadores, no entanto, é manter os moradores engajados.
— Quando o bairro estava complicado, tivemos 138 participantes na assembleia_ mais da metade dos cadastrados na época. Agora, que está tranquilo, foram apenas 35 pessoas. Parece que estão com saudades dos bandidos — lamenta.
Para fechar o sistema de segurança no bairro, o comitê do Cinquentenário em Alerta sonha com a instalação de câmeras para vigiar todas as ruas dos bairros. As imagens estariam disponíveis nos celulares de todos os participantes e seriam fornecidas a BM. O custo é a dificuldade.
— Por meio deste cadastro (que os moradores fazem para participar dos grupos de WhatsApp), descobrimos que temos mais de 60 empresas de segurança "trabalhando" no bairro. Pelas avaliações, selecionamos as três mais conceituadas. O objetivo é centralizar os recursos e desenvolver o nosso projeto — aponta Eduardo.