A greve do magistério estadual, deflagrada em 5 de setembro em protesto contra o parcelamento de salários determinado pelo governador José Ivo Sartori (PMDB), chega aos 45 dias sem data para terminar. Sem previsão de um acordo entre professores e governo, pais de alunos da rede estadual, ouvidos pela reportagem, trocaram de posicionamento em relação à paralisação. Todos entendem a dramática situação dos docentes, agravada pelo parcelamento dos salários. Mas com o fim do ano se aproximando a compreensão não é geral. Pais passam a questionar o prolongamento do movimento.
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A mudança de opinião é vista principalmente entre os responsáveis por estudantes concluintes do Ensino Médio, que em poucos dias devem realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e seguem sem aulas. Também sem certificado de conclusão, já que o calendário escolar deve ser alterado, eles correm o risco de não conseguirem se inscrever nos vestibulares. Há uma semana, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) determinou que o ano letivo se encerre em todas as escolas estaduais até o dia 14 de janeiro de 2018. O Cpers-Sindicato, no entanto, afirma que somente após o fim da greve haverá uma decisão sobre datas e recuperação das aulas.
— Não tenho mais argumentos para dar aos pais, que exigem uma posição e que os filhos tenham aula, um direito deles. A cada dia aumenta mais o número de reclamações. Os professores querem o pagamento no dia 31, mas isso não vai acontecer. Ou seja, a greve não terá fim se essa teimosia continuar. É uma intransigência muito grande por parte deles. Fico desesperada quando ouço o desabafo de uma mãe — lamenta a titular da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE), Janice Moraes.
Mesmo que a adesão de professores tenha diminuído desde o início da greve, muitos pais ainda estão com os filhos sem aula e em busca de alternativas. Até sexta-feira, eram 43 escolas paralisadas em Caxias do Sul, São Marcos, Farroupilha e Nova Petrópolis, sendo nove totalmente sem aulas.
— Sabemos que a greve está se estendendo bastante, mas ainda não fomos ouvidos e por isso não há previsão de término. Estamos há 23 meses com o salário parcelado por opção do governo — justifica o coordenador do 1º núcleo do Cpers de Caxias, David Carnizella.
Alunos podem ser remanejados
Na última quinta-feira, a Seduc reuniu as Coordenadorias Regionais de Educação (CREs) para orientar sobre o remanejamento dos alunos que estão sem aula para outras instituições de ensino com atividades normais. A medida vai atender, principalmente, estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental e do 3º ano do Ensino Médio, considerados os mais prejudicados. Cada coordenadoria deve criar uma comissão responsável pelas transferências - um mapeamento das instituições deverá ser feito até terça.
— Estamos fazendo um levantamento para, na segunda, poder disponibilizar essas possibilidades aos pais e estudantes. As transferências só ocorrem caso haja interesse das famílias — esclarece a coordenadora da 4ª CRE, Janice Moraes.
'Cpers disse que concluintes seriam o trunfo da greve', reclama mãe
Com o filho no 3° ano do Ensino Médio na Escola Padre Werner, Yedda Leão Michaelsen, 56 anos, está indignada com os rumos que a greve do magistério estadual. A pedagoga e professora de dança de Nova Petrópolis diz que sempre achou justa a reclamação dos docentes, mas acredita que os interesses políticos são o novo foco da paralisação. Por isso, diz que o prejuízo causado aos estudantes com a paralisação, principalmente com os concluintes do Ensino Médio, são graves e podem ser irreparáveis.
— No início da paralisação, os pais participavam dos atos com os professores. Mas a situação que estamos vivendo agora não faz mais sentido. Os alunos podem perder o ano e a chance de começarem um curso de graduação. Questionamos o Cpers sobre esse problema e ouvimos que os "concluintes seriam o trunfo da greve". Quer dizer que para chamarem a atenção, vão prejudicar os alunos? — reclama.
O coordenador do 1º núcleo do Cpers de Caxias, David Carnizella, garante que sabe da reclamação dos pais sobre o possível não ingresso nas universidades. Afirma que o sindicato entrou em contato com algumas instituições de Ensino Superior em busca de uma solução, mas uma negociação só poderá ocorrer com as particulares.
— Com as federais não há como negociar porque o sistema deles é diferente. Mas há a opção dos alunos de entrarem com recurso na Justiça, há jurisprudência nesses casos — garante.