Se na zona urbana conhecer os moradores auxilia na segurança do bairro, no interior isso é uma necessidade. O policiamento comunitário na área rural talvez seja o melhor exemplo em Caxias do Sul da integração proposta pelo programa. Acostumados com a distância dos serviços disponíveis na cidade, os moradores do interior de Caxias exaltam o convívio dos brigadianos e fazem questão de oferecer pelo menos um café aos policiais durante as visitas.
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Por outro lado, morar afastado da zona urbana é um teste do comprometimento do PM comunitário, o que resulta em uma melhor atuação. Mesmo com o auxílio-moradia, a maioria dos brigadianos não quer morar em distritos e localidades afastadas e o comando tem dificuldades para encontrar candidatos ao posto.
Historicamente, as rondas policiais não chegam à zona rural devido à distância do batalhão da Brigada Militar, que fica no bairro Kayser. No passado, mesmo quando vítimas de crime acionavam o 190, raramente uma viatura era deslocada até um distrito porque havia o entendimento de que os bandidos já haviam deixado a propriedade e os reféns não estariam em risco. Essa fragilidade foi percebida pelos ladrões e os relatos de crimes viraram parte da rotina, principalmente no início dos anos 2010.
— O pior é que (os criminosos) são agressivos. Não aceitam que (as vítimas) não tenham nada. Eles batem nas pessoas e quebram tudo. A gente vivia se escondendo e se defendendo como podia — relata Solimar Daneluz, 59 anos, morador de Vila Oliva há 30 anos.
Felizmente, o policiamento comunitário afastou a sensação de abandono sentida pelos moradores. A equipe do interior usa uma caminhonete para percorrer 300 quilômetros todos os dias e conversar com agricultores e famílias de locais afastados.
— Buscamos orientar a comunidade, principalmente em casos de emergência, e estimular que eles nos abordem. Os moradores têm que conhecer o policial que atende a localidade. Conhecer a rotina do interior faz a diferença no nosso trabalho — explica soldado Weide.
Diante de uma movimentação suspeita, os moradores são instruídos a anotar o modelo e placa do veículo e acionar os policiais. A resposta é mais rápida porque, além de estarem mais próximos, os brigadianos conhecem pontos de referência e os nomes das fazendas.
— Eles estão sempre em contato conosco e circulando pela região, o que passa esse ar de segurança. O próprio bandido se retrai (ao avistar os PMs). Sabemos que não vai resolver 100%, mas ajuda e é muito importante para nós — comenta Daneluz.
Ao conversar com os moradores, é fácil concluir que o policiamento comunitário funciona no interior e melhorou a segurança, embora muitas comunidades reclamem de assaltos. No entanto, como ocorre na cidade, o programa não opera plenamente. O convênio previa a participação de 11 policiais militares em três núcleos: Vila Seca, Fazenda Souza e Forqueta. Atualmente, há um brigadiano para o setor administrativo e seis para atuar nas rondas, sendo que dois estão de licença. Desta forma, o trabalho ficou dividido em duas duplas, que se revezam no patrulhamento de 2,1 mil quilômetros.