Para que a água jorre em abundância nas torneiras de milhares de moradias por pelo menos mais 30 anos, a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) planeja construir um grande sistema que ligará o Rio das Antas às redes de abastecimento de Bento Gonçalves, Farroupilha, Carlos Barbosa e Garibaldi.
É a maior obra de saneamento na Serra desde a construção do Sistema Marrecas, inaugurado pela prefeitura de Caxias do Sul em 2012. O projeto será apresentado nesta sexta-feira (20) em audiências públicas que ocorrem em horários diferentes em Garibaldi, Bento e Carlos Barbosa. Os moradores de Farroupilha poderão conhecer o plano na próxima terça-feira (ver quadro abaixo).
A companhia pretende construir uma estação de bombeamento às margens do Rio das Antas em Bento Gonçalves — o local é mantido em sigilo para evitar especulações imobiliárias, pois a área ainda não foi adquirida. Dali, o encanamento subirá por um trajeto de cerca de 250 metros até uma Estação de Tratamento de Água (ETA). Da ETA, a água continuará subindo por dois ramais: um seguirá para Farroupilha e outro atenderá Bento. De Bento, partirá a distribuição para reservatórios de Garibaldi e Carlos Barbosa.
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A meta é ambiciosa e beneficiaria cerca de 250 mil pessoas num primeiro momento, com folga para absorver o crescimento populacional das quatro cidades em até 50%. Todo o sistema, que compreende a construção da ETA, reservatórios e implantação de adutoras, além do bombeamento, custará cerca de R$ 150 milhões, conforme o diretor de Expansão da Corsan, Marcus Vinicius Caberlon. O dinheiro está sendo captado dentro de um projeto de ampliação dos serviços da companhia para todo o Estado.
A melhoria prevê a desativação da barragem da Linha Julieta, em Farroupilha.
— No caso de Farroupilha, a barragem da Linha Julieta apresenta dificuldades operacionais e a de Nova Sardenha também está no limite. Já Bento Gonçalves tem a barragem no Barracão que está no limite e complica ampliações. A vazão lá é de 600 litros por segundo. Com a água do Rio das Antas, vamos ter uma vazão total de mil litros por segundo. É um aumento significativo, que pode ser ampliado no futuro — justifica Caberlon.
Carlos Barbosa é a cidade que sentiria mais o impacto do novo sistema. Hoje, o abastecimento para os 28 mil moradores do município ocorre apenas meio de poços artesianos. Garibaldi, por sua vez, deixaria de utilizar poços e dependeria apenas dos novos reservatórios e de uma barragem.
— Pensando a longo prazo, haveria um reforço importante para a nossa cidade. Não haveria mais necessidade de perfurar os poços — diz o vice-prefeito de Carlos Barbosa, Beto Da-Fré.
O secretário de Administração e Governo de Bento, Enio De Paris, confirma que a prefeitura está apoiando o projeto.
— Vem para suprir a necessidade que vamos ter nos próximos anos — resume Enio.
TIRE SUAS DÚVIDAS
Confira os horários e locais das audiências promovidas pela Corsan para explicar o projeto de captação de água do Rio das Antas. Qualquer pessoa pode participar para opinar ou tirar dúvidas. Participe:
Sexta-feira
Garibaldi: audiência às 10h30min, no Centro de Convivência dos Idosos (Avenida Júlio de Castilhos, 470, Centro).
Bento Gonçalves: audiência às 14h, na Fundação Casa das Artes (Rua Herny Hugo Dreher, 127, bairro Planalto).
Carlos Barbosa: audiência às 17h, no Centro de Formação da Paróquia Nossa Senhora Mãe de Deus (Rua Elisa Tramontina, s/n, Centro).
Terça-feira, dia 24
Farroupilha: audiência às 19h, no salão nobre da prefeitura (Praça da Emancipação).
Comitê da Bacia Taquari-Antas desconhece projeto
Se o desvio da água do Rio das Antas é a esperança para garantir o abastecimento na Serra, a intervenção no leito pode ser interpretada de forma diferente por ambientalistas. O rio integra a Bacia Hidrográfica Taquari-Antas, que é gerida por um comitê de preservação. Em anos anteriores, consultas populares já indicavam o interesse de moradores de Caxias do Sul e de outras cidades pela proteção dos leitos, o que vedava inclusive a retirada da água para consumo. O presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia, Júlio César Salecker, desconhece o projeto da Corsan e afirma que não foi informado sobre as audiências desta sexta.
— Não foi apresentado esse plano para o comitê. Por esse motivo, não tenho como opinar —declara Salecker.
Caberlon garante que o Departamento de Recursos Hídricos da Secretaria Estadual do Meio Ambiente já concedeu outorga para a exploração do rio. Segundo ele, as licenças ambientais para o manuseio da água ainda estão sendo trabalhadas, mas a Corsan não acredita em entraves.
— A vazão do Rio das Antas é muito grande, vamos usar muito pouco. Mil litros por segundo é quase nada. Por esse motivo, as audiências são importantes para que todos possam sugerir, contestar, opinar sobre o projeto — enfatiza Caberlon.
A Corsan espera que os projetos executivos da obra fiquem prontos até o primeiro semestre de 2018. Posteriormente, a ideia é iniciar as intervenções ainda no próximo ano. A melhoria só deve ser entregue em 2020 ou 2021. O financiamento do projeto está sendo negociado com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
BACIA
O Rio das Antas, que integra a Bacia Taquari-Antas, nasce em São José dos Ausentes, no extremo leste do Planalto dos Campos Gerais. O leito segue até a confluência do Rio Carreiro, em São Valentim do Sul, onde passa a ser denominado como Rio Taquari. Dali, ele desemboca no Rio Jacuí, em Triunfo Entre a nascente e o Taquari, o Rio das Antas percorre cerca de 390 quilômetros. No total, a Bacia Taquari-Antas abrange 119 municípios da Serra, da Região das Hortênsias, dos Campos de Cima da Serra, do Vale do Taquari, do Vale do Rio Pardo, do Nordeste do Estado, da Região Metropolitana, do Delta do Jacuí, do Botucaraí, da Produção e do Vale do Caí.