Às 7h40min da última segunda-feira, Eva Vieira Flores, 64 anos, saiu de casa, no interior de São Domingos do Guaporé, distrito de Costa Marques, em Rondônia, e seguiu para a rodoviária. Naquela hora, pegaria um ônibus que a levaria para perto do seu irmão mais velho, Euclides, 75, que mora em Caxias do Sul. O deslocamento durou 62 horas, mas não cansou Eva, que enchia os olhos de lágrimas cada vez que se dava conta de que aquela viagem terminaria onde ela sempre se imaginou nos últimos 43 anos: abraçada em Euclides.Os dois não se viam ou se falavam desde os anos 1970. Ainda jovens e morando em Pato Branco, no sudoeste do Paraná, os irmãos se separaram porque os pais, em busca de oportunidade, se mudaram para Roraima. Eva, na época com 21 anos, acompanhou o pai e a mãe, mas Euclides resolveu se estabelecer em Pato Branco por mais algum tempo.
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Os outros cinco irmãos, Ernestina, João Maria, Cida, Adão e Antoninho, também tomaram rumos diferentes e hoje moram em Estados diferentes. O único que reside no Rio Grande do Sul é Euclides, que se mudou para Caxias quando o sogro o convenceu, há 25 anos, que a terra era boa. Mas as oportunidades que trouxeram Euclides para o Sul também o afastaram ainda mais da irmã. Eles perderam contato em função da distância - mais de 3,5 mil quilômetros separam Caxias de São Domingos do Guaporé.
Sem telefone em casa, celular ou internet, os irmãos nunca mais tinham ouvido a voz um do outro. Sabiam das notícias, do nascimento de netos e bisnetos, por meio de informações repassadas por familiares e só. Mas jamais conseguiram manter contato.
Há algum tempo, por meio de uma rede social, um dos sete filhos de Euclides, João, encontrou uma primas que mora em Rondônia. A partir daí, os dois começaram a planejar o reencontro de Euclides e Eva. Depois de muito planejamento e economia - a viagem custa cerca de R$ 1,5 mil e os dois vivem com pagamento de aposentadoria - os irmãos voltaram a se encontrar na última quinta-feira, quando Eva chegou em Caxias. Já na rodoviária, o choro tomou conta de toda a família. Eva e Euclides não lembravam do rosto um do outro, mas foi no longo abraço que perceberam que o amor fraterno jamais os afastou.
– A gente esquece do semblante, né, foram mais de 40 anos. Mas sabia que era ela. Irmão é sangue, é uma parte da gente. Que bom poder reencontrar pessoas que a gente ama e vai amar para sempre – resume Euclides.
Eva não tem data para voltar para Rondônia, mas espera ficar com a família em Caxias ao menos 30 dias. Quer aproveitar cada segundo ao lado do irmão, sobrinhos e sobrinhos-netos. Também espera que um dia seus filhos e netos que estão no Norte possam conhecer o restante dos parentes no Sul.
– Nada deveria separar uma família. Poder abraçá-lo depois de tanto tempo é inexplicável – emociona-se a aposentada.