"Foi coisa de cinema". É assim que define o motorista Jonas José Pinheiro, um dos reféns do assalto ao carro-forte da empresa Prosegur ocorrido na noite de segunda-feira no distrito de Vila Cristina, em Caxias do Sul. Ele, que trabalha com transporte de contêineres de lixo reciclável, é sobrinho de Adroaldo Pinheiro, uma das duas vítimas baleadas na ação. Jonas foi feito refém e viveu momentos de pânico sob a mira de fuzis.
Em entrevista concedida na manhã desta terça-feira ao Pioneiro, ele descreveu a ação dos criminosos e relatou que até uma mulher com um bebê foram utilizados como escudo humano. A quadrilha, segundo a Polícia Civil, seria a mesma que em março atacou outro carro-forte na BR-116, em Vacaria, com armamento .50, capaz de derrubar até aviões.
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Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
Em que momento vocês perceberam o assalto?
Estávamos eu e meu tio voltando de Gramado quando vimos fumaça saindo de trás do carro-forte. Pensamos até que o motorista tinha parado porque tinha esquentado muito os pneus. Foi aí que avistamos uma caminhonete pegando fogo e um dos assaltantes pediu para eu parar e atirou contra o meu caminhão. O disparo acertou a barra de proteção. Eu tentei reduzir, mas aí tive algumas dificuldades, não tem como parar tão abruptamente, foi quando o bandido tirou meu tio do caminhão e entrou nele.
Você foi feito refém?
Sim, ele me apontou a arma e gritava "acelera, acelera, que vamos rasgar esse carro-forte no meio". Ele me ameaçava, mas estava bastante calmo, parecia ser experiente e demonstrava ter tudo sob controle. Não conseguimos então dar a partida rapidamente e ele dizia que ia me me matar. Aí, abandonou o caminhão e já estavam parando um outro. Eles também atearam fogo em um veículo para usar de barricada e bloquear a pista. Pelo que notei, acredito que estavam em mais de 15 assaltantes.Foi quando ouvimos as explosões, por Deus, foram umas seis.
Foi feito cordão humano?
Sim, os vigilantes da Prosegur se embrenharam no mato e os bandidos pegaram eu, meu tio e mais umas quatro pessoas, incluindo uma mulher com um nenê. Aí eles foram na direção do matagal para o caso de alguém atirar de lá.
A ação foi rápida?
Não, eles até nos diziam que iria ser rápido, que ninguém ia sair machucado, porque só queriam o dinheiro. Mas deu a impressão que o tiroteio levou mais de uma hora. E quando os policiais chegaram foi decepcionante, as armas deles pareciam de brinquedo perto da dos assaltantes. Em algum momento conseguimos nos esconder no mato. Ficamos um tempo lá, e quando pensávamos que os tiros tinham cessado saímos. Foi quando meu tio foi baleado na coxa. Aí tivemos que voltar a nos esconder e só saímos de lá quando vimos e ouvimos as sirenes.
E o comportamento dos assaltantes?
Eles estavam no total domínio da situação, como eu disse, pareciam experientes, carregavam as armas como se fossem militares e estavam bem calmos, tentavam até nos tranquilizar. Tudo parecia cronometrado e muito bem planejado. A gente sabia que se tentássemos furar o bloqueio morreríamos, até um Clio fez menção de avançar, falamos para ele parar e ele seguiu. Os bandidos atiraram umas três vezes contra o carro dele.
Chegaram a notar algum indicativo de onde eles eram?
Acredito até que não sejam daqui (do Estado), pelo sotaque e o vocabulário.
E agora, como será a volta para o trabalho?
Já voltei a trabalhar, é vida que segue.
O que fica da experiência?
Já sofri uns dez assaltos, mas como esse só tinha visto em filmes, foi coisa de cinema. No momento não tivemos tempo para refletir, mas agora podemos extrair uma lição de vida e agradecer por não termos morrido, até eu e meu tio falávamos sobre o "Pai Nosso" pouco antes do assalto e rezamos ele antes de começarmos a viagem, talvez isso tenha nos protegido.