Um assaltante foi baleado durante um roubo a lotérica na Rua General Sampaio no bairro Rio Branco, em Caxias do Sul. A agência é a mesma que, há dois anos, foi assaltada no momento em que o proprietário concedia entrevista à Gaúcha Serra sobre a alta incidência de crimes naquela região. Nesta quinta, a diferença foi que um policial à paisana percebeu o crime e reagiu disparando três vezes contra o criminoso, identificado como Evandro Alves da Silva, que foi socorrido e encaminhado ao Hospital Pompéia, onde permanece internado em estado estável. O outro suspeito conseguiu fugir.
Leia mais:
Integrantes de facção são indiciados por execução em Caxias do Sul
Brigada Militar faz cerco a criminosos em Paraí
Não foram fornecidos maiores detalhes sobre as circunstâncias que envolveram a ação ou a identidade do servidor que atirou contra o assaltante.
O fato se iniciou ainda por volta de 13h50min, quando dois homens encapuzados, com rostos totalmente expostos, adentraram o local, renderam o único cliente presente e roubaram o dinheiro dos caixas. Embora rápida, a ação foi executada de forma truculenta, conforme depoimentos.
– Estou trabalhando lá (na lotérica) há sete anos e esse já é o sexto roubo que presencio. O que mais me chama a atenção é a forma cada vez mais violenta que os bandidos praticam os assaltos. E o pior de tudo é que eles nem se escondem mais, talvez saibam que vão ser soltos nas próximas semanas – relata a atendente Carla Pedroni.
Após um deles subtrair o dinheiro dos guichês o outro se encaminhou para a saída, e, no momento em que embarcava em uma moto utilizada na ação, os disparos foram ouvidos.
– Não vimos quem atirou, estávamos ainda todas amedrontadas lá dentro, inclusive um dos bandidos que saiu correndo quando viu que o companheiro dele tinha sido atingido – descreve Amanda Silva de Moraes, que trabalha há nove meses no estabelecimento e testemunhou assalto pela primeira vez.
– No momento que ele apontou a arma pra mim eu acho que estava em estado de choque, a ficha só foi cair quando ele assaltou o cliente que estava no meu guichê – acrescenta.
O outro suspeito conseguiu fugir após render o motorista de um Scénic. A vítima foi obrigada a levar o criminoso até o bairro Vale Verde, onde desembarcou e prosseguiu a fuga a pé.
Com a ocorrência, o estabelecimento já soma quatro assaltos nos últimos três anos. Diante do ocorrido, as funcionárias admitiram a possibilidade de deixar o emprego.
Em tom de desânimo, o proprietário da lotérica lamentou todo o ocorrido:
– A polícia até faz, mas o problema é que a justiça solta. Em um dos assaltos que sofremos nos últimos anos, os bandidos foram presos, liberados logo depois e em questão de dias identificados como integrantes de um grupo autor de roubo a um banco – desabafa o proprietário do local, acrescentando ser inviável financeiramente a contratação de segurança particular.
O caso será encaminhado para a Delegacia de Furtos, Roubos e Capturas (Defrec).
"A Justiça só solta quando a prova é fraca", afirma titular da Defrec
O discurso do proprietário da lotérica foi respaldado pelas funcionárias, que culta o alto número de assaltos no estabelecimento à suposta ineficiência do Poder Judiciário. O titular da Defrec, delegado Mário Mombach, no entanto, pensa diferente:
– Se a justiça solta é porque não produzimos provas robustas suficientes. Esse discurso de que polícia prende e judiciário solta não procede. O Judiciário só solta quando as provas são fracas – afirma.
Ainda assim, apesar de assumir o que classificou como mea culpa, o delegado ressalta que parte da culpa é também das próprias vítimas que se negam a colaborar com investigações.
– A polícia sabe quem são eles, mas precisamos provar. Então, grande parte da responsabilidade de não fornecermos base suficiente para a Justiça prender os criminosos é da própria sociedade, das vítimas, que não contribuem para uma investigação mais precisa, e se negam a reconhecer os autores – salienta Mombach.
Sobre a ocorrência em particular, ele reitera que há cerca de dois anos houve um levantamento de suspeitos de praticarem perfil específico de assaltos a lotéricas, cujo banco de dados afirma ter resultado em diversas prisões, porém, não descarta que nova onda possa ressurgir.
– Não podemos georreferenciar a criminalidade, não adianta, um dia acontece em um tipo de estabelecimento, e no outro eles encontram um novo alvo – conclui.