Após 10 anos em busca da patente de uma invenção criada pelo Laboratório de Enzimas e Biomassas, a Universidade de Caxias do Sul (UCS) conseguiu a certificação de uma tecnologia capaz de despoluir a água das indústrias têxtil e papeleira. A ideia, fruto de uma tese de doutorado, começou a ser pesquisada em 2005 e surgiu a partir do momento em que foi detectado que a adição de metais durante o cultivo do fungo Pleurotus sajor caju superpotencializa a produção de enzimas capazes de atuar na descoloração de corantes e de moléculas poluentes da água.De acordo com o coordenador do estudo, Aldo Dillon, a invenção não é inédita porque hoje já existem fábricas de enzimas, porém com um custo alto de produção. Ele explica ainda que a descoberta da UCS tem como diferencial a disponibilidade de uma tecnologia eficiente e economicamente viável.
– A patente tem de inovação uma alternativa para aumentar a produção de enzimas e, como consequência, obter redução nos custos de produção. Esse tipo de pesquisa é uma resposta ao compromisso da biotecnologia com o meio ambiente e traz contribuições para o setor produtivo e também para a causa ambiental, por possibilitar a diminuição de poluentes – detalha Dillon, também coordenador do Programa de Pós-Gradução em Biotecnologia da UCS.
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Com essa certificação do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), a universidade poderá repassar (em troca de dinheiro ou não, dependendo do acordo feito entre as duas partes) o processo de desenvolvimento das substâncias com material antipoluente para qualquer empresa interessada. A doutoranda em Biotecnologia Letícia Osório da Rosa, que também participou do estudo, explica que o fungo Pleurotus sajor caju é uma espécie de cogumelo comestível e fácil de ser encontrado no Brasil. A linhagem utilizada na pesquisa veio de São Paulo; aqui na região, o comum é o Pleurotus pulmonarius, que também pode ser utilizado no processo.
– Na indústria têxtil, por exemplo, os processos são bastante poluentes: de 10 a 15% dos corantes não são fixados durante o tingimento e ficam nos efluentes. Com isso, o uso das enzimas resulta em maior eficiência para o tratamento destes efluentes que ficam com corantes.
Já na indústria papeleira, Dillon acrescenta que os agentes biológicos pesquisados têm a capacidade de quebrar moléculas orgânicas responsáveis pela poluição da água, sendo uma tecnologia alternativa porque se usa uma quantidade menor de químicos:
– A qualidade do papel é medida pela brancura e brilho e, para alcançá-los, é necessário retirar a lignina (resíduos), que causa o escurecimento do produto. Atualmente, a remoção completa dela por via química emprega compostos de cloro, o que resulta na produção de efluentes extremamente tóxicos ao meio ambiente.
COMO FUNCIONA O PROCESSO
1. Durante o cultivo do fungo Pleurotus sajor caju são adicionadas concentrações de metais (cobre, ferro, alumínio, zinco, níquel e cromo).
2. O fungo, na presença de altas concentrações de metais, potencializa a secreção de enzimas que podem ser utilizadas para descorar ou degradar substâncias presentes nos efluentes de indústria têxtil ou de papel. As enzimas oxidam estas substâncias por retirada de elétrons que são transferidos para o oxigênio com a formação de água.