Nem os menos otimistas imaginariam que uma ciclovia de 700 metros pudesse ser alvo de discórdia. Há pelo menos sete meses, na prática, e há mais de dois anos, no projeto, a obra na Avenida Arthur Perottoni, tornou-se o centro de uma polêmica no bairro de Forqueta, em Caxias do Sul. Desde a inauguração, em abril deste ano, moradores contrários à ciclovia e a Secretaria Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMTTM) tentam achar uma solução que satisfaça a todos. Até agora, porém, nenhum acordo foi firmado.
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O projeto é polêmico porque a avenida é o principal acesso para quem chega ao bairro via ERS-122. Para a instalação do espaço destinado aos ciclistas, a Arthur Perottoni teve o estacionamento de um dos lados (o esquerdo, no sentido de quem entra no bairro) retirado. A última proposta da Associação de Moradores (Amob) Forqueta para a prefeitura, já apresentada em reunião com a SMTTM, é que o estacionamento na ciclovia seja liberado de segunda-feira até o sábado ao meio-dia, restando o sábado à tarde e o domingo para uso exclusivo dos ciclistas. A liberação para bicicletas também se estenderia para feriados.
– Tem mercado e farmácia que ficaram sem os estacionamentos por causa da ciclovia. O que a gente quer é que seja regulamentada esta situação – afirma o tesoureiro da Amob, Carlos Vetorazzi.
A polêmica envolvendo a obra é tão grande que já houve manifestações no local, em dezembro do ano passado _ na ocasião, frases como “fora ciclovia” foram rabiscadas com tinta azul sobre um dos trechos. Meses antes, um abaixo-assinado com a participação de mais de 200 pessoas reclamava da proibição de conversões e retornos de veículos ao longo da avenida.
– Não é que a gente seja contra a ciclovia ou contra os ciclistas, mas achamos que o estacionamento deve ser liberado em algum horário. Na verdade, ela (ciclovia) é pouco utilizada, vemos um ou dois ciclistas por dia usando– diz a comerciante Greice Onzi, que gerencia um estabelecimento na avenida.
A artesã e fotógrafa Fabiana Rodrigues é ciclista e mora em Forqueta. Ela discorda da proposta de mudança: para Fabiana, a ciclovia deve manter a sua característica original de ser exclusiva para os usuários de bicicleta.
– O nosso bairro é minúsculo, não tem a necessidade de estacionar em cima da faixa. O ciclista anda de bicicleta de segunda a segunda. E a ciclovia é um meio de a gente poder pedalar com segurança. Meu marido, inclusive, já foi atropelado três vezes e duas delas dentro de Forqueta – comenta.
COMUNIDADE
População: 3.704* habitantes.
Região: Oeste.
Iluminação: há algumas ruas com falta de iluminação adequada, conforme os líderes comunitários.
Educação pública: moradores da comunidade são atendidos pela Escola Estadual José Generosi e pela Escola de Educação Infantil Aurora Milesi Rizzi. A amob solicita que seja dada mais atenção aos moradores do bairro na distribuição das vagas para a creche. Segundo a presidente da associação, Margarete Capitani, crianças de outros bairros são atendidas na escolinha de Forqueta, dificultando o atendimento para moradores do próprio bairro.
Transporte: não há reclamação por parte da amob.
Lazer: uma das áreas de lazer visitadas pela reportagem no dia 8 de dezembro estava em situação precária: uma das goleiras estava caída e água e barro se acumulavam sobre uma pista de skate.
Saúde: o bairro possui uma unidade básica de saúde (UBS) localizada na Rua Alcides Lazzari.
*Conforme censo de 2010 do IBGE.
Investimento
A instalação da ciclovia fez parte do projeto de revitalização da Avenida Arthur Perottoni, que incluiu ainda drenagem, iluminação, repavimentação e paisagismo e foi entregue à comunidade em abril. A obra completa foi orçada em R$ 2,5 milhões.
O que diz a prefeitura
O secretário de Trânsito, Transportes e Mobilidade, Manoel Marrachinho, afirma que a proposta da Amob de Forqueta, que sugere usar a ciclovia para estacionamento em dias úteis e no sábado de manhã, está tramitando na área técnica da pasta. Por enquanto, a ciclovia segue para uso exclusivo de ciclistas em tempo integral.
Travessia perigosa na ERS-122
Uma solicitação que se arrasta há anos em Forqueta é a colocação de uma sinaleira ou outro dispositivo que torne mais seguro o acesso ao bairro pela ERS-122. Para entrar na localidade, os veículos precisam parar em um recuo no meio da rodovia. O problema é que em horários de pico, uma grande fila se forma, e os motoristas têm dificuldade de fazer a travessia, aumentando o risco de acidentes ou de “esbarradas”, como os próprios moradores definem. A região é bastante movimentada também porque absorve o fluxo de veículos que segue em direção a Mato Perso, via Farroupilha.
– Piora nos domingos à tarde, quando o pessoal começa a vir do Parque das Águas. Quem quer entrar em Forqueta, tem de ficar um tempão esperando para atravessar, às vezes mais de meia hora – reforça a presidente da Amob, Margarete Capitani.
A necessidade já foi, inclusive, motivo de protesto em 2013, quando moradores e lideranças políticas chegaram a bloquear a via por mais de 20 minutos pedindo respostas a solicitação. Entretanto, o pedido segue sem perspectiva de ser atendido.