O domínio dos presos na Penitenciária Industrial de Caxias do Sul provoca uma rotina de agressões e extorsões. Para sobreviver e até usar as camas, o detento precisa pagar. A rotina afeta os familiares, que se esforçam para repassar dinheiro que garanta a segurança do apenado. Presos que não têm alguém no lado de fora acumulam dívidas que precisarão ser quitadas quando voltam às ruas. Geralmente, esse pagamento é feito com a realização de outros crimes como transportar drogas ou participar de roubos.
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Por esse motivo, o foco das extorsões são os viciados em drogas, que correspondem a 80% dos apenados que cumprem pena na cidade, de acordo com a juíza Milene Rodrigues Fróes Dal Bó, da Vara de Execuções Criminais. Recolhidos com traficantes e com uma oferta variada de crack, cocaína e maconha, eles cedem à pressão. A magistrada define a situação como o calcanhar de Aquiles da execução penal.
Uma mãe de um apenado relata esse problema:
– O meu filho caiu lá pelo vício. Errou e está respondendo pelo que fez. Só que há um mundo de droga lá. Eles deixam traficante com drogado. Uma pessoa que não teve tempo para fazer um tratamento e os outros que ficam oferecendo e pressionando. Quando percebe, a dívida é alta. Daí começam as ameaças, os castigos e as surras. Eles machucam bastante – relata a mãe de um apenado.
A mulher, que pede o anonimato para não sofrer represálias, diz que o pai abandonou a família quando o filho tinha 16 anos. O vício do jovem em crack começou aos 18 anos em razão das más companhias. A mãe só ficou sabendo quando veio o pedido de socorro.
– Foi em um Dia das Mães que nunca vou esquecer. Ele chegou em casa e disse que estava nas drogas. Pedia que eu ajudasse, que o tirasse daquela vida. Ele já ficou internado várias vezes, ficou um tempo longe das drogas mas acabou voltando (ao vício). Culpa desses “amigos” que vinham atrás. Eu avisava que esses caras não prestavam, mas ele respondia “eu é que sei” – lembra.
A prisão do rapaz ocorreu em 2014, durante uma tentativa de roubo.
– Foi muito triste. Me ligaram da delegacia. Foi um choque. Ele não precisava (roubar), mas como o policial me disse naquele dia, quando eles estão com a maldita droga na cabeça não sabem o que estão fazendo – lamenta.
A mãe já perdeu as contas de quanto dinheiro repassou para o filho dentro do presídio. Ela afirma que foram milhares de reais para pagar dívidas de drogas e a segurança do rapaz. Ela garante que o filho não usa celulares lá dentro e não paga por nenhum benefício. Por isso, sempre dorme no chão do presídio.
– Pago é para evitar agressões ou que ele seja enviado para o castigo (cela de isolamento). Eles ficam por dias lá até que um familiar pague alguma coisa. Eu tenho medo que matem ele e passem impune – relata.
Na reta final do cumprimento da pena, a mãe teme que a pressão ocorrida lá dentro atrapalhe a vida dele no lado de fora. Outras visitas da Pics contam histórias de presos novatos que continuam ligados ao crime por dívidas contraídas no presídio.
– Como é que deixam um presídio com tantos presos ser dominado desta forma? Eu vou duas vezes por semana lá e vejo. A gente é obrigada a respirar aquele ar da maconha. A gente vê eles passando a droga um para outro. Usam tudo na nossa frente. Não respeitam nada – questiona a mulher.