O sistema de prefeituras de galeria é uma estratégia antiga em presídios. Para a direção das casas, é uma forma de comunicação com os detentos, capaz de evitar conflitos e separar facções rivais. Na Penitenciária Industrial de Caxias do Sul, esse sistema virou uma forma de domínio e enriquecimento de líderes criminosos.
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O descontrole atual teve origem na primeira galeria, dominada por apenados que não pregam a disciplina. O problema não é tão escancarado na segunda galeria, onde estão traficantes mais experientes.
– A primeira galeria é só a chinelagem. Eles não estão nem aí. Não respeitam (os representantes da Susepe) e não cobram nada dos outros presos. É uma bagunça e não temos o que fazer. Para restabelecer a ordem, teríamos mandar eles andarem (transferência). Ou haverá confrontos e rebelião – revela um agente penitenciário.
Entre as tarefas da prefeitura estaria recolher os presos para a cela após o horário de sol. Desta forma, os agentes da Susepe não precisam se expor. Como não há controle por parte da direção da Pics, os detentos recusam fechar a galeria e estendem o horário para além das 20h.
– Na primeira galeria, todas as celas ficam praticamente abertas. Imagina quase 300 presos no corredor – relata o agente.
Outro desaforo: as celas de isolamento estão sob o domínio dos detentos. Esses locais são usados para detentos ameaçados, envolvidos em brigas e que foram flagrados com celulares ou drogas, por exemplo. Quem deveria determinar a medida é a direção da cadeia, mas são os detentos que usam o espaço quando desejam castigar quem está em dívida.
– A prefeitura determina e o detento pede para ir para o isolamento. Sabemos que é por ameaça dos outros, mas eles não relatam. Não dizem que estão indo porque estão em dívida – aponta um agente.
SAIBA MAIS
- Idealizada para possibilitar o trabalho de apenados, a Penitenciária Industrial há tempos virou apenas mais um presídio superlotado no sistema prisional gaúcho.
- A estrutura é dividida em duas galerias e um anexo feminino. Projetadas para quatro presos, as celas recebem até 16 detentos. Até ontem, a população carcerária era de cerca de 630 presos. A capacidade de engenharia é para 298.
- A separação dos apenados é decidida conforme a origem. Criminosos da Zona Norte, por exemplo, ficam na primeira galeria. Caso o preso não seja aceito, é transferido de galeria ou de presídio. Traficantes e detentos da Zona Sul são acomodados na segunda galeria. A estratégia foi criada para evitar conflitos e mortes.
- Um código informal de conduta prega que os problemas entre presos têm de ser resolvidos dentro do presídio. Por isso, é raro algum apenado registrar ocorrência ou relatar agressões. Quando necessitam de atendimento médico, eles inventam que caíram da cama ou que sofreram algum outro acidente.