Entre as lembranças de uma tarde de terror, a família Guimarães começa a reerguer a vida que restou após o temporal que castigou Nova Petrópolis na última segunda-feira. A casa onde moravam Mari, 43 anos, seus filhos Maurício e Luiza, 17 e 15, e o neto Caio Gabriel, 1 ano, filho de Luiza, foi uma das duas destruídas pelo deslizamento de uma encosta na Rua Garibaldi, bairro Pousada de Neve. Ontem, a funcionária da Cooperativa Piá tratava do aluguel de uma nova casa para a família morar, pois a antiga moradia ainda corre risco de desabar por completo.
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Tendo perdido praticamente todas as roupas, móveis e utensílios domésticos, os Guimarães têm contado com a solidariedade para reconstruir o que for possível e seguir em frente. Muitas doações já foram feitas e estão estocadas na casa de um vizinho, que também ofereceu poso nos últimos dias. Com a expectativa de estarem alojados na nova casa até sábado, será possível ter com mais clareza a noção do que ainda precisam para se restabelecer.
– Recebemos muitas roupas e calçados femininos e bastante comida. Ainda precisamos de roupas masculinas e alguns móveis, mas só nós próximos dias a gente vai poder saber melhor o que está faltando. Apesar do alívio de ninguém ter se ferido gravemente, foi uma perda muito grande. Porque a genta passa a vida trabalhando para ter alguma coisa e de repente uma chuva passa e leva tudo embora – lamenta Mari, que complementa a renda do emprego com serviços de doméstica.
Genro de Mari, Uilian Vicente, 25, também funcionário da Piá, estava na casa na hora da catástrofe – por volta das 15h – e ainda tenta entender como conseguiu sobreviver ao desmoronamento total da parte de trás, a mais atingida. Soterrado entre os escombros até a cintura, foi preciso que os bombeiros o resgatassem. Com diversos machucados nas pernas, o jovem conta ter pensado que conseguiria rever a família.
– Eu só conseguia pensar no meu filho (Diego, 2 anos, o outro neto de Mari) e gritar por socorro. Quando conseguiram me tirar, tive a sensação de escorregar direto para a ambulância. Foi quando me acalmaram e disseram que estavam todos bem – relata.
Ao lado da casa da família Guimarães, também foi atingida e está interditada a moradia onde vivia uma senhora chamada Ivete Naisinger, com dois filhos. Eles estão refugiados na casa de parentes, mas também terão de se mudar e precisam de ajuda.
Interessados em oferecer doações podem entrar em contato pelos telefones (54) 8109.6345 (Mari) e (51) 9916.7262 (Ivete), ou com a Defesa Civil de Nova Petrópolis (54) 3281.4526.
Mudança forçada pelo risco
Foi por detalhe que a casa da doméstica Normélia Ramos, 56 anos, não foi a terceira atingida na vizinhança da Rua Garibaldi. Imediatamente ao lado das duas casas destruídas, a residência onde Normélia vive com o marido, os filhos e a neta, também foi interditada por risco de desabar em caso de novos deslizamentos de terras. Sem querer esperar pelo pior, a família já providenciou a mudança.
– A terra destruiu a horta e ficou acumulada até a altura da janela, encostada na casa. Como a terra está solta e ainda pode descer mais, os bombeiros resolveram interditar. Na mesma noite, fui dormir na casa da minha cunhada, aqui perto. E agora estamos encaixotando as últimas coisas para nos mudarmos para outra casa – explica.
Além do susto, a doméstica lamenta o prejuízo ocasionado pelo temporal.
– Foi um sacrifício enorme para comprar essa casa, e agora vou ter de pagar R$ 600 por mês de aluguel. Pelo susto, a gente sabe não vai mais conseguir voltar pra cá. E mesmo se for pra alugar pra alguém, só quando houver garantia de que não há risco nenhum disso tudo se repetir – diz Normélia, entre chateada e conformada diante da situação ainda pior que os vizinhos atravessam.
SITUAÇÃO NOS OUTROS MUNICÍPIOS
São Sebastião do Caí
:: Levantamento da Defesa Civil municipal contabilizou, até as 16h de quinta-feira, 1.750 pessoas desalojadas em função da cheia do Rio Caí. Destas, 210 (65 famílias) estão abrigadas no Parque Centenário e o restante, na casa de parentes.
:: 2.350 imóveis foram inundados, sendo que 125 casas foram danificadas e três, completamente destruídas.
:: Os prejuízos com a enchente chegam a R$ 15 milhões (incluindo estradas, agricultura e infraestrutura urbana danificadas), conforme o coordenador da Defesa Civil na cidade, Pedro Griebler.
:: Com as águas do rio estão baixando, o coordenador estima que as famílias possam voltar para casa na manhã de sábado.
:: Os desalojados estão necessitando da doação de materiais de limpeza (água sanitária, vassoura, panos, sabão...), alimentos, colchões, roupas de cama (lençóis, cobertores, travesseiros) e toalhas. Não são necessárias roupas (há bastante em estoque). O material pode ser entregue na Secretaria de Assistência Social (Rua Ari Baierle, 177). O telefone é o (51) 3635.2534.
Bom Princípio
:: Todas as seis famílias que estavam desalojadas, conforme o coordenador da Defesa Civil municipal, Paulo Portinho, já voltaram para suas casas ontem, com a baixa das águas do Caí e do Arroio Forromeco.
:: A cidade, que estima um prejuízo superior a R$ 8 milhões, já decretou situação de emergência, principalmente devido aos estragos na fruticultura.
:: Por enquanto, a Defesa Civil diz que não são necessárias doações.