Toda vez que assistia ao irmão dançar nas apresentações artísticas do CTG, Elisabeth da Rocha, a Beth, acompanhava e tentava imitar os movimentos das prendas do lado de fora do tablado, onde encontrasse espaço. Embora alguns passos executasse apenas na imaginação, sabia que um dia teria a chance de se divertir no palco e ser aplaudida, como é sonho de qualquer adolescente. Aos 16 anos, Beth superou a limitação imposta pela malformação da coluna, que a obrigou a andar de cadeira de rodas, e se tornou um exemplo de vida para a comunidade de Conceição da Linha Feijó, interior de Caxias, que neste sábado a terá entre as concorrentes do concurso de prendas da localidade.
Para dançar a folclórica Maçanico, Beth terá a companhia do irmão e incentivador André, 13. Foi o menino quem fez as adaptações para que a irmã pudesse fazer os movimentos no seu próprio tempo, sem perder o compasso da música. Os quatro passos viraram dois, que antecedem o giro, também adaptado. Para ganhar agilidade, a cadeira de rodas motorizada do dia a dia dá lugar ao modelo convencional, mais leve. Há três meses, desde que a menina recebeu o convite para participar da mostra artística, os ensaios duram uma hora por dia.
_ A Beth recebeu o convite e a resposta dela não foi "sim", foi "claro que sim!". Ela sempre gostou muito de música, foi só o trabalho de fazer as adaptações. A família de uma pessoa com deficiência aprende a cada dia uma coisa nova. Cada vitória nos surpreende _ emociona-se a mãe, Sandra da Rocha, 49.
A acolhida dos dançarinos do CTG Chegando no Rancho à menina foi instantânea. Mesmo entre as outras duas concorrentes na categoria adulta do concurso do Prendado, que chegaram a ser consultadas sobre a participação de uma candidata que poderia largar em vantagem por uma possível comoção do júri (embora a dança tenha valor menor na avaliação do que as provas sobre cultura gaúcha). Nenhuma viu qualquer problema.
_ A gente vê a Beth como a pessoa comum que ela é. Sábado, vai ter que dançar e responder sobre as lendas sem qualquer vantagem ou benefício. Se tem uma coisa que ela tem de diferente é uma alegria muito grande, que faz a gente pensar duas vezes antes de reclamar de qualquer problema _ diz André Antunes, 37, coordenador cultural da entidade e autor do convite para Beth participar do concurso.
À vontade entre as dezenas de novos colegas que a veem como um exemplo de otimismo e força, Beth diz estar tão feliz no meio tradicionalista quanto é na escola, onde toca xilofone na banda marcial.
_ Gosto bastante das meninas daqui, tenho uma convivência tão boa quanto a do colégio. O convívio é parelho. Está sendo uma experiência tão legal que não quero parar por aqui. A próxima dança que quero aprender é a Rancheira.