A crescente criminalidade em Caxias do Sul, que já soma 123 assassinatos – marca próxima a registrada em 2012, ano mais violento da história da cidade, quando 134 pessoas foram mortas –, reflete diretamente na rotina de toda a população. Cada vez mais pessoas evitam sair de casa e, quando saem, convivem com o medo de ser a próxima vítima de qualquer tipo de crime, já que assaltos e arrombamentos também crescem diariamente. Para encontrar o caminho da paz, almejada por tantos caxienses, a receita adotada em alguns bairros é simples: unir os vizinhos e formar uma rede de vigilância comunitária, além de usar a tecnologia como arma de proteção.
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Cansados de conviver com a falta de policiais e problemas estruturais, moradores apelam a grupos no WhatsApp, aplicativo por onde são repassadas informações de qualquer movimentação estranha ou pessoas suspeitas nas ruas de determinados bairros. A iniciativa garante ao menos uma sensação de segurança maior, já que a Brigada Militar (BM) não consegue realizar um policiamento constante em toda a cidade.
Em bairros como Villagio Iguatemi, Colina Sorriso e Cinquentenário, por exemplo, a rede já teria conseguido reduzir os índices de violência locais.
– Ainda não se pode comemorar esse resultado, mas cerca de 70% das ocorrências diminuíram. Estamos de olho o tempo todo, já são 11 grupos aqui no bairro. Posso dizer que agora até temos mais qualidade de vida, por conviver um pouco menos com a insegurança – conta Eduardo Soares Rodrigues, morador do Cinquentenário.
Moradores do Loteamento Vinhedos, nas proximidades dos pavilhões da Festa da Uva, também viram na criação da rede de vigilância colaborativa a única saída para coibir a abordagens dos criminosos. Eles criaram o grupo Vizinhança em Alerta – Estamos de Olho em Você. Os integrantes decidiram pedir socorro porque a região da Avenida Honeyde Bertussi e arredores tem sofrido com a crescente onda de crimes. Uma reunião na sede da Associação de Moradores do Bairro (Amob) formou uma comissão e mapeou as ruas com mais ocorrências, para depois protocolar o pedido de uma base de policiamento comunitário.
– Precisamos agir e cobrar mais segurança. É visível o aumento dos crimes no bairro, e nada efetivo tem sido feito – conta Roberto Carlos Dias, morador do Vinhedos e organizador do grupo no Whatsapp com Leonardo Appio, Lucas Cemin Zanotti e Pablo Luis Adami, que já foi vítima de bandidos no bairro.
O projeto pode ser recente e ainda pouco disseminado, mas essa estratégia contribui na integração dos moradores, um detalhe fundamental para ampliar o senso de comunidade e estratégias de pacificação. Para especialistas em segurança, grandes cidades como Caxias do Sul favorecem o isolamento de pessoas, fazendo com que muitas famílias apelem a muros e cercas para se sentir seguras. A busca por proteção impede que vizinhos convivam ou até mesmo se conheçam. Na contramão, unir forças é o primeiro passo.
– O principal objetivo é nos comprometermos com a segurança do nosso bairro, mas acabamos conquistando outros avanços: criamos um espírito comunitário e conquistamos uma relação de confiança entre vizinhos e os policiais – explica Rodrigues, que já recebeu ligações de moradores de outros bairros interessados em conhecer a estratégia adota pelas redes.