Diante das denúncias de maus tratos na Soama, de Caxias do Sul, há 15 dias a médica veterinária Ana Caroline Rossi, contratada pela prefeitura, frequenta a Soama em horários esporádicos para acompanhar o serviço. A profissional não atende aos animais, apenas acompanha o serviço para traçar um diagnóstico. Trabalho semelhante ocorreu na Associação Caxiense de Proteção aos Animais São Francisco (APAS), que resultou em notificação quanto às novas normas de proteção e bem-estar dos animais.
– O lugar é úmido, tem piso irregular. Às vezes falta vacina, falta seringa. Noto que todos se viram como podem e percebo todos com muito carinho pelos animais. A coisa está funcionando do jeito que dá – avalia Ana Caroline.
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Se por um lado nas redes sociais pipocam imagens de animais supostamente vítimas de maus-tratos, a Soama se defende dizendo que a estrutura atual é precária para o grande número de animais e os problemas de saúde enfrentados por parte deles. Segundo a diretora de marketing, Natasha Oselame Valenti, como a Soama fica em área pública e recebe dinheiro do município de Caxias do Sul, é comum a entidade ter de acolher mais bichos a pedido do próprio município – ainda esta semana chegariam mais 15, que estavam sob a guarda de uma protetora.
– Vamos ter que arrumar lugar para mais esses 15. O tempo inteiro alguém nos obriga a recolher. Se a prefeitura e outros órgãos não confiassem na gente, mandariam mais animais para nós? – questiona.
Protetores também questionam o modelo adotado na Soama: muitos animais vivem acorrentados às casinhas. Natasha concorda que não é a situação ideal para um animal, mas rebate:
– Um abrigo nunca vai ser a casa de alguém. As pessoas estão nos criticando porque os animais estão em correntes, mas quantos animais em Caxias estão presos? É desumano ver cachorro em corrente, mas e cavalo puxando carroça? As pessoas têm que entender que estamos tentando dar uma segunda chance a esses animais.
A diretora de marketing também explica que a Soama tem feito o possível para atender os animais e aponta o abandono e o preconceito em relação a animais vira-latas, mais velhos e de porte médio a grande como motivos para aumento da população da chácara. Ela também nega a acusação de que a entidade recebe grandes montantes de verbas internacionais – afirma que não recebem mais do que R$ 1 mil a cada três meses via PayPal.O único veterinário da Soama diz que tem recebido ameaças desde que as denúncias contra a ONG começaram:
– Tem muito mais melhora do que piora de animais, mas focaram nos animais com problema – lamenta, pedindo para não divulgar seu nome, temendo novas ameaças.
A MGDA, autora da ação civil pública contra a Soama, quer o afastamento da atual diretoria e a criação de uma comissão de transição ou um interventor. A MGDA indica o nome de quatro pessoas que integrariam essa comissão provisória, parte delas ex-voluntárias da Soama, mas pondera que o juiz indique outras se não julgar os nomes adequados.
– Não posso acreditar que vai se manter aquele campo de concentração animal estimulado pelo poder público – afirma a advogada do MGDA, Sandra Royo.
Claudia Tormes, 29 anos, uma das voluntárias que diz ter atestado maus-tratos e que procurou a MGDA, diz que há anos procurava a direção da Soama para pedir providências. Entre os problemas, relata ter visto animais com tumores e até com unhas compridas demais, que se dobravam e encravavam na pele.
– Fomos verificando os problemas e chamando a atenção, porque a primeira coisa não é partir para a agressividade. Só que não vimos nenhuma ação ser tomada – assegura.
Desde maio, imagens de animais feridos que seriam da Soama têm circulado nas redes sociais e causado revolta entre internautas. Segundo Natasha Oselame Valenti, desde então as doações diminuíram, o que tem prejudicado ainda mais o trabalho da entidade.
–As fotos são reais. Tiraram fotos de doentes em tratamento. Essas pessoas sabem se os bichos estão melhor, se não chegaram assim na Soama? Claro que as fotos chocam, mas esse é o calcanhar de Aquiles para prejudicar uma ONG – avalia.