É consenso entre lideranças políticas, empresariais e comunitárias a necessidade de debater soluções para os motivos que têm afugentado famílias do convívio na Avenida Júlio de Castilhos, em Caxias do Sul. Quem mora, trabalha ou frequenta a área central para lazer vê diversas soluções. Faltaria, portanto, é alguém que lidere esse movimento.
Moradores e comerciantes ouvidos na segunda pela reportagem pedem mais policiamento e a presença da Guarda Municipal. Também defendem uma iluminação pública eficiente para desestimular o consumo de drogas e assaltos, conforme o Pioneiro mostrou na edição de ontem. Por outro lado, a rede de proteção social deveria redobrar a atenção com os moradores de rua, mulheres e travestis que se prostituem. A necessidade de atrair o público para Júlio depende também de mudanças na estrutura da avenida, que não possui áreas de convivência, e até mesmo abertura das lojas do comércio até mais tarde.
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O diálogo é demorado mas se faz necessário, conforme o presidente da Comissão de Direitos Humanos, Cidadania e Segurança da Câmara de Vereadores, Rodrigo Beltrão (PT).
– Nós não temos que fazer uma faxina no Centro, só migrando estas pessoas para outros pontos. Precisamos de uma grande revitalização na Júlio, com projetos eficientes. Temos a situação do Largo da Estação Férrea: com a presença da prefeitura, a comunidade se adonou e resolveu os problemas de lá, que eram muito semelhantes – compara.
A Avenida Júlio de Castilhos deverá ser pauta dos próximos encontros da comissão presidida por Beltrão e também da Comissão de Desenvolvimento Urbano, Transporte e Habitação, liderada pelo vereador Edson da Rosa (PDMB).
– Ser ambulante é uma nova forma de ganhar a vida. A câmara está aí para discutir a viabilidade disso, os lados positivos e negativos – defende o vereador Edson.
Na segunda, os presidentes dos bairros Centro e São Pelegrino, Marco Antônio Doncatto e Antíoco Sartor, combinaram encontro para fortalecer a cobrança por iluminação e segurança nos bairros. O secretário de Planejamento Gilberto Boschetti reconhece a importância deste tipo de debate, mas adianta que não há nenhum projeto imediato que provoque mudanças significativas na Júlio.
– Existem discussões que vão desde o nível de luminosidade da via até a abertura do comércio depois das 20h. Quem sabe unindo-se ao setor privado, espaços de convivência sejam desenhados na Júlio e ela possa se reinventar – acredita.
"Ruas precisam ser atrativas e seguras", diz arquiteto
Para o arquiteto e urbanista Rodrigo Romanini, não existe uma solução milagrosa para mudar o cenário da Júlio de Castilhos do dia para a noite. Investir em lazer e torná-la mais segura seriam as mais urgentes e viáveis, segundo ele. Romanini não vê degradação na avenida, mas acredita que a via poderia ser ocupada de melhor forma. Os fatores que afastam famílias, como a presença de viciados em drogas, travestis, prostitutas e moradores de rua, poderiam ser evitados se o espaço fosse mais movimentado.
– Não adianta falar de urbanismo se não falarmos de segurança. Policiamento constante é essencial, claro, mas a movimentação de pessoas ajudaria a impedir crimes e constrangimentos, por exemplo. O comércio aberto à noite poderia ser bom também, como forma de deixar a rua mais atrativa para circular. A população precisa se apropriar da avenida – argumenta.
Uma das sugestões de Romanini é a criação de uma ciclovia na Júlio, em dias específicos:
– Precisaríamos rever o trânsito, obviamente. Temos uma cultura de dar preferência para o carro, de ter ônibus passando por todas as ruas, mas aí esquecemos das pessoas. Não adianta ter ciclovia lá na perimetral se a população quer estar no Centro, um espaço tão rico, cheio de história, que não pode ser esquecido.O arquiteto acredita que o poder público tenha projetos para revitalizar e para tornar a Júlio de Castilhos um espaço melhor. Mas, segundo ele, as burocracias e a falta de iniciativa barram as ações.
– É necessário que tenhamos um órgão de planejamento que faça acontecer. Em cidades da Europa é possível ver pessoas, trens e carros dividindo espaços. Aqui pode ser possível também.