Cansados de ver carros estacionados sobre as faixas de segurança ou de forma irregular pela cidade, os amigos Andre Paniz e Ricardo Comandulli resolveram pensar em uma maneira de fazer com que motoristas não cometam - ou comentam menos - infrações de trânsito. Por três anos, eles analisaram ideias e, recentemente, procuraram Maurício Bettinelli para desenvolver o aplicativo Na Rua. No programa, disponível gratuitamente para download para iOS ou Android desde o início do ano, o usuário pode fotografar infrações e publicá-las para que sejam visualizadas pelos demais. A ideia, de acordo com Comandulli , é inibir o infrator e educá-lo.
– Queremos que muitas pessoas vejam que a ação do motorista está errada e, com isso, forçá-lo a não repetir o erro. Também pode ser uma forma de aprendermos com os equívocos dos outros – acredita.
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Ao baixar o aplicativo, o usuário deve se cadastrar (com nome e e-mail) ou se conectar via rede social. Depois, pode publicar infrações e ver as imagens postadas por outras pessoas. É preciso contar onde a foto foi tirada, descrever a cena, além de classificá-la entre nove infrações: transporte incorreto de crianças e animais, direção perigosa, descarte incorreto de objetos, deixar de prestar socorro à vítima, estacionar de forma irregular, não dar passagem à veículos de urgência, veículos com falta de sinalização, perturbar com som alto e transporte de carga de forma irregular.
A ideia do trio, de acordo com Paniz, não é expor os motoristas que descumprem as leis, embora muitas fotos já publicadas, de usuários de Niterói (RJ) e Ribeirão Preto (SP), por exemplo, mostrem as placas dos veículos. Paniz acrescenta, porém, que não há como interagir com as publicações postadas, seja curtindo ou comentando:
– Não é para xingar o motorista ou brigar pelo aplicativo. Usar o Na Rua é ser um fiscal do trânsito, é querer que a gente se sinta mais seguro pelas ruas.A cada publicação no programa, o usuário acumula pontos, que futuramente poderão gerar prêmios, segundo Bettinelli.
A ideia é que empresas se engajem no projeto e ofereçam descontos e serviços a quem postar infrações no Na Rua. O trio também pensa em compartilhar as informações postadas na ferramenta com órgãos de fiscalização de trânsito, para que possam ser usadas como provas para possíveis multas.
Para multar, fiscal precisa presenciar infração
A ideia de compartilhar os dados publicados no Na Rua com órgãos de fiscalização é interessante, mas não é viável, segundo o diretor-geral da Secretaria de Trânsito, Transportes e Mobilidade, Carlos Roberto Noll. Ele explica que o fiscal só pode multar o motorista ao presenciar e comprovar uma infração.
– Não é possível receber uma foto e, com isso, multar. Mas as pessoas que fotografarem para compartilhar no aplicativo podem, também, ligar para a secretaria para relatar a infração. Com essas informações, o fiscal pode conferir e, se for o caso, multar. É o mesmo que já acontece com as denúncias feitas por telefone – esclarece.
Noll, mesmo desconhecendo a nova ferramenta criada pelos amigos caxienses, acredita que a ideia pode ser benéfica para a população:
– Se todos ficarmos atentos ao que acontece de errado no trânsito, para inibir as infrações, triplicaríamos o número de fiscais. A crítica social é capaz de mudar comportamentos. Tudo o que colabora para termos mais segurança no trânsito é válido.