Se as entidades assistenciais de Caxias do Sul enfrentam uma grave crise com a queda de doações, a falta de repasses do governo federal para o Banco de Alimentos agrava a situação. Neste ano, o município deixou de receber R$1,19 milhão para a compra de alimentos. Desde abril, quando terminou o recurso liberado em 2015, o Banco de Alimentos teve uma redução de 40 toneladas por mês. Isso é mais da metade do que era distribuído para as 101 instituições como escolas, cozinhas comunitárias e centro educativos, entre outros.
– Nós trabalhávamos com 70 toneladas por mês e hoje, temos apenas 30, que chegam até nós apenas por doações. A crise econômica também fez aumentar a procura por alimentos, o que faz crescer a nossa demanda. Por sorte, ainda estamos conseguindo atender o mesmo número de pessoas carentes, mas, obviamente, fomos obrigados retirar da lista os alimentos que não temos como comprar – afirma Assis Ferreira Borges, coordenador do Banco de Alimentos.
De acordo com a diretora de Inclusão Social da Segurança Alimentar e Inclusão Social de Caxias, Janete Tavares, a justificativa do governo federal é de que o houve um problema no sistema de informática que libera a verba aos municípios cadastrados no programa. A fusão dos ministérios do Desenvolvimento Social e do Desenvolvimento Agrário, em maio, também pode ter piorado a situação.
– Estamos sem saber o que fazer. O município cumpriu com toda a burocracia, teve o orçamento aprovado, mas não recebeu o recurso. O governo federal alega problemas no sistema, já que o cadastro do programa é totalmente informatizado. Enquanto isso, a gente tenta fazer o possível e o impossível. Não é só Caxias que está sofrendo com a falta dos recursos, é o Brasil inteiro. Quanto mais a verba demorar, mais consequências teremos, isso é inevitável – afirma ela.
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– A verba que recebíamos do governo federal era para comprarmos alimentos dos pequenos agricultores, que fazem parte do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Sem esse recurso, sobrevivemos das doações. Hoje, nos faltam verduras, legumes, feijão, arroz, farinha de trigo e frutas – conta Daiane Sgorla, nutricionista da instituição.
Cardápio minguou no Esplanada
No cardápio da janta da quinta-feira, preparada na cozinha comunitária da Escola Municipal Basílio Tcacenco, no bairro Esplanada, apenas o essencial: massa, pedaços de carne, poucos legumes e alguns temperos. As frutas e verduras que antes faziam parte da refeição, hoje não são mais oferecidas.
– Já faz dois meses que não temos alimentos de hortifrutigranjeiros para entregar às famílias carentes. Na verdade, fazemos milagre aqui – conta a cozinheira Joceli Perussatto, que há 10 anos prepara as refeições.
A cozinha do Basílio funciona desde 2003 e atende famílias em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar e nutricional do bairro e também alunos carentes da escola. Ao todo, são distribuídas cerca de 150 viandas por dia. As outras quatro cozinhas comunitárias atendem também com contenção de despesas. Juntas, servem diariamente 745 refeições para pessoas cadastradas.
O que doar:
O Banco de Alimentos recebe frutas, verduras, legumes, frios, lacticínios, grãos, cereais, enlatados, conservas, pães, massas, carnes, suco e água. Não são aceitas refeições prontas, embalagens danificadas ou com prazo de validade vencido.
Quem quiser ajudar, pode ir até a sede da instituição, na Rua Jacob Luchesi, 3181 - junto ao Ceasa Serra, no bairro Santa Lúcia, das 9h às 12h e das 13h às 17h. No segundo sábado de cada mês, a entidade também arrecada alimentos em 40 mercados parceiros. Mais informações: telefone (54) 3211.5943.