Mal-iluminadas, muitas paradas de ônibus em Caxias do Sul se transformaram em território propício para a ação de assaltantes, que roubam e até machucam os passageiros que aguardam pelo transporte coletivo. Em abril, foram registrados 155 assaltos a pedestres em toda a cidade, sendo que destes, 16 vítimas saíram feridas. Em maio, esse número subiu para 189 (com 26 vítimas feridas), um aumento de 22%.
Não há estatísticas de quantos desses assaltos ocorrem em paradas de ônibus, mas o fato é recorrente. Há quatro dias, um estudante de 27 anos foi esfaqueado por dois criminosos na Avenida Júlio de Castilhos, em frente ao Instituto de Educação Cristóvão de Mendoza, em um ponto de ônibus do bairro Cinquentenário. Ele fugiu depois que os bandidos anunciaram o assalto, mas acabou caindo. Rodrigo de Oliveira Rodrigues teve o pulmão perfurado e passou por cirurgia.
Além do ponto próximo ao Cristóvão, outras paradas com ocorrências frequentes de roubos são a da Rua Treze de Maio, perto da esquina com a Pinheiro Machado, e na Pinheiro Machado quase esquina com Vereador Mário Pezzi. Na da Treze, Fernando Giovani Maculan, 17, foi encontrado esfaqueado às 17h30min do dia 11 de maio e morreu em seguida. O caso é investigado como latrocínio. No mesmo dia, um estudante de 15 anos sofreu uma tentativa de assalto na Pinheiro com a Mário Pezzi.
– O anonimato e a impunidade são o que impulsionam a ação criminosa. Quando o local é mal-iluminado, o bandido sabe que será mais difícil ser reconhecido – avalia o comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar, Ronaldo Buss.
A reportagem do Pioneiro fez uma blitz entre as 19h e as 21h de terça-feira em paradas de ônibus dos bairros Lourdes, Centro, Cinquentenário e na BR-116 e constatou que, em pelo menos seis pontos, pedestres e passageiros ficam em locais de iluminação precária e, em alguns, com o agravante de pouco movimento, o que facilita as ações criminosas.
Na Pinheiro Machado e Sinimbu, todas as paradas passaram pela reformulação do Sistema Integrado de Mobilidade (SIM Caxias) e ganharam lâmpadas na própria estrutura. Porém, três das que foram visitadas pela reportagem tinham as luzes apagadas. Segundo o secretário Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade, Manoel Marrachinho, a nova estrutura não comporta as antigas ligações elétricas das paradas, e a prefeitura orça com a Codeca a instalação de novas ligações elétricas aéreas. Ou seja, a maioria das 52 paradas reformuladas da área central está com as luzes apagadas.
– As ligações das paradas antigas eram precárias e algumas subterrâneas. Agora, todas as ligações serão aéreas, evitando que estraguem quando se faz um reparo na rua. Até o final de junho, esperamos ter definido como o serviço será feito pela Codeca – explica Marrachinho.
Já nas paradas dos bairros, o problema da iluminação é mais difícil de resolver e requer o consenso da comunidade. Chamados de abrigos, os pontos de ônibus não tem estrutura própria de iluminação e, segundo o secretário, foram instalados em locais onde pudessem absorver a iluminação pública. A própria estrutura do abrigo, com cobertura menor, seria para facilitar essa absorção.
– Se estes abrigos estão em locais mal-iluminados, podemos readequá-los para pontos com iluminação mais compatível, mas isso requer um grande acordo com o usuário, para que a parada não seja transferida para um local inconveniente – complementa.
BLITZ PIONEIRO
1) BR-116, nas proximidades do Monumento ao Imigrante
As paradas da BR-116 nas proximidades do Monumento ao Imigrante e da Rua Aldo Locatelli recebem iluminação indireta quem vem do canteiro central. Não há residências ou estabelecimentos comerciais e o entorno é de mato, deixando os pontos ainda mais inseguros. O reforço da iluminação acaba vindo dos faróis dos carros que passam.
– No final de semana, o medo é ainda maior, porque tem menos movimento ainda. Sabemos que, sendo mulher, os criminosos nos veem como alvos mais fáceis também – afirma a vigilante Ronielle Souza, 24 anos.
2) Rua Treze de Maio com Pinheiro Machado (bairro Lourdes)
Reformulada, a parada ganhou lâmpadas por conta do SIM Caxias. Porém, elas estão desligadas. A iluminação pública não é suficiente.
– Minha mãe já foi assaltada aqui à noite, há um mês, quando esperava o ônibus. Levaram a bolsa dela. Eu tenho medo de fazer esse trajeto a pé até minha casa. Esta rua é estreita, escura, é fácil alguém chegar e te surpreender. É uma tortura passar aqui todo dia – desabafa a diarista Rozemeri dos Santos, 49.
3) Rua Pinheiro Machado com Vereador Mário Pezzi (bairro Lourdes)
Também ganhou lâmpadas por conta do SIM, que estavam desligadas. A iluminação é melhor que a da Treze de Maio, mas a facilidade da fuga é a garantia dos assaltantes.
– Vários colegas de trabalho já foram roubados aqui. Eles (os criminosos) fogem para o bairro 1º de Maio. Eu fico meio afastada da parada, perto da esquina, onde possar olhar quem se aproxima – conta a fiscal de mercado Ana Paula Rodrigues Rosanelli.
4) Rua Pinheiro Machado com Moreira César (bairro Centro) e Pinheiro Machado com Feijó Júnior
A iluminação dos estabelecimentos comerciais dá a falsa sensação de que a parada é iluminada. Porém, quando as lojas começam a fechar, o ponto fica bem mais escuro. Durante a passagem da reportagem, as lâmpadas da própria parada estavam desligadas.
5 ) Avenida Júlio de Castilhos com Rua Teixeira Mendes (bairro Cinquentenário)
As duas paradas da Júlio em frente ao Parque Cinquentenário contam apenas com a iluminação da rua. De costas para o parque, a vegetação e os muros que seguem pela avenida deixam o lugar ainda mais na penumbra.
6) Avenida Júlio de Castilhos, entre Maria D'avilla Pinto e Ambrósio Leonardelli
Lugar de circulação de alunos e professores, os pontos de ônibus são mal-iluminados. Uma rua mal iluminada atrás das paradas ajuda a piorar a sensação de insegurança.
– Se esconder nos pontos escuros ou atrás das árvores do canteiro é fácil. Dificilmente se consegue ver se tem alguém. Não dá para ficar sozinho aqui à noite – comenta a estudante Crisciane Esquiaporto, 20 anos.