– Antes, a escola era bem morta, tinha umas paredes meio descascadas. Agora está viva.
A avaliação de um menino de apenas 10 anos resume o que aconteceu com a Escola Estadual de Ensino Médio José Generosi, estabelecimento do bairro Forqueta, em Caxias do Sul, que estava, sim, praticamente morta. No colégio onde Gabriel Mesari estuda, frestas deixavam as salas geladas no inverno, dezenas de lâmpadas estavam quebradas e paredes de madeira eram remendadas com retalhos de metal.
Graças ao esforço de voluntários, a fachada agora exibe alegres tons de amarelo e azul e reformas dão sobrevida a um prédio que parecia estar fadado à demolição. A instituição tem 76 anos e é um dos exemplos de como a comunidade pode fazer a diferença.
Leia mais
IFRS emite nota de pesar após assassinato de vigilante em Caxias
Após geada, neve e chuva congelada, frio começa a dar trégua na Serra Gaúcha
Família pede doações após ter casa destruída em incêndio em Caxias
Moradores de rua de Caxias resistem em seguir para abrigos
O protagonismo de Forqueta bate de frente com a lentidão do governo estadual. A José Generosi se encheu de esperança quando o Estado prometeu, em 2012, que ela seria completamente reformada pelo Plano de Necessidades de Obras (PNO), que nunca saiu das gavetas da administração pública. Alunos, ex-alunos, pais e professores arregaçaram as mangas, juntaram dinheiro e doações e executaram - em 17 dias - o que as autoridades não fizeram em anos.
Uma força-tarefa se formou antes deste ano letivo começar. A linha de frente é puxada pela direção e pela funcionária pública federal Denise Bampi, 42, que viveu em Forqueta por 35 anos e frequentou as salas de aula da José Generosi. Denise passa horas buscando orçamentos, solicitando serviços, tudo para que as frentes de trabalho montadas na escola não parem.
Os voluntários pintaram paredes, refizeram janelas, substituíram madeiras, calhas e vidros. Até escoteiros entraram na jogada, reformando o parquinho.
– Em cada casa de Forqueta, alguém estudou ou vai estudar nessa escola, então ela é da comunidade – entende Denise.
Reformas prosseguem
Nas últimas semanas, o telhado e a fiação elétrica foram trocados. Agora, as obras se concentram em uma ala que havia sido interditada e que vai abrigar sala de informática, laboratório de ciências e refeitório - hoje, os 500 alunos lancham em pé. Havia riscos, como de um curto-circuito, e o setor estava fechado há cerca de três anos à espera de intervenção do Estado.
Um almoço no salão comunitário do bairro, em maio, juntou o dinheiro que pagou parte das melhorias. O agradecimento a quem dedica seu tempo a reerguer a escola veio de forma simbólica: pedaços de madeira velha retirados do prédio, acompanhados de alguns dizeres, viraram significativos troféus.
– É tanta gente para agradecer que vai faltar madeira – brinca Denise.
Reforma do piso
Na João Magalhães Filho, em Caxias, uma rifa do CPM bancou a mão de obra para a reforma piso do refeitório, já que a verba do Estado pagou o material.
Comunidade construiu duas salas
Graças ao esforço comunitário, alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental São Virgílio não estudam mais em salas divididas por tapumes de madeira. Dinheiro de pais e moradores da comunidade de São Virgílio da 6ª Légua bancou duas salinhas ao lado do prédio principal. Agora, o colégio de 58 alunos tem seis salas de aula.
– Eu estudei aqui, minha filha estuda e quero que a escola fique para meus netos. O que puder fazer, vou fazer – garante Renata Zanotti Oss Emmer, 34 anos.
Falta de tempo ou de dinheiro não é desculpa. Uma campanha para que a comunidade se cadastrasse no programa estadual Nota Fiscal Gaúcha e indicasse a escola como beneficiária já rendeu frutos: com os repasses do projeto, foi erguida uma estufa para o cultivo de hortaliças. A mesma fonte bancou cobertura e pintura novas da quadra e a compra de cortinas, aquecedores e outros materiais. Para ajudar, basta se cadastrar no site do programa e informar o CPF a cada compra, já que parte da arrecadação vai para entidades cadastradas.
Uma vez por ano, o salão da comunidade é cedido para a escola fazer um evento e juntar dinheiro - o jantar do ano passado pagou a nova fiação, que era muito antiga. Além disso, pais colocaram redes acima da cerca para evitar que a bola saia na educação física - e um deles ensina capoeira dois dias por semana na escola.
– Se eu ficar em casa só reclamando, meu filho vai fazer o mesmo. Nós temos que dar o exemplo – ensina a presidente do Círculo de Pais e Mestres (CPM), Simone Catel Cadini, 45.
As vantagens vão além do material: os estudantes aprendem sobre cidadania.
– Eles começaram a ver a escola com outros olhos – pontua a diretora, Maria Ivone Caldart Sartori, acrescentando que a etapa atual prevê um telhado entre o prédio antigo e as novas salas.
Gurizada põe a mão na massa
Os finais de semana são de muito trabalho na Escola Estadual de Ensino Fundamental Abramo Randon, no bairro Madureira. É quando jovens, crianças e adultos do grupo Desbravadores, ligado à Igreja Adventista, fazem pequenas melhorias. Aos maiores, cabem trabalhos como pintura e consertos. Os pequenos ajudam com tarefas mais simples, como recolher lixo do chão. O grupo ajuda a manter a escola em dia, tarefa que seria difícil de ser cumprida pela direção apenas com a verba repassada pelo governo.
– Decidimos abraçar em função das dificuldades financeiras enfrentadas pela escola – diz o presidente do CPM, Rogério Garcia, que também integra os Desbravadores.
Com doações e empréstimo de ferramentas, o grupo mantém a grama aparada e já pintou diversas portas e paredes, além de limpar o parquinho. Outra ideia é ajudar a reinstalar a banda do colégio, com a compra de novos instrumentos e conserto dos danificados. Convocados pela diretora, moradores vizinhos também ajudaram com reparos.
No turno inverso ao da aula, alunos aprendem atividades artísticas e ajudam a deixar a escola mais bonita. É que moradores da Zona Norte promovem oficinas de dança, rima e grafite – já há desenhos enfeitando paredes, por enquanto produzidos pelos oficineiros.
_ Minha escola estava no fundo do poço _ lembra a diretora, Vera Beatriz Medeiros.
Dinheiro para quadra e área coberta
Na Escola Estadual de Ensino Médio 1º de Maio, no bairro Germânia, em Nova Petrópolis, uma campanha, batizada de Envelope Solidário, ajudou a melhorar a quadra de esportes. Antes de cimento bruto e com rachaduras, ela foi refeita e pintada. Novas goleiras foram adquiridas, e a arquibancada foi reformada.
Todos os meses, pais contribuíam com uma quantia em dinheiro. A diretora, Adriana May Marinho, diz que a ideia funcionou tão bem que os depósitos ocorriam mensalmente, sem falhar. Mais ajuda veio de bingo e rifa. Em cerca de um ano e meio, o colégio somou R$ 31,9 mil, além de pequenas doações de empresas.
– Nossa comunidade está muito feliz em alcançar seu objetivo e fazer da escola um local prazeroso para nossos educandos – comemora a diretora.
Doações de materiais feitas pela comunidade e dinheiro juntado com rifas e festinhas também melhoraram a Escola de Ensino Fundamental Padre Amstad, na Linha Imperial, também em Nova Petrópolis. Por lá, o sonho era de ter área coberta para recreio ou outras atividades. Antes de conseguirem realizar o projeto, uma lona fazia as vezes de telhado.