É em clima de guerra fria, sem conflito direto, mas com dois posicionamentos claramente divididos, que o Instituto Cristóvão de Mendoza irá retomar parcialmente as aulas nesta quarta-feira, após mais de duas semanas de ocupação por um grupo de alunos. O recomeço se dá a partir da intervenção de cerca de 60 pais dispostos a garantir o recomeço das aulas. Desde segunda-feira, eles estão concentrados na sala dos professores junto a docentes e funcionários do colégio. Terão aulas as turmas do 1º ao 5º anos iniciais, 9º ano do ensino fundamental, 3º ano do ensino médio normal e politécnico e turmas de aproveitamento de estudos.
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O diálogo praticamente inexiste. Na tarde de terça, o Pioneiro esteve na escola e ouviu acusações de intolerância de ambos os lados. Pais reclamam que os alunos debocham e não querem conversar. Alunos reclamam que a abordagem é violenta e ameaçadora. Na segunda-feira, uma bandeira comunista chegou a ser hasteada pelos ocupantes, mas foi retirada horas depois. Pelo lado dos responsáveis por aqueles que estão sem aula, a principal preocupação é com o prejuízo que os dias sem aula provocam aos filhos:
– Tenho um filho de 10 anos e uma de 16, que estão entre os 1,3 mil alunos prejudicados. Estou lutando pelo direitos deles estudarem e dela não perder o ano, para poder prestar o vestibular e fazer o Enem. Sou a favor das reivindicações, mas contra a ocupação, pois o direito de ir e vir precisa ser preservado. Eles têm o direito de ocupar e nós temos o de tentar desocupar, pacificamente. Nós, pais, estamos aqui para assegurar que eles possam ter aula em segurança, e se precisarmos pedir proteção para isso, iremos solicitar – argumenta Patricia de Castro, 37, que criou no Facebook o grupo DesocupaCristóvão.
Entre os cerca de 30 alunos ocupantes, a posição é de continuar com a mobilização, mas sem tentar interferir na retomada das aulas.
– Não está tendo diálogo. A gente tenta conversar, mas eles (os pais) dizem que a gente é criança e não sabe o que está falando. Quanto a isso (o reinício das aulas), não tem o que fazer – diz o manifestante Leonardo Cechin, 17.
Nesta terça à tarde, alunos do Cristóvão e das outras três escolas ocupadas de Caxias (Apolinário, EETCS e Aristides Germani) receberam a carta-compromisso do governo do Estado (leia ao lado), com promessas a respeito das demandas da educação. Após uma reunião de avaliação do conteúdo do documento, a resposta no Cristóvão foi de insatisfação.
– Em grande parte, não tem proposta concreta e com garantias de que irão fazer. R$ 40 milhões, divididos entre todas as escolas, não vai dar para fazer praticamente nada. A gente vai continuar com a ocupação, e amanhã (hoje) iremos soltar uma resposta oficial a esta carta – avalia Leonardo.
Estado pede saída em 48 horas
Em resposta às mobilizações nas escolas estaduais gaúchas, a Secretaria de Educação entregou uma carta-compromisso às instituições. A intenção é ter como contrapartida a liberação das escolas ocupadas em até 48 horas, sem descartar medidas judiciais caso não seja cumprido o prazo para a saída dos alunos.
Pela proposta apresentada, o governo se compromete em repassar, até o final deste mês, verbas direto para as direções providenciarem reparos mais imediatos nas escolas, como limpeza, manutenção de quadras de esportes e capina; ampliar a fiscalização do que é servido na merenda escolar e reposição de professores para preencher o quadro de todas as escolas.
– A nossa proposta está dentro do que a gente pode de fato atender. Não viemos aqui iludir os estudantes – disse o secretário de Educação Luís Alcoba de Freitas, que assumiu a pasta após a licença de Vieira da Cunha.
A diretora da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE), Janice Moraes, leu o conteúdo da carta em uma audiência pública na Câmara de Vereadores de Caxias na manhã de terça. À tarde, todas as escolas ocupadas receberam o documento e terão até a tarde de quinta-feira para dar uma resposta às propostas do Estado.