Como forma de combater o déficit de professores na rede pública, o Estado lançou no final de 2023 o Professor do Amanhã. No fim de novembro deste ano, a segunda edição do programa, que oferece bolsas de estudos em universidades comunitárias para cursos específicos em licenciatura, foi anunciada com investimento de R$ 38,4 milhões para 500 bolsas integrais. Em Caxias do Sul, o programa é oferecido por meio de parceria entre Universidade de Caxias do Sul (UCS) e a Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sict).
No segundo edital são contempladas as áreas de Letras (Língua Portuguesa), Matemática, Geografia e História. Em contrapartida, o graduando deve comprometer-se a atuar por pelo menos 1.920 horas como docente na rede estadual de ensino quando formado e ter 300 horas de prática durante o curso.
Na primeira edição, mil vagas foram disponibilizadas no Estado e 90 ficaram com a UCS, como explica a pró-reitora de graduação, a professora Terciane Ângela Luchese. São estudantes que estão cursando licenciaturas em Língua Portuguesa, Ciências Biológicas, História, Geografia e Matemática. São áreas que foram definidas pela Sict em parceria com a Secretaria da Educação (Seduc), conforme a demanda necessária na rede de ensino. Com os dois editais, o investimento total do RS já é de R$ 115,2 milhões.
— Se não olharmos com atenção para a formação de professores, a crise que já temos da falta de profissionais para nossas escolas inviabilizará a escolarização de crianças e jovens. Bons professores são insubstituíveis. Com relação à UCS, lembro que é uma instituição que, antes mesmo de ser universidade, já formava professores. Então nosso compromisso com essa formação é de muitas décadas — destaca Terciane.
Expectativa para exercer a profissão
Um dos diferenciais do programa do Estado é que, após a conclusão do curso, os formandos entram automaticamente no Cadastro de Contratações Temporárias. É uma situação que atrai os estudantes e também abre novos caminhos que podiam não estar nos planos. É o caso de Paulo Roberto Kellermann, 32 anos. Ele já tinha o desejo de estudar Letras, mas não pensava em ser professor. Hoje, está empolgado com a ideia.
— Entrei por gostar de Letras, mas não pensava em ser professor. Me identifico muito com o perfil de quem gosta de ler e de escrever. No meio do caminho, como é uma licenciatura, você tem as matérias que vão desenvolver o teu talento para ser professor. Acho que eu sempre quis isso para mim, mas ainda não sabia — conta Kellermann.
Emanoel Prusch Pereira, 21, também sente segurança com esse formato. O estudante sempre teve a matemática como uma paixão e ficou sabendo do projeto por uma conhecida que também tinha se matriculado.
— A ideia de já estar seguro ali, porque são 1.920 horas que vamos ter, é bem interessante. Assim, já vai me dar uma segurança, não vou ter tanto medo de, por exemplo, "será que vou passar no concurso? Será que vou achar um lugar bom para trabalhar?" — acrescenta.
"Precisamos de professores"
Quem está na graduação também sabe da importância da formação de novos professores para a sociedade como um todo. Angela Barreto Biasolli, 19, chama atenção para um dos objetivos do Professor do Amanhã.
— É interessante também olharmos pelo fato de que existe uma necessidade. Não é só estarmos nos formando. Realmente precisamos de professores — destaca a estudante de matemática.
Onnya Farias, 24, que é de Nova Petrópolis e está matriculada em Letras pelo programa, também nota que o efeito desse projeto pode ser mais duradouro. Como a estudante explica, o grupo sente que existe um "apagão" de professores no país. Com a possibilidade da formação, as próximas gerações também podem garantir um ensino de qualidade. Ao mesmo tempo, também é uma jornada pessoal para cada um dos futuros professores. Onnya pensava estudar Jornalismo e agora se vê trilhando o caminho na sala de aula:
— Esse programa possibilitou grandes mudanças na minha vida. Eu não me imaginava nessa profissão, nesse ramo, e agora, trabalhando com isso, vejo que realmente eu tinha um talento definitivamente desconhecido.
O incentivo é importante
Coordenadora do programa na UCS, a professora Rochele Andreazza Maciel diz que a procura pelo projeto impressiona. Em todo o Estado, foram mais de 4 mil inscritos na primeira edição. Rochele também acredita que é mais uma forma de demonstrar valorização ao professor.
— De certa forma, é um programa muito bom, que valoriza. Nós precisamos de incentivo para valorização de professores — observa Rochele, que lembra que a UCS também oferta 14 licenciaturas.
A pró-reitora Terciane Ângela Luchese também entende que o programa do Estado é um investimento importante, que vem somado a outras medidas anunciadas em 2024 que visam qualificação aos docentes.
Entre elas, a publicação da nova diretriz curricular para Formação de Professores com limitação dos cursos em EaD (educação à distância) para 50% da formação à distância e o restante presencial, e o anúncio e realização do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) de forma anual para os licenciandos com prova teórica e prática.
— É certo que uma boa aula e o processo de aprender não acontecem exclusivamente com o investimento no professor e em sua carreira, mas sem bons professores não se pode esperar boas escolas e estudantes com experiências formativas de qualidade. Assim, oferecer uma bolsa para incentivar a formação de professores, somado à oportunidade de emprego garantido assim que obtiver a formação (mesmo que por tempo limitado) e, ainda, garantir que isso aconteça em universidades comunitárias como a Universidade de Caxias do Sul, é um investimento público e social de grande relevância — declara a pró-reitora da UCS.
Fique atento ao programa
Antes de iniciar as inscrições do segundo edital, as universidades comunitárias aguardam retorno do Estado. Após a abertura da nova edição, as instituições de ensino têm até 3 de janeiro para enviar propostas ao governo.
Depois, o governo dá o retorno sobre os projetos e informa quantas vagas serão disponibilizadas para cada universidade. A partir disso, será divulgada a data para inscrições.
No Professor do Amanhã, além da contrapartida de lecionar na rede pública, o estudante também recebe R$ 800 mensais de bolsa nos primeiros 48 meses de curso. Mesmo com a bolsa, o aluno pode seguir trabalhando normalmente. Já a Universidade recebe R$ 800 mensais por vaga referente à taxa acadêmica.
Quem pode participar
Conforme o Estado, pode participar do Professor do Amanhã quem cursou o Ensino Médio completo na rede pública ou em escola privada na condição de bolsista integral; quem é professor efetivo da rede pública estadual, tem pelo menos três anos de exercício da profissão e não tem diploma de graduação; quem não foi desligado de programas similares por descumprimento de normas; e quem participou do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e tem média mínima de 400 pontos das cinco notas das provas.