Pequenas instalações, afastadas de centros urbanos, imersas na natureza. O nicho das cabanas despontou na Serra gaúcha há poucos anos e já apresenta potencial para se tornar um dos novos propulsores turísticos na região.
O chamado “turismo de isolamento” cresceu durante o período da pandemia, mesclando experiências imersivas em hospedagens individuais, que permitem contemplar a natureza e levar uma rotina menos atribulada.
— Já tínhamos alguma coisa neste sentido, mas com a pandemia essa tendência se tornou mais forte. A possibilidade de estar em um espaço aberto possivelmente foi um dos motivos que atraiu os turistas que buscam o lazer. Caiu no gosto do consumidor ter um local exclusivo para si — explica a executiva do Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria Região Uva e Vinho (Segh), Márcia Ferronato.
Impulsionado pelo isolamento social, o segmento, derivado da hotelaria, se expandiu pelos municípios da Serra, explorando diferentes apelos: clima, vinho, cultura italiana e, sobretudo, paisagens. Em meio à mata, perto de cachoeiras, ao lado de vinhedos, as possibilidades são amplas, contemplado a diversidade regional.
Aliado aos cenários, Márcia ressalta que a Serra já tem uma gama de atrações e serviços consolidados, o que contribui na decisão dos turistas de se hospedarem na região.
— As pessoas escolhem o destino quando ele gera a confiança de ir até lá. Quando você encontra opções de gastronomia, passeios, transfer, internet, acessos, isso tudo gera confiança para o visitante. Então, ter essa estrutura é um agregador para o fortalecimento desse segmento — pontua.
Outro fator considerado essencial para o desenvolvimento deste modelo de negócio é o aconchego. As acomodações, por vezes rústicas, garantem o conforto em cenários variados, tornando a estadia convidativa.
— As cabanas vieram suprir uma sofisticação para um nicho de mercado que gosta de estar no meio da natureza, que gosta de ecoturismo, mas que, necessariamente, não quer estar em contato direto com o meio ambiente — pontua o professor da UCS doutor em Turismo e Hospitalidade Maguil Marsilio.
Diferentemente dos hotéis, em que alimentação e serviço de quarto acabam gerando encargos maiores, as cabanas oferecem instalações equipadas, com atendimento sob demanda. Conforme o professor Marsilio, os empreendimentos, em sua maioria familiares, conseguem recepcionar e atender os visitantes com a tradicional hospitalidade da Serra e valores atrativos.
— Eu diria que esse segmento, como um todo, veio para ficar e precisa ficar. O maior diferencial que temos na Serra gaúcha é o meio ambiente. As cabanas trazem um novo motivo para as pessoas virem até aqui e descobrir as possibilidades de lazer e todo o encanto natural que temos — argumenta.
O tradicional em destaque
No Vale Trentino, interior de Caxias do Sul, a paisagem marcada pela mata nativa e por hectares de vinhedos se tornou cenário de um pequeno empreendimento familiar. Em atividade há cerca de um ano, o Rifúgio del Bosco surgiu como um espaço de lazer da família Tessaro.
— Inicialmente era um projeto para passar o final de semana. Depois, a minha irmã e sobrinha, que têm um hotel fazenda em Santo Antônio da Patrulha, nos convenceram que seria possível transformar a cabana para receber visitantes. E deu muito certo — conta a proprietária Tânia Tessaro.
A acomodação, no estilo tradicional, tem como principal atrativo o isolamento em meio à natureza. Segundo Tânia, o espaço tem despertado a atenção de visitantes da região metropolitana, que, além de buscar a cabana aos finais de semana, também a alugam em dias comerciais.
— São pessoas de Porto Alegre e Canoas, mas também tem gente de fora do Estado, como Minas Gerais e Santa Catarina. Tem nos surpreendido essa procura, mas imagino que seja por conta do ambiente. As pessoas têm buscado muito destinos que possam estar em meio da natureza — opina.
A cabana tem capacidade para receber até quatro pessoas. O investimento para se hospedar no local varia de R$ 700 a diária durante a semana até R$ 800, aos finais de semana.
Experiência tamanho família
Uma casa para aproveitar a tranquilidade do campo, com acomodações para toda a família. Foi a partir desse projeto inicial que o Refúgio La Ventana abriu as portas para turistas e visitantes há cerca de 10 anos.
A residência de 170m², localizada em uma propriedade de três hectares em São Francisco de Paula, deixou de ser o refúgio de Alexandre Davi Borges para ser o ponto de encontro de grupos de amigos que vêm à Serra.
— Tudo começou na pandemia, com um projeto pessoal. Eu queria uma casa no campo para relaxar. Mas o óbvio aconteceu: não conseguia tempo livre para ficar lá. Os amigos e conhecidos foram os primeiros a se interessar pela casa, pedindo para ficar por alguns dias. Foi então que decidi alugar o espaço por temporada — conta Borges.
Conforme o empreendedor, o período do isolamento foi o ponto alto das reservas, sobretudo para famílias que buscavam um local longe dos centros urbanos. Agora, as reservas se estabilizaram, com grande procura por grupos de amigos fora da região para as férias de final de ano.
— Propusemos uma experiência de resgate. Tem lago, tem jogos de tabuleiro, tem todo o terreno da propriedade que pode ser visitado. A casa tem internet, mas, por ser no interior, não pega sinal de celular. Então, é uma oportunidade para amigos e famílias se reunirem para curtir e passar um tempo juntos — detalha.
A casa tem capacidade para receber até 15 pessoas. O investimento para se hospedar no local é de R$ 1,6 mil para um final de semana (para até quatro pessoas).
Opções para públicos segmentados
Além do título de Capital Nacional do Basalto, a cidade de Nova Prata se tornou referência para os fãs dos filmes e livros de “O Senhor dos Anéis”. Isso porque, desde 2019, a cidade conta com uma pequena vila, inspirada na arquitetura dos filmes: o Condado de Prata.
— Começamos a construção pensando em cenário para fotos. Sou fotógrafa e queria trabalhar este tema da saga. Mas pesquisamos e descobrimos que não existia nenhum empreendimento no Brasil neste estilo. A partir disso, mudamos o projeto e o cenário virou uma cabana — conta a empreendedora Leila De Conto.
O condado na Serra conta com duas “tocas de hobbits”, construídas no subsolo de uma encosta. Os espaços foram totalmente mobiliados e decorados pela família De Conto conforme o filme, oferecendo ao público uma experiência imersiva no universo do autor J.R.R. Tolkien.
— Cerca de 99% das pessoas que recebemos são fãs dos filmes e dos livros. Notamos uma procura muito grande pelo pessoal da região de Porto Alegre, moradores de Santa Catarina. A agenda para este ano está cheia, em função dos clientes que reagendaram a vinda por conta da chuva de maio. Mas o envolvimento tem nos deixado muito surpresos, principalmente porque tudo aqui é feito pela nossa família — comenta.
As tocas têm capacidade receber até quatro pessoas. O investimento para se hospedar no local é de R$ 733 a diária.