Correção: a atual sede do Samu fica na Rua Vinte de Setembro, e não na Bento Gonçalves como publicado entre as 16h30min de 3 de setembro e as 16h39min de 4 de setembro. O texto já foi corrigido.
“Qual é a sua emergência?”
Essa é a primeira frase que o cidadão escuta ao ligar para o telefone 192, do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Implantado em 24 de agosto de 2004, o serviço completa neste ano duas décadas de atuação em Caxias do Sul. Ele é previsto pela portaria federal 2.048 de 2002, e a manutenção é feita pelos governos federal (50%), estadual (25%) e municipal (25%), por meio da modalidade conhecida como tripartite.
A primeira sede na cidade ficava em uma pequena sala na Rua Borges de Medeiros, na região central, com aproximadamente 20 funcionários — nem todos eram servidores públicos — e apenas cinco veículos.
Atualmente, são cerca de 140 servidores, entre médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem e demais integrantes, que têm à disposição para os atendimentos 13 veículos, sendo duas motolâncias e uma ambulância do Corpo de Bombeiros regulada pelo Samu. Desde 2008, o serviço funciona no mesmo prédio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) e da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Central, na Rua Vinte de Setembro.
Ao longo dos 20 anos, foram mais de 2 milhões de ligações recebidas, sendo que 900 mil se tornaram regulações e mais de 380 mil geraram algum tipo de intervenção. A média atual é de 500 ligações recebidas ao dia e cerca de 120 envios de ambulância diários, número referente a todos os municípios regulados pela Central de Regulação de Urgências (CRU) de Caxias do Sul, que também recebe ligações de Bom Jesus, Farroupilha, Flores da Cunha, São Marcos e Vacaria.
— O Samu para Caxias e para o Brasil tem uma importância fundamental, temos um tempo que chamamos de "hora de ouro", com o atendimento na primeira hora a chance de recuperação e a mitigação de sequelas é bem maior — contextualiza o diretor-geral do Samu, Durval Júnior de Oliveira.
Da equipe de profissionais que ingressou em 2004, 12 seguem no Samu: Adriano Luis de Moraes, Simone Bortolini, Rosmeri de Almeida, Marcos Antônio Corá, Gilmar Padilha Flores, Eliana Palhano Borges, João Batista Schneider, Patrícia Maria da Silva, João Carlos de Oliveira da Conceição, Viviane Ruaro, Glória Regina Ribeiro e Luiz Fernando Fragozo. Eles, além da servidora Silvana Daneluz Martins, que se aposentou recentemente, receberam uma homenagem no dia 24 de agosto.
“Me coloco no lugar das pessoas”
O rádio-operador Adriano Luis de Moraes, 55 anos, é um dos servidores que estão desde o primeiro plantão na equipe. Natural da cidade de Passo Fundo, Moraes recorda bem dos desafios desde a implementação do serviço. Antes do Samu, a cidade contava com as conhecidas “ambulâncias brancas”, que apenas levavam os pacientes ao Pronto Atendimento (hoje UPA Central) para atendimentos. A migração do serviço ocorreu ao meio-dia de 24 de agosto.
— Não sabíamos direito o que e como fazer, tínhamos até um déficit de material, de uniforme, as equipes tinham um uniforme para vestir, não tinha rádio, era um telefone. Tínhamos que ligar para as equipes e avisar que tinha atendimento. Se comparando com a estrutura que temos hoje, as ambulâncias têm GPS, têm rádio, smartphone — compara Moraes sobre a evolução.
O rádio-operador comemora o fato de o serviço do Samu ter evoluído ao longo destas duas décadas. A segurança é um fator primordial para ele. Hoje, em casos como os de crimes contra a vida, sempre atuam lado a lado com a Brigada Militar ou até mesmo a Guarda Municipal. No passado, equipes chegaram a ser assaltadas em atendimentos.
Moraes cresceu dentro do Samu, e guarda inúmeras histórias de atendimentos. Para ele, perder um paciente sempre é momento delicado:
— Eu sempre me coloco no lugar das pessoas, a angústia da pessoa quando pede um atendimento. Às vezes não dá nem um minuto e a equipe está saindo, mas para quem está lá na ponta, cinco minutos é uma eternidade.
“A emergência para mim é um vício”
Natural de Caxias do Sul, o médico Gilmar Padilha Flores, 62, estava ao lado de Adriano nos atendimentos do primeiro plantão. Ele recorda de como foram os momentos para colocar o Samu em operação na cidade. Poucos dias antes da implementação, receberam a informação de que em 24 de agosto de 2004 representantes do governo federal estariam no município para inaugurar o atendimento.
— Nós recebemos as ambulâncias vazias, sem nenhum equipamento, não tínhamos sala, não tínhamos espaço nenhum, não tínhamos uniforme, e em uma semana tivemos que providenciar tudo para que no dia da inauguração tivesse tudo funcionando. E era inaugurar e começar a funcionar naquele dia — relembra Flores, com orgulho de fazer parte da história.
O médico conta que tinha a seu favor a experiência de já ter trabalhado em serviços privados de urgência e emergência. Mesmo assim, precisou de uma adaptação no entendimento de como funcionaria o novo, e inédito, serviço público em Caxias. Para ele é muito marcante o fato de entrar nas casas das pessoas e, até mesmo, experienciar realidades distintas em um município com mais de 460 mil habitantes.
— Eu já teria tempo para me aposentar, mas a emergência para mim é um vício, meu vício é andar de ambulância pela cidade. Aquela adrenalina que tenho, quando vou a um atendimento e ele se dá da melhor forma possível, a gente consegue salvar uma vida, consegue entregar o paciente vivo no hospital, saímos de lá realizados: ganhei meu dia, salvei uma vida! — conta Flores.
Um acidente de trânsito durante o verão de 2019 na Rota do Sol, na ligação entre a Serra e o Litoral, foi marcante para Flores. Três veículos envolvidos e oito vítimas feridas. Por mais de 40 minutos, fez os primeiros atendimentos a um homem que ficou preso nas ferragens de um dos carros, até a chegada dos bombeiros para fazer o desencarceramento (retirada das ferragens). Mas, no final do atendimento, o paciente acabou morrendo.
Brilho no olhar e amor pela profissão
A garibaldense Simone Bortolini, 45, ingressou no Samu de Caxias em 6 de setembro de 2004, poucos dias após o início do serviço na cidade. A profissional é uma daquelas pessoas apaixonadas pelo trabalho. Os olhos dela brilham ao recordar dos desafios e dos atendimentos feitos.
Claro que nem tudo foi fácil ao longo destes 20 anos. Lembra que uma das tarefas mais complicadas foi a de “educar” a população sobre a real função do Samu: urgências e emergências. Hoje sente que os caxienses já estão em sintonia com os profissionais do serviço.
— A nossa missão, eu sempre digo, é conseguir levar o nosso paciente até o hospital com vida. Precisamos amar muito o nosso trabalho para que consigamos entrar em contato com todas essas adversidades — comenta a enfermeira.
Quando consegue atuar em um parto, o coração transborda de alegria. Já nos atendimentos mais complexos, comenta que se sente completa quando um paciente segura a sua mão e pelo olhar transparece confiança no seu serviço.
— O que mais marca é quando tem criança envolvida. Eu gosto quando nascem nenês, porque é uma vida, porque a gente perde muito aqui no Samu, em termos de óbito. O nascimento é algo muito gratificante, ele te dá esse gás, essa energia. Também me sinto realizada quando a gente faz um atendimento que tudo que a gente faz dá tudo certo — conta Simone de forma emocionada.
Dos mapas de papel aos GPSs
A agilidade e segurança do Samu para chegar a uma ocorrência é fruto do trabalho de profissionais como João Batista Schneider, 60, condutor de ambulância. Natural de Novo Hamburgo, precisou passar por diversos treinamentos de direção e conhecimento de Caxias do Sul para iniciar a atuação no serviço caxiense.
Nos primeiros anos de atuação, um grande mapa de papel ficava fixado em uma parede da sede do Samu para facilitar o conhecimento das ruas e para encontrar possíveis vias alternativas a fim de facilitar o atendimento. Atualmente, esses mapas deram lugar a um televisor integrado com o sistema de GPS de cada ambulância, o que torna mais prático o direcionamento de uma equipe.
— Utilizávamos os mapas de papel. Cada bairro é repartido em várias ruas, eu tentava marcar as principais e ia indo por ali, porque é uma coisa muito rápida, como é feita toda essa triagem, é passado para a equipes se deslocar, e precisamos fazer rápido — conta João Batista.
O avanço das tecnologias somado ao crescimento pessoal e profissional enchem João Batista de orgulho de sua trajetória como condutor do Samu:
— Aqui realmente é um grande aprendizado em todos os sentidos. Para mim tem um antes e depois do Samu, aprendi muito, estou aprendendo muito. Temos toda uma estrutura antes e depois de nós que realmente funciona muito bem. Poder fazer parte desta grande equipe é muito bom.
Quando chamar o Samu
O Samu deve ser acionado em casos que o paciente têm agravos na saúde que podem o levar à morte em poucas horas, tais como:
- Na ocorrência de problemas cardiorrespiratórios.
- Intoxicação medicamentos ou outros ou envenenamento.
- Queimaduras graves.
- Afogamentos.
- Choque elétrico.
- Na ocorrência de maus-tratos a idosos ou crianças.
- Trabalho de parto em que haja risco de morte da mãe ou do feto.
- Tentativas de suicídio.
- Crises hipertensivas e dores no peito de aparecimento súbito.
- Acidentes/traumas com vítimas.
- Acidentes com produtos perigosos ou com animais peçonhentos.
- Suspeita de infarto ou AVC (alteração súbita na fala, perda de força em um lado do corpo e desvio dos lábios/ boca são os sintomas mais comuns).
- Agressão por arma de fogo ou arma branca.
- Soterramento, desabamento.
- Crises convulsivas.
- Outras situações consideradas de urgência ou emergência, com risco de morte, sequela ou sofrimento intenso.
Como auxiliar no atendimento
- Se identificar e dizer qual é o problema que está ocorrendo.
- Informar o endereço correto e um ponto de referência.
- Responder às perguntas efetuadas pela atendente de forma clara e correta.
- Ao conversar com o médico, tentar informar qual é o problema com precisão. Se o paciente for conhecido, falar também sobre doenças prévias, medicações e a evolução dos sintomas. Verificar se a pessoa está acordada ou não. Essas informações permitirão que o médico envie o melhor recurso para cada tipo de atendimento.
- Em caso de acidente, procurar identificar quantas vítimas há no local, se existe alguma delas presa nas ferragens, o estado de consciência delas, como e o que, de fato, aconteceu, seguindo as orientações do médico ao telefone.
- Solicitar para outra pessoa esperar e sinalizar para a ambulância quando ela estiver chegando no local.
Fonte: Secretaria Municipal da Saúde