Abandonada desde julho pela empresa que venceu licitação, a obra para o novo acesso ao bairro Planalto está gerando problemas aos vizinhos. Os relatos dos moradores e comerciantes são de prejuízos, até mesmo na saúde, especialmente pelo excesso de poeira e sujeira. Ao mesmo tempo, os trabalhos inacabados geram sustos e lentidão no trânsito, já que a entrada está logo na BR-116. Iniciada em novembro do ano passado, a revitalização deveria durar oito meses. Agora, um novo prazo é aguardado, uma vez que a prefeitura de Caxias do Sul precisa realizar uma nova licitação para retomar os trabalhos.
A reportagem esteve no local no final da tarde da última quinta-feira (15), durante horário de pico. Em alguns momentos o fluxo para entrada no bairro faz com que forme-se uma grande fila na BR-116, no sentido Ana Rech-Avenida São Leopoldo. No sentido oposto, sustos foram observados. Em questão de 15 minutos, quase ocorreram duas colisões envolvendo quem transitava na rodovia federal e quem saía do bairro e tentava fazer o retorno.
O projeto final prevê sinaleiras no acesso e uma alça de retorno que dê mais segurança aos motoristas, mas com a obra inacabada até o momento, situações como esta são notadas.
O empresário Romulo Tibola, 35 anos, observa diariamente este tipo de situação. Mas, como vizinho da obra, Tibola, que tem uma revenda de veículos, enfrenta outros problemas. Com a poeira invadindo as propriedades, os carros dele ficam sempre empoeirados — às vezes, os veículos são lavados duas vezes no mesmo dia.
— Nossas vendas caíram 80%. Pessoal não está mais procurando aqui — lamenta o empresário.
Além da redução, Tibola ainda teve um prejuízo de R$ 70 mil. Ele relata que quando piche foi colocado no trecho, ainda quando a obra estava em andamento, parte do material atingiu os carros da revenda. Todos precisaram ser completamente polidos. Hoje, o empresário pensa em abandonar o ponto em que está há sete anos.
Rotina impactada
Logo ao lado da obra, em que a rua e os canteiros seguem abertos, o casal Andrea Márcia Zago, 54, e Valdecir Zago, 57, passa o dia inteiro com a casa fechada — até mesmo um varal foi improvisado dentro da residência. Foi a solução para minimizar a poeira. Mesmo assim, não é o suficiente. Andrea, que trabalha em casa como projetista de PPCI (Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndios), conta que o filho, que tem fibrose cística (doença que atinge os pulmões), precisou aumentar a dose das medicações. Ela também tem sangramentos frequentes no nariz.
— Olha, a gente precisa de asfalto. São 200 metros de asfalto — pede Andrea, que mora há 40 anos no bairro.
O casal e o empresário estão mobilizados com mais de 30 moradores que pedem uma solução à situação do bairro que tem cerca de 13,5 mil habitantes. No último sábado (17), um protesto foi feito pela comunidade. Antes, no final de julho, o grupo registrou a situação na Câmara de Vereadores.
A promessa da prefeitura é de passar uma capa asfáltica na obra para reduzir a poeira. O prazo inicial era na metade de agosto. Segundo a nota da comunicação da prefeitura, a medida deve ocorrer, agora, no início de setembro, por conta do processo de montagem da nova usina de asfalto da Codeca.
O que diz a prefeitura
Em nota, a prefeitura explica que busca ainda o distrato com a empresa que desistiu da obra. Após essa etapa é que a nova licitação poderá ter andamento. O município afirma ainda que está trabalhando no trecho para dar condições de trafegabilidade aos moradores:
"Como a comunidade já sabe, a empresa vencedora da licitação desistiu da continuidade da obra. Ainda não foi feito o distrato do contrato, pois a empresa recorreu. Após este trâmite jurídico é que a prefeitura poderá dar andamento ao processo de licitação para a contratação da nova empresa para assumir a obra. Paralelamente a isso, a prefeitura está intervindo no acesso ao bairro para dar condições de trafegabilidade aos moradores. O acesso foi reaberto ao trânsito e a Secretaria de Obras trabalha na implantação de bocas-de-lobo e de meios-fios. Após essa etapa, haverá a pintura para posterior colocação da base e do asfalto. A previsão para o asfaltamento é início de setembro, em virtude do processo de montagem da nova usina de asfalto da Codeca. Para amenizar os transtornos causados pelo pó, o caminhão-pipa da Secretaria do Meio Ambiente molha o local duas vezes ao dia".