Alessandra dos Santos tem medo do escuro, Jaqueline Azambuja fica triste quando o pai viaja e Pietro Côrrea se assusta com gritos. Todos eles não gostam de cebola e de temperos. Alunos do jardim de infância da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Professor Félix Faccenda, em Bento Gonçalves, as crianças de cinco e seis anos expõem o que sentem para a orientadora educacional Morgana Villabochi em uma sala dedicada a atividades lúdicas que nomeiam as emoções.
Inspirada no filme Divertida Mente, que tem sua sequência em exibição nos cinemas, a iniciativa da coordenadoria pedagógica foi criada no início do ano letivo e aumentou a frequência na escola do bairro Municipal, segundo a diretora Nelita Zanovelo:
— A partir das vivências deles, eles trazem as experiências. Aqui eles têm um lugar seguro para não só expressarem o que sentem, mas conhecerem o que estão sentido e de que forma lidar com isso.
Preocupados com o desenvolvimento tardio da fala e a aprendizagem interrompida a cada falta, diretoria e professores se inspiraram no cinema para acessar camadas ainda não exploradas dos seus alunos.
— Mesmo sendo pequenos, eles conseguem identificar a ansiedade por exemplo e dizem "isso acontece comigo". Temos um grande número de crianças com dificuldade na fala e isso atrapalha depois, na escrita. Então eles precisam ser trabalhados — conta Morgana.
Se em Divertida Mente 2 o desafio dos sentimentos é de resgatar as convicções da personagem a qual "comandam", na escola, segundo o coordenador pedagógico Patric Bernardi, o resgate foi da rotina dos alunos que ficavam em casa e passaram a querer ir aula.
— A infrequência reflete na aprendizagem. Se eles não estão bem internamente, eles não estarão inteiros para aprender. Alguns são mais retraídos, mas nesse ambiente mais calmo e tranquilo eles se sentem mais à vontade e verbalizam — afirma Bernardi.
Com materiais simples, almofadas e música relaxante, a Sala das Emoções tem uma gaiola com sentimentos escritos e prontos para serem libertados. Na barraca podem ser compartilhadas as pílulas de alegria, coragem e calma.
Para inserir as famílias no processo, a Caixinha do Desabafo recebe cartas com o que precisa ser externado. Em um dos cantos da sala, ao lado da pequena biblioteca, a Mala das Emoções guarda os avanços dos alunos e os trabalhos desenvolvidos.
— Temos ferramentas simples, mas eficientes para que a criança possa nomear e explorar seus sentimentos. Fizemos os círculos de paz para eles se ouvirem e escutarem uns aos outros. É muito mais fácil falarmos do outro e o princípio da fala aqui é para que eles falem de si — explica Morgana.
Os momentos na Sala das Emoções, que costuma receber turmas de até 20 crianças, ocorrem geralmente após o recreio, quando é preciso baixar um pouco a energia. Como a escola não tem psicólogos e fonoaudiólogos, são os professores que trabalham os sentimentos com os alunos do jardim de infância e dos dois primeiros anos do ensino fundamental atendidos na escola.
— Aqui a situação é de material humano e escuta e, com nossos recursos, foi o que deu pra fazer — diz Nelita.