Restos de alimentos, fraldas usadas e plástico sujo que se convertem em matéria-prima para caldeiras industriais. A proposta pode parecer utópica, mas já é realidade na Serra gaúcha. Desde o início de julho, uma usina de transformação de resíduos não recicláveis começou a operar em Garibaldi. Impulsionados pela agenda verde, os sócios Alexandre Elesbão e Geraldo De Vitto escolheram a região para começar o projeto que visa aproveitar 100% do lixo úmido das cidades serranas.
A iniciativa surgiu no ano passado, quando os dois decidiram que iriam apostar no segmento sustentável. Conforme os sócios, a escolha por Garibaldi foi motivada, sobretudo, pelo perfil empreendedor do município. Em seis meses o maquinário gaúcho foi instalado na Rota do Sol, na zona industrial da cidade. As operações começaram em 1º de julho, com capacidade inicial de processar 25 toneladas de resíduos por dia.
— Esse projeto será executado em três etapas. Na primeira fase atendemos apenas Garibaldi. No segundo momento iremos dobrar a capacidade para 50 toneladas. Por fim, planejamos instalar uma nova estrutura da usina próximo à Fenachamp, onde poderemos receber até 200 toneladas por dia — detalha Elesbão.
A proposta é atender municípios de pequeno e médio porte, fazendo com que o lixo, agora encaminhado para aterros sanitários, seja transformado e utilizado na própria Serra. Ainda, os empreendedores vislumbram a possibilidade de utilizar a usina atual para receber resíduos gerados pela indústria, ampliando a atuação e reduzindo o volume de lixo na região. A expectativa dos sócios é de que a segunda etapa seja alcançada em seis meses e a terceira fase, em dois anos.
Lixo vira matéria-prima em minutos
De 15 a 20 minutos: esse é o tempo médio necessário para que os resíduos que chegam na usina se tornem Composto Biosintético Industrial (CBSI). Com exceção do metal e vidro, que são retirados, tudo o que chega dentro das sacolas plásticas (restos de alimentos, absorventes, fraldas, plástico sujo, papel contaminado) é moído, secado e passa por atrito mecânico, processo responsável por transformar os resíduos em matéria-prima para as caldeiras.
— A sacola plástica com o lixo entra na máquina e é cortada. Os metais e vidros são removidos e encaminhados às cooperativas de reciclagem. Depois, vem a moagem, que corta tudo em tamanho padrão. Na sequência, o resíduo é submetido a secagem a vapor, que deixa ele com uma média de umidade entre 5% a 10 %. Moído e seco, ele segue para o atrito mecânico, que é onde tudo vira pó, com uma umidade de 3% — explica Vitto.
Sem cheiro, amônia, metais pesados e com alta capacidade de queima, o CBSI é vendido para indústrias como alternativa para a madeira ou serragem no abastecimento de caldeiras. O composto também pode ser utilizado na produção de madeira biossintética, como paletes, tampos, portas e bancos.
— Neste primeiro momento, vamos produzir apenas o CBSI no formato de pó, devido à demanda na região. Na terceira etapa, pretendemos ampliar a produção para a madeira biossintética conforme a demanda — detalha Elesbão.
Sustentabilidade como agenda
Tornar a usina um modelo de indústria ambientalmente responsável também está nos planos dos sócios Alexandre Elesbão e Geraldo De Vitto. Apesar do empreendimento consumir apenas 15 litros de água por dia, está previsto utilizar o CBSI para abastecer a caldeira que faz da água vapor. A mudança deverá ocorrer durante a segunda fase do projeto. Neste período também está prevista a instalação de painéis de energia solar na estrutura.
Ainda, os empresários firmaram uma parceria com a prefeitura de Garibaldi para desenvolver ações de educação ambiental nas escolas do município. O programa contempla atividades ministradas por uma pedagoga e um concurso no qual os alunos poderão criar o mascote para representar a cidade limpa. As ações devem se iniciar nos próximos meses.
O impacto no município
Dados da prefeitura de Garibaldi apontam que a cidade coleta cerca de 700 toneladas de lixo ao mês. Antes do contrato com a usina, todo o resíduo úmido era enviado para um aterro sanitário em Minas do Leão, a aproximadamente 200 quilômetros. Além da redução do custo do transporte, o contrato firmado entre poder público e empresa representa uma queda de R$ 50 mil mensal nos gastos da administração garibaldense com a destinação dos resíduos.
Outro fator positivo é a geração de empregos. Atualmente, a usina conta com 10 colaboradores, contudo, a expectativa é que o número cresça com a abertura da segunda unidade.