Nas paredes, nas roupas e no ar. Quando o inverno chega, acompanhado de dias chuvosos, um velho vilão aparece nas casas dos caxienses: o mofo. E uma das características do inverno gaúcho, a umidade acaba contribuindo para a proliferação desse fungo, que costuma ser encontrado em casas e lugares fechados e escuros, e até mesmo em alimentos quando apodrecem.
O mofo faz parte do grupo dos fungos e é um organismo decompositor que se alimenta da matéria que consegue degradar. Ou seja, qualquer material infectado vai apodrecer e, muitas vezes, não pode ser recuperado. Segundo Marli Camassola, doutora em Biotecnologia pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), para evitar que o mofo se alastre, é preciso controlar a umidade e manter os ambientes limpos.
— Alguns fungos acabam lançando na atmosfera os chamados esporos, que são pequenas estruturas produzidas em grande quantidade que têm a capacidade de gerar um novo indivíduo, ou seja, a proliferação de mais mofo, aderindo em paredes e alimentos, principalmente quando a umidade do ar está elevada — aponta a professora.
A doutora em Biotecnologia reforça que é importante, sempre que possível, deixar o ambiente ventilado, utilizar desumidificador de ar e guardar as roupas limpas e secas.
— Com qualquer umidade, o fungo passa a se proliferar. Se, ao abrir o guarda-roupa, sentir aquele cheiro de mofo, é porque ele se proliferou. Então, assim que possível, tem que tirar tudo de dentro, lavar as roupas e limpar também o guarda-roupa, porque os fungos podem penetrar nas paredes do móvel e, devido à pressão das enzimas que os fungos produzem, a madeira acaba apodrecendo — alerta.
Combatendo o problema
Quando o mofo aparece em paredes ou roupas, é comum logo pensarmos que as soluções caseiras irão nos livrar do problema. Entretando, o engenheiro químico Paulo Bortolotto reforça que as pessoas devem ficar atentas aos produtos que utilizam dentro de casa. Segundo ele, misturas caseiras, muitas vezes divulgadas em redes sociais, podem se tornar um grande problema.
— Algumas pessoas misturam produtos que podem gerar um tipo de reação química, que acabam liberando gases que podem causar intoxicação e trazer danos à saúde. O ideal é sempre utilizar produtos que são para essa finalidade, porque eles passaram por diversos testes para serem regularizados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O engenheiro Paulo Bortolotto trabalha há 20 anos em uma loja de Caxias do Sul especializada em produtos químicos. Conforme ele, a procura por estes produtos específicos para a remoção de mofo e controle de umidade aumentou consideravelmente no último mês.
— Existem produtos que são à base de peróxido de hidrogênio. Em relação à água sanitária, devido ao forte odor, é aconselhável que a pessoa utilize uma máscara, e que o local seja ventilado. Já para controlar a umidade, o melhor produto seria o cloreto de cálcio, que são pérolas onde se coloca no ambiente, dentro de um recipiente que vai diminuindo de tamanho e virando água — recomenda.
De olho na saúde
O mofo também pode causar sérios problemas respiratórios. O processo inflamatório e alérgico começa quando as micotoxinas do mofo presentes no ar entram em contato com o corpo. Nessa época do ano, principalmente, algumas pessoas costumam sofrer mais com rinite crônica e asma brônquica, por exemplo. E, com a umidade alta, quem sofre com esses problemas torna-se mais sensível à exposição do fungo.
Conforme o pneumologista Fabrício Fortuna, a imunidade reage a fatores ambientais e climáticos. Viver em um lugar onde há uma umidade mais intensa e temperaturas mais extremas em períodos frios, associado à poluição e outros fatores, pode provocar uma série de reações com potencial para tornar os sintomas crônicos.
— Em casas onde há mofo, os sintomas podem ser mais intensos nessas pessoas. Portanto, é uma das coisas que eu pergunto na consulta, se a casa tem mofo. Se a pessoa é sensível a fungos, quando se tem uma exposição maior ao mofo, pode ter um problema mais grave de saúde. Nós somos diferentes do ponto de vista do sistema imunológico então, é importante que se tenha uma casa bem higienizada. Tente manter a casa mais sequinha, livre de umidade nas paredes e infiltração por mofo. Temos que cuidar da qualidade do nosso ar — frisa o médico.