A condição dos mais de 500 quilômetros de estradas espalhadas pelo interior de Farroupilha motivou, na última quinta-feira (30), a visita de uma equipe da Defesa Civil Nacional ao município, que segue com três pontos de interdição de vias.
As localidades de Caravaggio, Sete de Setembro e Linha Machadinho seguem com a recomendação de terem o trânsito bloqueado até que a umidade das encostas ofereça condições seguras para receberem intervenções. A intenção é refazer os barrancos e retirar a terra que invadiu as estradas, além de criar soluções para que novos deslizamentos não ocorram.
Ainda com água que escorre morro abaixo no ponto onde a terra cedeu, a Estrada do Salto Ventoso vem sendo utilizada normalmente por motoristas que ignoram a sinalização e avançam sobre dois trechos onde o asfalto chegou a rachar e criou uma espécie de degrau. O bloqueio de pedras que impedia a passagem dos veículos foi desfeito e a ligação até as comunidades de Linha Ely, São João e Machadinho é utilizada inclusive por pequenos caminhões.
Vizinho do ponto de bloqueio, o agricultor João Carlos Salvattor, 65, imagina que os motoristas estejam se arriscando por não quererem desviar pela VRS-813.
— Pelo certo, vendo no site da prefeitura, ela está interditada, mas foi um que abriu e todo mundo começou a passar. Eu estou aqui há dois quilômetros do centro, pelo desvio até Nova Sardenha são 15 quilômetros.
A movimentação de terra ocorreu ao lado da casa da família Cousseau e as rachaduras na residência que foi totalmente condenada dimensionam o perigo constatado pela Defesa Civil. Com a esposa e o filho, Adriano Cousseau, 48, saiu da residência ainda durante a madrugada quando as primeiras rachaduras apareceram:
— Ouvimos um estouro estranho depois de um raio, chovia fraco e começamos a procurar se tinha acontecido alguma coisa na casa. Encontramos em um dos quartos uma rachadura de um centímetro por toda a extensão da parede.
No outro dia a família constatou o deslizamento na estrada e, com o passar das semanas, acompanhou os esforços para que a encosta fosse refeita. Um trecho estreito, em apenas uma das pistas foi aberto para trânsito local, agora utilizado por dezenas que veículos que precisam aguardar quando encontram fluxo contrário.
— O pessoal precisa passar, não quer fazer a volta, mas é um risco iminente. É só ver o que aconteceu aqui em cima que entenderiam. A casa a gente perdeu, o terreno atrás rebaixou, estamos em um apartamento alugado e ainda tendo que nos defender de saques que já aconteceram. O ser humano é inacreditável — desabafa Cousseau.
Aumento da sinalização
O secretário de Urbanismo e Meio Ambiente Nestor Zanonatto Filho acompanhou a equipe técnica da Defesa Civil nesta semana e aguarda o escoamento da água para, quem sabe, atuar com maquinário mais leve e dar melhores condições às estradas. Sobre o bloqueio que não é respeitado, uma nova sinalização deverá ser instalada nesta semana:
— Ainda existe risco comprovado pela Defesa Civil. Dentro da responsabilidade do município fizemos os bloqueios orientativos e vamos aumentar a confecção de placas. A gente entende que as pessoas devem respeitar a sinalização e não retirar por conta própria.
Romeiros ignoram sinalização
Em outro ponto do interior de Farroupilha, a sinalização é desrespeitada por pedestres. Bloqueada na véspera da Romaria de Nossa Senhora de Caravaggio, a estrada Luiz Victório Galafassi segue com sinalizações que impedem o trânsito de veículos.
No entanto, o tempo seco incentivou dezenas de romeiros a peregrinarem ao santuário neste sábado (1º). A orientação de desvio, que aumentava em 10 quilômetros a caminhada, era ignorada pela manhã por grupos que passavam a pé pelo ponto de deslizamento, que resumiu um trecho de mato a terra revirada.
Considerado seguro pela maioria e nem tanto por outros, o ponto está limpo e permite a utilização das duas pistas. Um grupo que saiu a pé do bairro Desvio Rizzo, em Caxias do Sul, sabia da possibilidade de ter que caminhar quase o dobro. Guilherme Bettiol Pereira, 24 anos, considerou o clima melhor em comparação ao da semana passada e o menor movimento para realizar a caminhada:
— Viemos sabendo, se tivesse que desviar íamos caminhar mais. Vimos que só tinha placa e outras pessoas subindo, então seguimos — diz
As árvores com as raízes viradas para cima impressionaram a pensionista Marta Taffarel, 60, que registrava a cena com o celular enquanto caminhava.
— Nunca tinha visto isso, eu não estou muito segura não — diz.
Moradora do bairro Nova Vicenza, por onde centenas desviaram na semana passada, Maria de Lourdes da Silva, 47, passou mais de uma vez pelo local, e neste sábado foi quando se sentiu mais segura:
— Eu acredito que agora não tenha mais perigo, já foi mais. Em dia de chuva não passaria, mas em um dia como o de hoje me sinto muito segura. No domingo passado, falei com muita gente que fez o desvio e chegou bem cansado no Santuário.
O que diz a Prefeitura
O trecho da Estrada Luiz Victório Galafassi segue bloqueado e impede a passagem de veículos. Um painel eletrônico e cones alertam para o bloqueio, que não tem previsão de ser liberado. Segundo o secretário Nestor Zanonatto Filho, equipes da prefeitura não pararam durante o feriadão para intervir nas estradas do interior e seria preciso retirar servidores das suas funções para orientar o que já está sinalizado.