O Rio Grande do Sul ainda segue contabilizando os estragos causados pela chuva da semana passada. Em Caxias do Sul, o bairro de Galópolis, que registrou sete mortes, e o distrito de Vila Cristina, foram dois dos pontos mais afetados. Mesmo assim, a atenção dos órgãos de segurança pública se estendem para todo o período urbano e rural.
Segundo o coordenador da Defesa Civil de Caxias do Sul, o tenente Armando da Silva, a rotina do órgão "mudou significativamente" desde a semana passada. Ele descreve como "imensurável" o número de atendimentos tanto para vistorias em pontos de possíveis deslizamentos em bairros da cidade como também para as orientações à comunidade.
— Para se ter uma ideia, a gente está atendendo em torno de 200 chamados via telefone, orientando. E, além disso, estamos indo a campo para atender as pessoas e orientar essas pessoas, produzir documentos (como os de interdição, por exemplo) que possam vir a trazer benefícios para elas, benefícios do Governo Federal e do governo do Estado na reconstrução e no reparo das vidas das pessoas atingidas. Foi uma virada de 180º no trabalho da Defesa Civil — descreve.
Atualmente, além do coordenador, são outros dois servidores que atuam na Defesa Civil. No entanto, em casos como esse é acionado o plano de contingência, e as equipes de outras secretarias também auxiliam nas demandas necessárias, como a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma), a de Obras e Serviços Públicos (Smosp) e a de Habitação (SMH), entre outras.
Silva detalha que há um mapeamento dos bairros considerados em situação de risco de deslizamentos, com atenção para as regiões do Planalto e do São Victor Cohab, na Zona Leste; Cidade Nova e Charqueadas, na Zona Oeste; além do Pôr do Sol e do Fátima — que teve a suspeita levantada de possível ruptura da barragem Dal Bó e retirou, momentaneamente, moradores de suas casas —, na Zona Norte.
— Chamamos a atenção para toda a cidade, pois precisamos que nos ajudem a ficar observando ao redor de suas residências. Qualquer rachadura que não havia anteriormente, alguns estalos, raízes de árvores, tudo isso é sinal de que o terreno está trabalhando e que há um fenômeno ali existindo em função da chuva e que essa pessoa precisa sair da sua casa e procurar um local seguro — orienta.
Na manhã desta quinta-feira (9), a reportagem do Pioneiro acompanhou a equipe da Defesa Civil em vistorias na Zona Leste de Caxias. O coordenador, acompanhado pelo agente Volmir Gomes, realizou atendimentos nos bairros Planalto e São Victor Cohab. Por lá, duas casas foram interditadas: uma que havia sido atingida por um muro e acabou caindo parcialmente, e outra pelo risco de desmoronamento em virtude de um córrego que passa debaixo da residência. Além disso, uma obra dentro de um terreno apresentava risco aos vizinhos e foi interditada. Nesses casos, um documento é emitido e entregue aos moradores para que eles busquem auxílio da prefeitura.
— Praticamente todos eles (bairros considerados de risco) são em encostas de morros. A topografia de Caxias do Sul tem essa característica de elevações, de morros, de cursos de água, e todos eles possuem rochas, que tem fraturas entre eles e por cima da terra. A água, infiltrando na terra, entra nessas fraturas e vai percorrer por ali e não sabemos para onde ela vai.
Uma das principais preocupações dos próximos dias é a previsão de novas chuvas para a Serra. O coordenador detalha que são realizadas duas reuniões diárias do gabinete de crise para analisar essas situações.
— Acende ainda mais o sinal de alerta, estamos atentos a isso, nos reunindo duas vezes por dia (o gabinete de crise). Fazemos um levantamento do que foi feito no dia anterior e planejamos a ação daquele dia atual, sempre primando pela preservação e pela prevenção, orientando as famílias. Vamos vencer, isso não vai durar para sempre, estamos trabalhando forte nisso.
Até o momento, a Defesa Civil não tem contabilizado todas as pessoas que estão fora de casa na cidade, uma vez que alguns moradores optam por ir para casas de amigos e parentes. No entanto, esse número deve ser levantado nos próximos dias pelo órgão, uma vez que a Caixa Econômica Federal pede esses dados para a antecipação e saque do Fundo de Garantia por Tempo de Serviços (FGTS) por atingidos pelas enchentes.