Há uma semana, Garibaldi figurava entre as cidades mais atingidas da Serra, com parte da área central alagada pela cheia do Arroio Marrecão. Após a água retornar para o leito, a prefeitura apurou que as estradas do interior foram as áreas mais afetadas e estão em processo de restauração. Mas, com o Centro recuperado, a cidade se tornou referência na distribuição de donativos para outros municípios em situação mais grave.
De lá, alimentos, itens de higiene, roupas, calçados e medicamentos chegam e são enviados para cidades da Serra e Vale do Taquari. Os donativos são transportados por caminhões e aeronaves, em ações coordenadas pelo governo e iniciativas voluntárias.
As ações de recolhimento de donativos, que acontecem na cidade desde a semana passada, se intensificaram nesta terça-feira (7), quando o Centro Regional de Doações foi instalado no Ginásio Municipal de Esportes pelo governo do Estado e Defesa Civil.
O espaço, que chegou a receber 20 famílias desalojadas, agora é um dos pontos que concentram as doações de cidades da região. Conforme o prefeito Sergio Chesini, a rápida recuperação e a localização próxima ao Vale do Taquari, foram fundamentais para que Garibaldi fosse escolhida pelo governo do Estado como base de operações.
– Nós temos todas as condições logísticas tanto para receber como para expedir as doações dos municípios da região. Temos uma equipe montada para triar, separar e, imediatamente, destinar o que chega aos municípios mais necessitados – explica.
No primeiro dia de operação, cerca de cem militares do Exército e outros 150 voluntários trabalhavam na ação. Entre eles, o casal Pedro Marcelo Kinzel, 51 anos, e Marines Kinzel, 46. De férias coletivas devido à falta de insumos na empresa em que trabalham, eles se voluntariaram para ajudar nas ações.
– A gente tinha dado os nomes para ir na equipe de limpeza. Como fecharam os grupos, viemos para cá. Estamos aqui desde a manhã e vamos ficar o quanto for preciso. Não tem como não se abalar, não se solidarizar com tudo o que a gente vê. Se cada um fizer um pouquinho, vamos conseguir dar volta de novo – declara Marines.
A distribuição dos donativos está sendo coordenada pela Casa Civil do Estado, em parceria com a prefeitura de Garibaldi. Cidades da Serra e Vale do Taquari solicitam ao Centro Regional de Doações os itens necessários. Os voluntários e militares organizam os donativos e carregam os caminhões que seguem para as cidades da região.
No primeiro dia de operações, três envios foram despachados para Canoas, Muçum e São Jorge. Também chegaram ao local três caminhões de donativos, sendo dois vindos de Farroupilha, além de doações de moradores.
Conforme o representante da Casa Civil em Garibaldi, Bolívar Gomes, não há prazo determinado para a permanência do Centro Regional de Doações em Garibaldi. A programação do governo estadual é abrir novos centros na região.
– Em Caxias do Sul, um centro está sendo estruturado na Faculdade Anhanguera, no bairro Desvio Rizzo. Acredito que na quarta-feira (8) ele esteja em operação. Com isso podemos controlar os pedidos de cada cidade, transferir donativos entre um centro e outro e administrar os destinos das doações – explica.
As doações podem ser entregues no Ginásio Municipal de Esportes todos os dias da semana, das 8h às 18h.
Rede de solidariedade popular
A 750 metros do Ginásio Municipal de Esportes, um outro ponto de coleta de doações registra intensa movimentação. A sede da União dos Moços Católicos, em frente à prefeitura de Garibaldi, se tornou o centro operacional de 17 entidades municipais que trabalham desde a semana passada no recolhimento e distribuição de alimentos.
A coordenadora do Movimento Corrente do Bem, Ivonete Piletti Grossi, 52, conta que a ação solidária prestou atendimentos aos garibaldenses afetados pela chuva.
– Com a melhora da situação na cidade, conversei com outras entidades e decidimos em conjunto abraçar a causa em prol de outros municípios. As doações não param de chegar e nós trabalhamos para que elas sejam encaminhadas para quem precisa – conta.
No espaço, cerca de 50 pessoas recebem alimentos de consumo rápido e montam kits para doação. Cada sacola de donativos conta com água, leite, suco, achocolatado, pães fatiados, biscoitos, latas de sardinha, geleia, barras de cereal, fósforos, velas, lenços umedecidos e absorventes. Os donativos podem ser entregues todos os dias da semana, das 8h às 18h.
Grande parte desses kits está sendo encaminhada para o Aeroclube de Garibaldi, no bairro Alfândega. No espaço, uma ação de distribuição e recebimento de doações acontece desde o dia 2.
Conforme o presidente do aeroclube, Marcio Foppa Simonaggio, 42, a entidade foi procurada por empresários de todo o país, interessados em encaminhar auxílio para o Rio Grande do Sul. A partir de então, o aeroclube cedeu o espaço para servir como base de operações de helicópteros e pequenas aeronaves engajadas na ação.
– Nosso objetivo aqui é levar alimento para pessoas ilhadas e, em casos de muita necessidade, resgatar pessoas em situação de risco. Ontem, tivemos aqui cerca de 30 voos, que vieram de tudo que é lugar do Brasil – detalha.
Uma equipe de voluntários do próprio aeroclube atua na coordenação das missões, recebendo as demandas de entrega ou coleta de alimentos e insumos hospitalares. Esse grupo orienta os pilotos sobre a localização dos destinos e mantém a organização dos voos.
Em uma curta pausa entre uma viagem e outra, o piloto Clovis José Flach, 43, conta que chegou à região no domingo (5) a pedido da empresa que atua. Morador de Camboriú, de Santa Catarina, ele foi enviado pela companhia para trazer medicamentos ao Rio Grande do Sul. Só na terça (7) ele fez três viagens com helicóptero e se preparava para ir até Feliz.
Piloto e instrutor há anos, Flach se emociona ao relatar sua primeira atuação em uma ação humanitária, sobretudo pelo resgate que fez nesta manhã, em Canoas.
– Hoje de manhã cedo a gente fez uma remoção de um paciente, que fazia hemodiálise e precisava ir pra Chapecó. Veio ele, a família e o cachorrinho. A gente perguntou "tem mais alguma coisa pra carregar?". Eles responderam que não, que a vida deles estava ali. Sem palavras para o quanto tem sido gratificante fazer parte disso – narra.