— É uma experiência única.
É assim que a estudante de Medicina Veterinária Ana Luiza Romagna, 19 anos, que reside no município de Farroupilha, define a adoção de um pássaro da espécie sanhaço-cinzento após ele ter caído do ninho. Quem encontrou a ave foi a irmã dela, Ana Laura, 23, no dia 12 de dezembro de 2023, em uma rua do bairro São Luiz. Com a saúde debilitada, o animal foi levado para o apartamento em que elas moram com os pais, Carlos Renato Romagna e Deise Ana Garbin, e com o irmão Luiz Felipe.
Bibble, como foi batizado, recebeu todos os cuidados. Para que pudesse se sentir melhor e se recuperar de uma maneira mais rápida, a família até comprou uma pequena árvore para deixar dentro do apartamento, uma forma de tornar o ambiente com um aspecto um pouco mais próximo do habitat natural. Agora com quatro meses segue recebendo muito carinho da família, e demonstra ter se apegado a eles.
— Fomos cuidando, colocando um paninho quente para esquentar ele, porque geralmente no ninho é quente. Dávamos uma papinha específica para isso (cuidados de pássaros recém-nascidos) — relembra Ana Luiza.
As janelas do apartamento ficam abertas caso o Bibble queira retornar à natureza. Ele chega a voar para fora, mas sempre retorna ao apartamento. Carlos Romagna diz que, quando pode, leva o passarinho em alguns parques da cidade para que possa se sentir mais livre para voar. A ave se alimenta basicamente de frutas, como banana e caqui.
— Ele fica aqui interagindo conosco, às vezes vai na garagem do prédio e volta. A janela da varanda fica sempre aberta. Ele está aqui, mas a janela está aberta, se ele quiser ir (para a natureza), se achar melhor quando estiver maior, tudo bem, queremos que ele fique bem — afirma Carlos Romagna.
Bibble se tornou um xodó não somente dos Romagna, mas também de outros moradores do prédio em que residem no centro de Farroupilha. Alguns vizinhos acabam indo até o apartamento, no quarto andar, apenas para ver o Bibble. Recentemente, até ganhou um perfil no Instagram. Com pouco mais de 50 seguidores até a manhã desta sexta-feira (19), o perfil é onde a família pretende contar um pouco da história da ave.
— Quando iríamos imaginar (cuidar de um passarinho) e ele ficar conosco — diz Ana Luiza.
Segundo o chefe do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama, Paulo Guilherme Carniel Wagner, o sanhaço-cinzento é um pássaro que se adaptou bem às cidades, sendo típico desta região.
— Se o animal tem livre acesso, liberdade para ir e vir (não tem problema). O fato dele interagir (com as pessoas), não recomendamos quando tem animais de estimação, mas se não há nenhum risco para ele, e ele tem total liberdade, não tem problema nenhum, ele está interagindo com as pessoas, mas não está prisioneiro de ninguém — explica Wagner.
Wagner destaca que, neste caso, não há problemas de a família continuar com o animal, uma vez que ele tem liberdade para voar. O chefe do Cetas ainda destaca que o animal ter optado por ficar com a família não é algo muito comum de acontecer e também não recomenda que as pessoas façam isso.
— Isso não é comum, é uma coisa excepcional, e não é interessante que as pessoas tentem fazer seguidamente. Neste caso deu certo, em outros locais não quer dizer que vai dar certo. Tem que saber separar o que é a excepcionalidade do que é o normal da natureza, que é os animais manterem uma certa distância da gente.
Histórico de resgates
Mas o Bibble não foi a primeira ave resgatada pela família Romagna. Em janeiro de 2022, um beija-flor acabou se machucando após bater em uma das janelas do apartamento. Eles até tentaram cuidar dele, mas acabou morrendo. Já em junho do ano passado foi a vez de resgatar uma pomba, que se recuperou e voou.
— Se eu vejo uma joaninha que acho que alguém possa pisar nela, já pego e ajudo. Qualquer vida eu cuido — afirma a futura médica veterinária.