Uma mulher otimista, de muita fé e privilegiada pela família que construiu. Foi dessa forma que Nilva Terezinha Randon se descreveu durante a participação na reunião-almoço (RA) da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, nesta segunda-feira (1º). No ano em que completa 90 anos, a matriarca da família Randon relembrou momentos ao lado do marido Raul, falecido em março de 2018, a força necessária na criação dos cinco filhos, todos presentes ao evento, e o trabalho voluntário na comunidade caxiense, uma das principais marcas de seu legado.
Desde a infância no bairro Santa Catarina e a adolescência em uma Caxias que não existe mais, pacata e ainda sem a estrutura que adquiriu, Nilva fez questão de narrar fatos importantes da trajetória, ressaltando a simplicidade e o começo parecido com o de milhares de pessoas que viveram na mesma época que ela.
— Eu sei que todos esperam uma história fantástica, mas a minha é igual a de muitos pais e avós da nossa região. E gosto de falar sempre que é a nossa história, porque não é somente minha — iniciou Nilva.
Bem-humorada e disposta a dividir as boas memórias com o público que lotou o espaço, resgatou o começo do relacionamento com Raul Randon, na década de 1950. Elencou os momentos de cumplicidade e companheirismo do casal, inclusive do dia logo depois do casamento, quando o marido brincou ao dizer que a vida dos dois não seria somente de festas.
— Eu cheguei pra ele, um dia depois de casarmos, toda feliz, contando o quanto estava realizada. Ele me olhou e disse: não te ilude que não vai ser sempre assim. Na hora eu me espantei, mas esse era o Raul. Sempre realista, falando a realidade. E, no fim, foi como ele disse. Uma vida com muitas coisas boas, mas também de dificuldades — cita a matriarca.
O crescimento da Randon como grupo de empresas, os primeiros negócios internacionais, e até mesmo a concordata vivida nos anos 1980 foram pontuadas na palestra. Em todos os episódios, o suporte à família e o grande ponto de equilíbrio que ela representou evidenciam o papel central que exerceu ao longo de mais de 60 anos de casados.
— Eu, mais do que tudo, trabalhei para manter a união da família. Sempre apoiei o Raul em suas ideias, aquilo que pensava que daria certo. Como eu, ele também sempre foi otimista. Lembro que quando enfrentamos a concordata, ele ficou seis meses sem dormir. Mas até nisso fomos privilegiados. Sempre que surgiu um problema, aparecia a solução. Isso é fé — aponta.
Dedicação ao trabalho voluntário
As mesmas dificuldades que fortaleceram a relação e até mesmo a presença e a importância de Nilva na construção da Randoncorp, ao lado do industriário que entrou para a história de Caxias do Sul, Nilva já marcou a comunidade de toda a região com um trabalho essencial na vida de muitas famílias. Há décadas, ela tem no voluntariado um dos guias de sua atuação na sociedade.
O primeiro envolvimento social ocorreu com a participação nos clubes de serviço, onde escreveu uma trajetória sólida em diversas causas. A entrega demonstrada nas iniciativas levou a outros lugares e na criação de entidades que tinham como pano de fundo o auxílio a pessoas carentes e gente com vontade de crescer.
E uma das principais ações de Nilva foi a ajuda na fundação do Banco da Mulher de Caxias, em 1997. Com a função de ofertar microcrédito a empreendedoras que desejavam iniciar ou expandir um negócio, a entidade surgiu como fomento à economia, mas fortalecendo o protagonismo da mulher. Ampliado e fortalecido, o banco é o único que permanece ativo, e sempre acompanhado pela matriarca da família Randon.
— Eu visitei muitas empresas que começaram com a ajuda do Banco da Mulher. Muita gente que fez valer o esforço, que trabalha muito, que se entrega. É um projeto muito importante — avalia.
Outro projeto citado na RA foi o Florescer. O programa desenvolvido desde 2002 pelo Instituto Elisabetha Randon promove atividades de formação cidadã para jovens em situação de vulnerabilidade. Até 2023, 17 mil jovens já haviam sido atendidos.
Sob o olhar orgulhoso da família
Davi, Roseli, Alexandre, Maurien e Daniel. Os cinco filhos estavam presentes assistindo na primeira fila a palestra da mãe. A cada sorriso e movimento de cabeça em anuência aos episódios recordados, a família deixava claro a representatividade de Nilva na vida de todos e, por consequência, na Randoncorp. Atual presidente da companhia, o mais novo dos cinco irmãos resume o sentimento pela mulher que tanto fez em quase 90 anos de vida.
— Nós falamos dos 75 anos da Randoncorp, que iniciou com o meu pai e meu tio, mas sem dúvida a nossa matriarca, que sempre nos inspira e continua nos inspirando, tem um papel fundamental na família. Quando falamos de governança, um dos papéis principais, é o trabalho de continuar o legado do meu pai, dos valores que ela continua nos passando, da união, da simplicidade, da religiosidade que ela tem, da parte social e do empreendedorismo — afirma Daniel.
Além dos filhos, os 12 netos e seis bisnetos, que completam a família, não são as únicas razões de Nilva continuar buscando sempre mais. Na explanação durante a RA da CIC, sustentou uma fala muito ouvida nas declarações e entrevistas do próprio Raul, e que demonstra o tamanho da responsabilidade social de que sabe que carrega.
— A preocupação não é somente com as empresas. Temos uma equipe muito boa para isso. Mas tudo que representamos. Nós temos muita gente que precisa do ordenado e depende disso para manter as suas famílias — completa Nilva.
De pé para aplaudir, o público ainda viu a palestrante pedir um brinde. E foi um brinde a uma história de vida de simplicidade e muita fé.