Quando se fala em uma vida dedicada a uma causa, Luciana Stello (52) entende bastante do assunto. Recentemente, a relações públicas completou 32 anos de atuação no Serviço Social do Comércio (Sesc). E boa parte dessa trajetória aconteceu em Caxias do Sul. Além de ter iniciado na entidade como auxiliar de escritório em 1991, entre outras funções exercidas, foi gestora da unidade na última década. Antes disso, ocupara a gerência em Farroupilha de 2006 a 2014.
O resultado do trabalho intenso pela cultura e educação levou-a novos patamares. A partir desta semana, Luciana assume a gerência de Cultura do Sesc-RS, uma das posições mais importantes dentro do quadro estadual. A nova função passa a ser exercida já nos próximos dias, em Porto Alegre.
Ao falar do período à frente da equipe em Caxias, a agora ex-diretora relembra os principais momentos que ajudaram a construir o legado que deixa para a cidade. Além dos fortes laços com diversos segmentos da comunidade, a consagração de eventos tradicionais, como o Aldeia Sesc, e a implantação de projetos que mudaram a cara da unidade.
Leia a seguir a entrevista com Luciana Stello.
Como você encara esse seu desafio na carreira e a saída de Caxias?
Eu estou saindo, literalmente, da minha zona de conforto, saindo do ninho. Porque para poder assumir esse cargo eu tive de abrir mão de muita coisa, como, por exemplo, de estar com a família durante a semana. Mas tudo vem no tempo certo.
O trabalho em Porto Alegre vai ser muito diferente?
Eu vou precisar me reinventar, precisar entender esse novo olhar. Porque, até então, eu tinha um olhar multifocal. Eram várias atividades. E agora eu vou poder me dedicar exclusivamente a uma área que eu tenho uma verdadeira paixão, com a qual me identifico. Então, acho que tem uma potência por aí, né? Só pelo fato de conseguir me dedicar àquilo que realmente acredito, com um olhar exclusivo, eu acho que vai fazer toda a diferença.
Que Sesc você recebeu e que Sesc entrega?
Foi um resgate que tivemos de fazer. Quando voltei, em 2014, a unidade vivia um momento bastante triste, com a morte do antigo diretor. Então, precisamos um resgate de autoestima, das próprias atividades, o envolvimento do Sesc com a comunidade. Foi um trabalho, realmente, de reconstrução. Com a credibilidade que demonstramos, tornamos o Sesc uma referência em cultura em Caxias e, por que não, na região.
Neste sentido, quais foram os momentos e projetos mais marcantes? Aldeia Sesc é um deles?
O Aldeia é a menina dos olhos. É onde vemos que realmente consolidamos a marca da cultura do Sesc em Caxias, construindo a muitas mãos o setor, envolvendo os diversos grupos artísticos da Serra. O resultado não podia ser diferente, né? Em 2023, acabou integrando o calendário oficial de eventos do município. E agora tem uma lei municipal que ampara isso. Então, ninguém mais tira o Aldeia de Caxias.
E quais outros projetos ficam como legado?
Tem o Rio Grande no Palco, o Palco Giratório, o Sesc Música, Música na Varanda... São muitos que estão na grade estadual e que implantamos com sucesso aqui. Mas um que eu gosto de ressaltar é o LabMais (criado em 2021, o programa oferece infraestrutura e capacitação para oportunizar aos jovens uma carreira no setor audiovisual). É um projeto para a juventude de Caxias. Essa demanda que a gente conseguiu evidenciar do jovem estar dentro do Sesc. Então, é o único que tem na região Sul inteira. Não tem em Santa Catarina, não tem no Paraná, só tem no Rio Grande do Sul e é aqui. Isso é muito bacana.
Atualmente o Sesc Caxias está mais próximo da comunidade?
É um caminho ainda em andamento. A implantação do LabMais colocou os jovens ali dentro. Agora, com as mudanças que estão sendo feitas, a reforma do prédio, a implantação da cafeteria, com o espaço novo de convivência. Isso vai abrir ainda mais o Sesc para receber a comunidade. Outra ação muito importante para esse passo foi sair de casa. Ir para os bairros, levar o trabalho para diversas regiões da cidade e mostrar para as pessoas que elas podem fazer parte. Foi uma ação que modificou o envolvimento de todos com o Sesc.
E qual é a cara da unidade que você deixa?
Um Sesc que vibra, que é criativo e que. Tem muita energia ali, sabe? Eu, pelo menos, percebo isso. É tudo muito vibrante. Tudo está acontecendo ao mesmo tempo. A unidade pulsa muito forte. Nossa equipe faz acontecer.
O sucesso da retomada do espetáculo "Som & Luz", durante a Festa da Uva, foi o fechamento que você imaginava para essa trajetória?
Eu não imaginava que seria o último, mas acho que foi o evento que merecíamos. O Sesc estar presente ali, ajudando a contar a história de Caxias nessa forma que conseguimos fazer, e ter a compreensão, o entendimento e a validação das pessoas que foram assistir, é muito legal. Então, realmente, é para fechar com chave de ouro.
E como é a expectativa para o momento que virá?
É de desapego. O Sesc Caxias é onde eu praticamente me criei, me formei. Foi o que me tornou quem eu sou. Também é uma alegria muito grande, no sentido de poder potencializar tudo aquilo em que acredito, tudo aquilo que o Sesc tem como premissa. Saber que o meu propósito de vida vem ao encontro do propósito do Sesc, que é a questão do cuidado, da emoção, de tornar as pessoas felizes através das nossas ações. Poder levar isso para todo o Estado é muito grandioso. É uma responsabilidade muito grande, mas a sensação de poder fazer aquilo em que se acredita é muito satisfatória.