Quantas vezes você já se perguntou qual o significado está por trás da Missa de Lava-Pés, que é realizada em toda Quinta-feira Santa? E aqueles panos que cobrem as imagens dos apóstolos nas igrejas durante a semana que antecede a Páscoa? E por que não há missa na Sexta-feira da Paixão? Esses e outros simbolismos da fé católica ficam em evidência no período mais importante para os cristãos do mundo inteiro. E não é diferente em Caxias do Sul e em toda a Serra.
Um período de preparação para as paróquias da região que trabalharam intensamente para receber milhares de pessoas. Na Catedral Diocesana, no centro de Caxias, a noite de quinta-feira (28) contou com a presença do bispo dom José Gislon, responsável pela Diocese, que conduziu a celebração do Lava-Pés.
Em 2024, a escolha dos 12 fiéis que participaram do ato teve relação com a Campanha da Fraternidade, que neste ano celebra a amizade social, e ao reconhecimento de todos os humanos de forma igualitária. Para o bispo, a celebração revive a despedida de Jesus Cristo dos apóstolos e resgata o caráter de servir que o gesto carrega.
— Como enviado de Deus, Jesus veio para redimir a humanidade. Ele cumpriu um gesto que era próprio dos servos. Quando um peregrino chegava na casa de uma família, os empregados lavavam os pés do visitante que havia feito uma longa caminhada. Era o serviço do servo. E Jesus realiza essa tarefa, sendo o filho de Deus, lavando os pés dos discípulos para dizer que a missão do amor é servir — salienta dom José Gislon.
Há quatro anos no Brasil, e em Caxias desde o final de 2023, os integrantes da família Garcia tiveram os pés lavados pelo bispo. O casal Rafael e Eliary, ao lado dos filhos Jimena, Evans e Dylan, participaram da missa na Catedral e ficaram emocionados com a oportunidade, além de, segundo Eliary, terem sido muito bem recebidos pelos caxienses.
— Foi uma experiência única. Nos enche de alegria e esperança saber que as pessoas de Caxias nos levam em conta, sem preconceito por sermos estrangeiros. Saber que somos acolhidos no Brasil sem distinção de nacionalidade, que somos simplesmente vistos e acolhidos como irmãos, como filhos de Deus. E ter vivido essa experiência em família, poder explicar e ensinar aos nossos filhos o fato de Jesus ter feito isso com seus discípulos é um símbolo de Deus que representa a importância do serviço, da caridade e do amor — cita Eliary.
Santos cobertos à espera da Páscoa
Pode parecer um pouco sinistro, mas a motivação para manter as imagens dos apóstolos e demais santos, além das cruzes, cobertos nos dias que antecedem a Sexta-feira Santa é festiva. Conforme a tradição católica, as estátuas permanecem ocultas como forma de recordar a maior festa cristã, principalmente o triunfo dos santos, que teriam vencido o mal para poder se santificarem. Segundo o coordenador de liturgia da Paroquia São José, no bairro São José, em Caxias do Sul, Yuri Deon Salbego, a alegria contida na Quaresma é extravasada na festa da Páscoa.
— Esse e outros dois motivos principais explicam os panos tapando os apóstolos. Um é por, ao cobrir as imagens, anteciparmos o luto pela morte de Cristo. E a terceira razão é mais prática. As imagens, às vezes, podem nos dispersar. Por isso, a Igreja começa a reeducar o olhar dos fiéis para o essencial — elenca Salbego.
Contudo, não são todas as paróquias que mantêm a tradição. Por ser uma decisão de cada pároco, muitas seguem com as estátuas descobertas. Na São José, os panos foram colocados no quinto domingo do tempo da Quaresma, dia 17 de março. Enquanto serão retirados das cruzes na tarde desta sexta (29), as estátuas somente serão novamente reveladas na Vigília da Páscoa, na noite do sábado (30).
Sem missa na Sexta-feira Santa
O dia mais triste e de maior reflexão para a Igreja Católica carrega um detalhe bem especial. A Sexta-feira Santa, dia da crucificação e morte de Cristo, é o único momento do ano em que não é realizada a tradicional missa. Tampouco alguns dos sete sacramentos são permitidos, como casamento, consagração da eucaristia, crisma, ordenações e batismo, este último somente em raras exceções.
Conforme prega a tradição antiga, a limitação não abrange a penitência e unção dos enfermos. Segundo o bispo Gislon, os sacramentos que envolvem festividades são os que não cabem no dia. No lugar da missa, é feita uma celebração, com leituras e atividades específicas para a data.
— Não temos a celebração da Eucaristia porque o Cristo agonizante, o Cristo morto, lembra essa entrega da vida. E só vamos começar a celebrar depois, no sábado à noite, quando há a vida renovada. É esse vazio entre a morte e a vida da ressurreição. Cristo celebrou a Eucaristia na quinta-feira. Na sexta, foi condenado — ressalta o religioso.
Mais de 100 padres em Caravaggio
Sob o comando de dom José Gislon, a Diocese de Caxias do Sul reuniu quase todos os padres que atuam nas 73 paróquias estendidas pelas 32 cidades de abrangência do colegiado. O encontro ocorreu na manhã desta quinta-feira (28), no Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha.
O evento faz parte da programação especial da Semana Santa, quando também há a confirmação do sacerdócio dos religiosos. Eles participaram da Missa do Crisma, momento em que o bispo recebe em comunhão o seu clero, renovando as promessas feitas na ordenação. No mesmo dia, os padres consagram os óleos que serão utilizados para a crisma, o batismo e a unção dos enfermos. Neste ano, cerca de 110 sacerdotes estiveram na reunião.