A ligação entre a Serra gaúcha e o restante do Brasil por meio da BR-116 está retomada e, aos poucos, volta a ter o fluxo que tinha antes da interdição da ponte entre São Marcos e Campestre da Serra. A estrutura teve dois pilares danificados pela cheia do Rio das Antas, ocasionada pelo temporal de 4 de setembro de 2023 e que destruiu ainda outras três pontes em municípios da região.
Por quase seis meses, moradores das cidades mais próximas viram o movimento baixar por completo. A lancheria que funcionava junto à rodoviária de São Marcos, por exemplo, não resistiu à escassez de clientes e encerrou as atividades em dezembro. No período da interdição, apenas uma empresa oferecia o transporte e só para a ida e volta até Caxias do Sul.
— As quatro empresas que operavam as linhas que subiam no sentido Vacaria retornaram e nossa venda aumentou 50%. Percebemos inclusive no trânsito da cidade. Na RS-122 os pedágios também fazem com que a BR seja uma alternativa. Antes, os ônibus não atrasavam. Agora, com um maior fluxo de caminhões subindo a Serra, chegam um pouco fora do horário — analisou Andressa Gazzola, funcionária do Expresso São Marcos.
A percepção de Andressa é compartilhada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), que espera que o fluxo aumente consideravelmente nos próximos meses, principalmente de veículos pesados. No dia 2 de março, uma mulher de 79 anos morreu em um acidente entre dois automóveis e um caminhão Scania. Na quinta-feira passada (7), outro acidente envolvendo dois automóveis e um ônibus deixou um homem gravemente ferido.
“Gasta menos combustível e menos tempo”
Em uma borracharia da localidade de São Bernardo, em Campestre da Serra, até então esvaziada por conta do bloqueio, o caminhoneiro Antônio Magrin, 69, celebrava o retorno do trânsito da BR-116. Vindo de Campo Bom, onde descarregou a carga transportada em um bitrem, Marin indicou o caminho que considera mais vantajoso a partir de agora:
— O trânsito da RS-122 era o inferno, precisava seis horas para fazer 200 quilômetros, e gastava quase R$ 80 em pedágios. A única coisa de ruim da BR é o asfalto, o resto tudo é melhor. O caminhão sobe melhor, gasta menos diesel e menos tempo — comentou.
Enquanto realizava o serviço, o borracheiro Paulino Pazinatto, 74, explicava os motivos que ainda levam a BR-116 a ter um volume que considera baixo comparado ao que se esperava após a liberação da ponte:
— Um pouco é a falta de frete. Os caminhoneiros daqui chegavam e ficavam no máximo quatro dias até carregar uma nova carga. Agora, ficam 15 dias. Além disso, tem muitas empresas que o rastreador leva o caminhoneiro pela RS-122 e não deixa subir para o centro-oeste do país pela BR.
Viandas garantiram sobrevivência
Em uma tenda a cerca de dois quilômetros antes da ponte no sentido São Marcos – Campestre da Serra foram os almoços, feitos para os construtores dos pilares, que garantiram a sobrevivência. A comerciante Rosane Sutil, 50, viu o movimento cair a zero durante o período da construção. A saída foi vender as viandas para quem trabalhava na reconstrução da estrutura.
— Fazia almoço e janta, que garantiram meu aluguel. É bom ver o movimento voltar. Só chegavam alguns motoristas que não viam as placas e ficavam perdidos. Agora, a gente percebe aos poucos, porque também tem muita gente que ainda não sabe da liberação e porque o GPS ainda manda pela RS-122 — contou.