Uma safra menor, por conta do clima que não favoreceu a brotação das videiras, e com mais responsabilidade trabalhista. A vindima de 2024, na Serra, tem desafios e aspectos próprios tanto em termos de agricultura quanto nas relações entre patrões e funcionários.
Foi na safra do ano passado, em 22 de fevereiro, que 207 trabalhadores foram resgatados em situação análoga à escravidão. E, desde que tomou conhecimento do fato, a Vinícola Salton, fundada em 1910, realizou uma série de ações que se iniciou com um acordo voluntário junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT), em março do ano passado. De acordo com a direção da vinícola, a empresa assumiu um papel de orientar os produtores para a compra das uvas.
Revisão dos contratos com fornecedores, sensibilização da cadeia produtiva e assinatura de um pacto pela erradicação do trabalho escravo foram realizadas antes que a vindima de 2023 chegasse ao fim. Parceiro do processo, o Instituto Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo (InPACTO) monitora o cumprimento dos compromissos assumidos no Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, lançado em 2005.
No restante do ano e em preparação à primeira safra após o episódio de repercussão internacional, a Vinícola Salton promoveu treinamentos para contratação correta e segura de mão de obra. As atividades tiveram a parceria do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). Foram mais de 20 turmas em 25 cidades diferentes do Rio Grande do Sul. De acordo com o diretor presidente da empresa, Maurício Salton, 99% dos produtores parceiros participaram da capacitação e assinaram o guia de orientações em formato de protocolo de intenções que passou a ser obrigatório para a comercialização de uvas com a empresa.
— O tempo foi elucidando os pontos. Aquele pessoal terceirizado nunca trabalhou na colheita da Salton, o nosso caso é uma compra de mercado, o produtor é livre pra vender para quem ele quiser. Nosso papel passou a ser orientativo, assumimos a responsabilidade de orientá-los e fomos muito insistentes. Antes tínhamos muito voltado à parte técnica e agora ampliamos para a questão social e trabalhista — explica Salton.
Para este ano a Salton definiu que não irá contratar empresas prestadoras de serviços para safra. Todos os trabalhadores com atividades ligadas aos processos de vindima foram contratados como empregados diretos. Em fevereiro do ano passado, a vinícola contava com 14 funcionários terceirizados por meio da Empresa Fênix e que prestavam serviços de descarga de caminhões.
Confira as ações realizadas pela Vinícola Salton:
:: Palestra de conscientização para lideranças e colaboradores;
:: Formação do Comitê de Cultura e Pertencimento;
:: Palestras em parceria com a InPACTO;
:: Evento "Ciclos e Vinhas" entregou para os produtores parceiros a cartilha de Boas Práticas Sociais no Campo;
:: Treinamento de produtores em parceria com o Senar;
:: Entrega do guia de orientações aos produtores rurais.