Uma peça publicitária do Ministério Público do Trabalho (MPT) sobre prevenção ao trabalho análogo à escravidão gerou reações de lideranças da Serra. O vídeo de 30 segundos, em formato de animação, mostra um trabalhador fictício que aceita uma proposta de trabalho temporário na colheita da uva no Sul do país. No entanto, ao chegar no local, ele descobre ter assumido dívidas e sendo submetido ao trabalho escravo. A produção encerra com o personagem pedindo ajuda, denunciando o caso e alertando para desconfiar de propostas "encantadoras".
De acordo com apuração da RBS TV, o vídeo faz parte do Projeto Liberdade no Ar que existe desde 2020 e é liderado pelo MPT em parceria com outras entidades. Entretanto, a peça publicitária sobre o trabalho análogo à escravidão ganhou repercussão após ser exibida em telões de aeroportos brasileiros, uma vez que a Infraero é uma das parceiras do projeto. Vídeos que circularam nas redes sociais nesta semana geraram repercussão negativa na região.
O vídeo foi tema de uma reunião na sexta-feira (2), em Farroupilha, entre representantes de sindicatos rurais de diferentes cidades da Serra com procuradores do MPT de Caxias do Sul. O encontro estava agendado para tratar sobre ações de fiscalização de condições de trabalho durante a colheita da uva, mas também gerou um pedido das entidades para que o vídeo fosse retirado do ar.
A produção não está mais disponível no canal do MPT no YouTube, conforme consulta feita pela reportagem na tarde deste sábado (3).
— Fomos informados que os procuradores daqui não tinham poder para retirada do vídeo, mas que iam levar adiante a demanda e, no mesmo dia, percebemos que não estava mais disponível. O que não concordamos é a imagem da colheita da uva (que aparece no vídeo). Entendemos que estaria vinculando o trabalho escravo à colheita, o que não é verdade. O episódio do ano passado foi no alojamento onde estavam acomodados — afirmou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Bento Gonçalves, Cedenir Postal, referindo-se ao caso dos 207 trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão na cidade.
Postal afirma também que os produtores estão colaborando com os órgãos de fiscalização, atuando na orientação dos agricultores para que a contratação de mão de obra temporária siga ocorrendo dentro da legislação trabalhista, inclusive com a formalização do trabalho.
O deputado estadual Guilherme Pasin (PP) protocolou na sexta-feira ofícios eletrônicos ao MPT em Porto Alegre, Brasília e também à Infraero solicitando a retirada do vídeo das redes sociais e dos telões dos aeroportos. Ele disse ter recebido confirmações do recebimento da mensagem, mas não há respostas formais ao pedido.
Pasin disse também que vai protocolar um ofício na Corregedoria do MPT em Brasília pedindo explicações sobre o caso.
— A gente precisa verificar qual é o interesse deles (MPT) em generalizar o assunto e causar esse impacto todo em uma comunidade. Sou contrário a qualquer tipo de generalização. Se existe erro, a culpa, o crime, deve-se punir o responsável e não toda uma sociedade, uma região. Por outro lado, trabalhamos o turismo na nossa região e cria uma animosidade com o povo nordestino que não existe e não pode existir, somos todos um país — afirmou ele, que soube do vídeo após postagens nas redes sociais.
Segundo o MPT, a animação "tem caráter educativo, pedagógico e preventivo, abordando situações em que já foram documentados trabalho escravo contemporâneo e tráfico de pessoas". O posicionamento diz ainda que as animações não tratam de casos específicos. "O objetivo é chamar a atenção para situações que podem parecer uma grande oportunidade, uma boa proposta de emprego e de mudança de vida, e não são".
A mesma campanha tem alertas sobre tráfico de pessoas, de atletas, entre outros.