Quem faz questão da uva na dieta diária vai precisar preparar o bolso. Algumas semanas após o início da colheita junto aos parreirais da região, os consumidores já encontram a fruta mais cara nas gôndolas dos supermercados, na comparação com anos anteriores. E a percepção dos clientes bate com o que os agricultores alertam. O produto, em menor quantidade na Serra gaúcha nesta safra, já enfrenta um aumento de até 50%.
Os pavilhões da Ceasa Serra, Caxias do Sul, que em anos regulares borbulham de fornecedores com uva em abundância no mês de janeiro, desta vez têm recebido uva principalmente de viticultores que investiram em proteção para as videiras, e conseguiram colher uma fruta de melhor qualidade. O gerente operacional da unidade, Alceu Thomé, confirma que será uma temporada atípica, e com preços elevados.
— A uva de qualidade que chega é dos produtores com coberturas nos parreirais. Os demais nem tem trazido. Apenas algumas poucas propriedades conseguiram salvar. Por isso a quantidade está menor. E o que nos surpreende mesmo são os valores. Praticamente dobrou do ano passado para cá. Talvez baixe um pouco agora chegando mais opções, mas será uma safra mais cara — projeta Thomé.
Na semana passada, o quilo da uva estava sendo comercializado entre R$ 5 a R$ 7.
Parreirais protegidos têm uva de qualidade
Usília Cechini Francisconi, da comunidade de Linha 60, no interior de Caxias, que vende os produtos da família na Ceasa, comenta sobre as perdas e a falta de uva para vender.
— Eu não tenho uva boa para o comércio. Só aquela que foi plantada protegida. Nas demais, os cachos ficaram feios. Doença, chuva de pedra. Se salvou pouco. O que eu tenho vou produzir vinagre. Sempre vendia muita uva, e boa. É triste — lamenta a agricultora.
Com três hectares de uvas plantadas com proteção na localidade de Monte Bérico, e 40 toneladas para comercializar nesta safra, o viticultor caxiense Maicol Venturin confirma que o produto está mais caro devido à escassez junto aos produtores.
— Uva produzida a céu aberto está menos doce e com uma vida de prateleira menor, isso afeta no preço, que está até 50% mais alto. Não vai faltar, porque na nossa região tem bastante uva protegida, e esta segue com um bom padrão e com a mesma doçura de todos os anos — avalia Venturin.
De caderno e calculadora à mão, o empresário do setor de gêneros alimentícios Flávio Forlin escolhe as mercadorias que irá comprar para os estabelecimentos enquanto avalia qual uva o caxiense vai encontrar nas prateleiras.
— A uva que está vindo para a Ceasa está com uma qualidade muito boa, mas com um preço muito acima. E isso a gente vai precisar repassar para o consumidor praticamente na integralidade. Mas a tendência é que o preço caia, porque com neste patamar não vai vender muito — acredita o empresário.
Sem abrir mão da uva
Sem abrir mão da uva na alimentação no dia a dia da família, o engenheiro civil de 41 anos Tiago de Camargo já constata os valores elevados nas ofertas de uva de um mercado do bairro Santa Catarina, e mesmo assim enche o carrinho com frutas.
— A gente consome bastante fruta lá em casa. A uva está boa, um pouco menos doce, e o preço mais caro. O aumento é visível, mas não vamos deixar de consumir — garante Camargo.