A implantação de dispositivos, nos últimos anos, para evitar o atropelamento e morte de animais na Rota do Sol, em Itati, no Litoral Norte, conseguiu reduzir em até 87% o número de ocorrências. Os resultados foram apresentados nesta quinta-feira (14), em um seminário que discutiu ações para proteção de espécies junto a rodovias do Estado. A ação foi organizada pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e contou com a participação de órgãos rodoviários, concessionárias e órgãos ligados à proteção ambiental.
As estruturas consistem em cercas nas margens da rodovia e passagens subterrâneas implantadas junto à Reserva Biológica Mata Paludosa. A área apresenta solo bastante encharcado, que favorece a presença de anfíbios — alguns existentes apenas na região — além de outras espécies. A riqueza da fauna foi identificada pela primeira vez durante os estudos para a construção da Rota do Sol e foi a partir disso que se criou a reserva ambiental.
— A Mata Paludosa é a borda de um enorme maciço florestal de mata atlântica. A riqueza daquela área é estupenda. Nunca vi, em 30 anos de atividade, uma área tão rica em termos de pequenos mamíferos — observou o biólogo Adriano Souza da Cunha, da Biolaw Consultoria Ambiental, responsável pelos estudos, durante o seminário.
A Rota do Sol já contava, desde a conclusão, com três passagens subterrâneas para a fauna, mas o monitoramento ambiental da rodovia apontou que atropelamentos continuavam ocorrendo, apesar da utilização das estruturas. Contratada pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), equipes da Biolaw, com apoio de outros órgãos, iniciaram em 2017 novos estudos para monitorar o comportamento das espécies e desenvolver novas soluções.
O trabalho chamou a atenção porque exigia bloqueios temporários da Rota do Sol nos períodos de primavera e verão, muitas vezes gerando reclamações dos motoristas. Em 2020, outras seis travessias subterrâneas foram implantadas para dar mais alternativas de passagem aos animais. As cercas às margens da rodovia foram implantadas com o objetivo de direcionar os animais para as travessias e evitar o acesso à pista.
Monitoramentos realizados nos anos seguintes apontaram não só a redução, mas também uma mudança nas áreas de atropelamentos. Os casos que ainda existem passaram a ocorrer nas extremidades do cercamento, o que, segundo Cunha, comprova a eficiência do dispositivo. Ele alerta, contudo, que é preciso manutenção constante para garantir a integridade do dispositivo.
— É evidente que a redução não é linear para todas as espécies. Para uma foi mais eficiente e para outras foi menos, mas é significativo. A cerca é uma questão muito sensível, fazemos de tudo, mas qualquer buraquinho os animais passam — destaca.
Travessias superiores ainda não operam
Outra medida tomada a partir do monitoramento realizado na rodovia foi a implantação de cinco estruturas metálicas para a travessia superior de animais. As estruturas são voltadas a anfíbios que vivem nas copas das árvores e morrem atropelados ao tentar acessar o outro lado da estrada.
Alvo de críticas na época da instalação, as passagens precisaram ser desenvolvidas do zero pelas equipes ambientais envolvidas com o estudo, já que não existem relatos de travessias semelhantes para anfíbios.
— Foi a única opção que nos restou. Tivemos que pensar em uma estrutura que fosse atrativa para os anfíbios. Tem algo assim no mundo? Não — relatou Cunha, durante o seminário.
As travessias superiores foram implantas em 2021, mas não impactaram no índice de redução porque não estão em funcionamento. Para cumprirem o objetivo para o qual foram desenvolvidas, elas ainda precisam ser envolvidas pela vegetação. Cordas também irão ligar os arcos ao topo das árvores e serão cobertas por trepadeiras, criando uma vegetação contínua de um lado a outro da estrada.