Há mais de 40 anos, o dia para a aposentada Lorilda Pedroso, 80 anos, só começa após a leitura do Pioneiro. Logo cedo, ela olha atentamente as notícias na capa, na contracapa e parte para as atividades do dia. Após o almoço, se senta na mesa da cozinha e lê o jornal do fim para o início, como ela mesma conta.
— Eu leio o jornal todos os dias, de ponta a ponta. Até o esporte eu leio. Gosto de saber tudo que acontece — explica.
Lorilda é uma leitora participante e guarda com carinho recortes de jornais antigos. Um deles, de 1984, mostrava a reivindicação dos moradores da Avenida Bom Pastor, no bairro Kayser, que bloquearam a via para pedir o calçamento do local para dar fim ao pó da estrada de chão. Pouco tempo depois, a demanda foi atendida e a via hoje é um dos principais pontos mais movimentados da cidade.
Outro jornal guardado com carinho é uma edição de 2016 em que a aposentada e outras colegas foram fotografadas com toucas de crochê confeccionadas por elas e doadas a pacientes com câncer.
O hábito de ler o Pioneiro é acompanhado pela família, mas é um comportamento que mudou com o avanço da tecnologia. A sobrinha de Lorilda, a publicitária Clara Leidens, 28, lê as notícias por meio do celular. Ela precisa saber o que de mais importante acontece na economia, na cidade e na cultura para melhor atender aos seus clientes em uma agência de marketing.
— Eu trabalho muito com o computador, celular e para mim ler com essas ferramentas torna o processo muito rápido, intuitivo. Vou lá e busco o que quero ler, no meu tempo, na minha rotina — explica ela, que gostava de ler na infância o caderno Sete Dias.
O mesmo ocorre com o auxiliar de marketing Gustavo Ascari, 24 anos. Leitor da editoria de política, ele também prefere se atualizar por meio do Pioneiro no digital e no computador.
— Gosto de eleições e acompanhar os nomes, quem está cotado para concorrer aos cargos, saber dos bastidores. É importante saber o que acontece porque é mais fácil ter um pensamento crítico, evoluir como pessoas — conta Gustavo.
O companheiro de Lodir
O aposentado Lodir Calabria, 78, recebe o Pioneiro todos os dias em casa, no bairro São Roque, em Farroupilha, há pelo menos duas décadas. Depois de anos trabalhando em frigoríficos, ele foi diagnosticado com perda auditiva severa, uma dificuldade que o faz não conseguir acompanhar as notícias na televisão e no rádio, por exemplo.
Seu Lodir acorda cedo, toma café e, religiosamente, se senta à mesa da cozinha para ler o jornal. Disse que gosta da página de opinião, do esporte e olha atentamente o obituário. Por isso, tem nas páginas do Pioneiro o único meio de saber as notícias mais importantes da região.
— Ao meio-dia, quando chego para almoçar, o pai nos conta as notícias que leu no jornal. É uma interação que conseguimos ter, apesar da dificuldade. Quem é da família consegue se comunicar mais facilmente do que alguém de fora — conta Simone Calabria, filha de Lodir, que é quem cuida do pai.
Referência nas bancas e lancherias
Além do leitor que recebe o Pioneiro em casa, tem quem compre o exemplar em uma banca, tradição em Caxias. Um desses pontos é o quiosque do comerciante Roque Simas, na esquina da Rua Marechal Floriano com a Rua Ernesto Alves, na área central da cidade. Ele exibe com orgulho uma homenagem que recebeu em 1998: uma capa simbólica do Pioneiro foi entregue a Simas como agradecimento ao trabalho.
— Mesmo com a internet, ainda tem muita gente que tem o hábito de ler o Pioneiro. Tenho hoje pessoas que reservam o jornal comigo, passam na banca e levam para casa. O jornal do dia seguinte das partidas de futebol esgotam mais cedo. É bom para se atualizar e exercitar a leitura, com algo tão prático — afirma o comerciante.
Outra tradição é ler o jornal em lancherias. Na Lovat, localizada na Avenida Júlio de Castilhos, o Pioneiro está presente há mais de 40 anos, quando o estabelecimento foi fundado. Todos os dias, o jornal circula entre os clientes, independente do horário do dia.
— O jornal faz companhia para quem vem tomar um café, comer um pastel, um bolo. Eu, particularmente, começo o dia lendo as notícias que mais me chamam a atenção, mas sempre dando uma olhada no que está sendo noticiado — explica Ezequiel Lovat, administrador do estabelecimento.