Para comemorar o aniversário de 75 anos, a série Gavetas da História promove o reencontro de personagens que marcaram a trajetória do Pioneiro com antigas fotografias e jornais. Confira:
Em 1983, o então anônimo morador de Caxias do Sul Laudelino Fô ganhava as manchetes dos jornais. O motivo? Foi um dos tantos jovens confundidos com Carlos Ramires da Costa, o menino Carlinhos, sequestrado no Rio de Janeiro em 2 de agosto de 1973, quando tinha 10 anos, na casa em que morava com os pais.
As suspeitas de que Laudelino, hoje com 64 anos, poderia ser Carlinhos foram levantadas por uma mulher enquanto ele jantava em uma pensão de Caxias. Ela teria visto uma reportagem do Fantástico, na Rede Globo, que falava sobre os dez anos sequestro.
— Eu contei um pouquinho do meu passado para eles, e ela falou para o filho: "Eu acho que é ele". E foi onde aconteceu toda essa história aqui em Caxias — relembra Laudelino.
Após a conversa, a mulher enviou uma carta à Rede Globo afirmando que Carlinhos estaria na Serra gaúcha, com outro nome. Com a suspeita levantada, os dias de Laudelino, que sempre esteve em busca de respostas sobre a própria origem, mudaram.
Laudelino teve contato com a mãe de Carlinhos, Maria da Conceição Ramires da Costa. A mulher veio a Caxias e chegou a afirmar que o morador da Serra era o menino sequestrado no Rio. Laudelino chegou a perceber uma certa familiaridade ao ver o rosto de Maria Conceição.
— Tive esperança também, porque se eu soubesse onde estava minha família, não ia fazer um tumulto assim, eu saberia onde que estavam (os familiares).
Ele também foi levado ao Rio de Janeiro para um reconhecimento da casa em que Carlinhos morava com os pais. Ao olhar para fotos antigas, disse que algumas coisas pareciam se encaixar com as suas memórias. No entanto, em setembro de 1983, chegou a notícia triste, estampada na capa do Jornal Pioneiro: "Laudelino não é Carlinhos, dizem os exames do Rio".
Com olhar triste, e ao mesmo tempo tentando resgatar memórias afetivas dos encontros com Maria Conceição, ele conta:
— É, dói bastante, porque a história do rapaz (Carlinhos), também não foi encontrado até hoje. E, como eu fui envolvido nessa história que seria mais parecido ao guri, e a história dele a minha quase se fecham, tem poucas diferenças.
Após o caso, Laudelino Fô buscou seguir a vida. Com residência fixada em Caxias do Sul no início dos anos 1980, trabalhou por anos como servidor público municipal. Hoje, aposentado, segue em busca de saber quem realmente é.
Uma vida em busca de respostas
Da juventude, lembra de alguns momentos, como a fuga do trabalho em circo, no Paraná e de quando morou com um casal de idosos. Sempre em busca de algo novo, e que também lhe trouxe respostas, foi vagando de lugar para lugar. E, foi justamente em uma dessas andanças da vida que foi registrado por um fazendeiro como Laudelino Fô.
Ele precisava de documentos para trabalhar, e escolheu o nome de Laudelino por ser o mesmo de uma criança que cuidava no circo. Quanto ao sobrenome, não sabe porque ficou como "Fô". Após passar por diversos trabalhos no Paraná e em Santa Catarina, acabou chegando à Serra no início da década de 1980, após alguns serviços, decidiu por ficar na cidade.
A história de Laudelino Fô tem diversos capítulos, mas nenhum deles com uma resolução. Separado e morando apenas com um dos seus filhos, ele ainda busca respostas sobre familiares.
— Se eu soubesse eu não estaria pedindo socorro para alguém.
O caso Carlinhos
Carlos Ramires da Costa foi sequestrado aos 10 anos em 2 de agosto de 1973 em uma casa de classe média em que morava com a família no Rio de Janeiro. O sequestrador entrou na residência, trancou a mãe, Maria da Conceição Ramires da Costa, e outros quatro dos sete filhos dela, e levou Carlinhos. O pai, João da Costa, não estava em casa no momento porque tinha saído com outros dois filhos do casal.
O sequestrador deixou um bilhete exigindo resgate no valor de Cr$ 100 mil. No dia seguinte, o rosto de Carlinhos estava nos principais jornais do Rio de Janeiro. A família até ofereceu o valor, que foi possível conseguir por meio de doações. Porém, no dia do resgate, ninguém apareceu.
Em 1974, um homem confessou o crime e disse que João da Costa seria o mandante. O pai de Carlinhos chegou a ser preso, mas acabou solto no dia seguinte. Investigações apontaram que a confissão era falsa.
Mesmo assim, o fato acabou recaindo sobre a família e resultou no divórcio do casal em 1976. Um ano depois, um homem, funcionário do laboratório farmacêutico do pai de Carlinhos, foi apontado como o sequestrador. Em depoimento, uma irmã de Carlinhos afirmou tê-lo reconhecido. O homem foi condenado, mas a falta de provas lhe concedeu liberdade na sequência.
Nos anos seguintes, a família se envolveu em outros casos, além do de Laudelino, sobre possíveis paradeiros de Carlinhos. Até hoje ele não foi encontrado.