Com foco na saúde masculina, o Novembro Azul é dedicado à conscientização sobre a necessidade de cuidados preventivos por parte dos homens, especialmente, no combate ao câncer de próstata. E Caxias do Sul tenta reduzir uma estatística comum entre o público masculino: a resistência aos cuidados médicos. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os homens vivem cerca de 7,1 anos a menos do que mulheres. De cada três mortes de pessoas adultas no país, duas são de homens. Em Caxias do Sul, até outubro de 2023, 38 homens perderam a vida em decorrência da doença. Em 2022, foram registrados 43 óbitos durante todo o ano.
A programação voltada a esse público foi instituída em 2011, pelo Instituto Lado a Lado pela Vida. A intenção é alertar para a importância do diagnóstico precoce, sendo que este é segundo tipo da doença que mais mata os homens brasileiros, atrás apenas do câncer de pele.
Para marcar o mês de alerta, a prefeitura de Caxias do Sul promoveu um mutirão de atendimentos no último sábado (11). Nos postos de saúde, as equipes seguem realizando atividades de sala de espera, para o reforço de informações de conscientização e entrega de material informativo, especialmente, sobre o câncer de próstata. O público masculino também pode seguir buscando atendimento durante todo o ano nas unidades básicas de saúde (UBSs).
Prevenção é o caminho
A prevenção do câncer passa por consultas, exames e demais cuidados, bem como por hábitos de vida saudáveis. Entre eles, a prática de atividades físicas, não fumar, evitar sobrepeso ou obesidade e evitar consumo excessivo de álcool. O diretor técnico da Atenção Primária em Saúde de Caxias do Sul, o médico Maicol Muneroli, ressalta que a prevenção ao câncer de próstata tem que fazer parte da rotina dos homens.
— A gente sabe que os homens tem uma dificuldade com o próprio autocuidado, mas essa realidade vem mudando ao longo do tempo — explica o médico.
Uma prova desse descuido com a saúde é o baixo movimento registrado no último sábado em ao menos duas UBSs que a reportagem esteve. As salas de espera dos postos dos bairros Madureira e Cruzeiro estavam praticamente vazios no mutirão voltado ao público masculino.
O fluxo de atendimentos ficou bem abaixo do que é registrado em mutirões de saúde da mulher, que são promovidos em outubro. Muneroli ressalta que assim como as mulheres mantêm a rotina com o exame da mamografia, os homens tem que se adequar aos procedimentos necessários para manter a saúde em dia:
— Na prevenção do câncer de próstata, o exame de sangue, combinado com o exame de toque, ajuda a ter um diagnóstico precoce. É muito importante a gente lembrar que é da construção com o próprio usuário, principalmente, conforme os sintomas que ele possa apresentar.
Necessidade de vencer o preconceito
Um dos problemas é o fato dos pacientes do sexo masculino temerem o exame de toque retal. O procedimento é aquele em que o médico introduz o dedo no ânus do paciente. Muneroli explica porque o exame é necessário:
— Às vezes, o antígeno prostático específico (PSA), que é usado para rastreamento do câncer de próstata em homens assintomáticos, pode estar normalizado, mas com o toque é possível diagnosticar a doença. Por isso, às vezes, o exame de sangue, por si só, não é um fator tão preditivo. Ele nos ajuda para a condução e o diagnóstico mais breve, mas, às vezes, é necessário o exame de toque — ressalta.
Ele afirma que é sempre levada em conta uma associação clínica do paciente como, por exemplo, uma dificuldade urinária ou um sangramento específico.
— Não é necessário fazer o exame todos os meses. É preciso avaliar a questão clínica do paciente e se necessário. É uma conversa que a gente tem que ter sempre bem orientada junto com o próprio paciente, orientando todas as situações.
Procura é maior quando já há problema de saúde
Com base em dados do Ministério da Saúde, a procura de atendimento médico do público masculino é maior em casos em que os problemas de saúde estão mais avançados. É o caso do aposentado José Alvonei Boeira, 65 anos. Morador do bairro Primeiro de Maio, Boeira compareceu ao posto de saúde do Madureira para encaminhar exames de rotina. Esse cuidado ocorreu depois de ele enfrentar o que considerou "sustos ao longo da vida".
— Já tive problemas de saúde bem sérios. Agora aprendi a me cuidar e procurar o médico e fazer todos os exames ao menos duas vezes ao ano — conta o aposentado, sem detalhar sobre o que aconteceu com a saúde.
Outros homens reforçam os cuidados, a pedido da esposa ou das filhas. O corretor Roberto Branco, 58, é um deles. Morador do Jardim América, ele passou a fazer acompanhamentos preventivos aos 40 anos, mas admite que é a esposa, Rojane Branco, que marca as consultas para que ele compareça.
— Me alimento bem, costumo ir ao médico e faço exames uma vez por ano. Mas sou sedentário, não pratico exercícios. Minha esposa me ajuda a cuidar da saúde — diz ele.
Ele conta ainda que a rotina de cuidados de Rojane é muito mais intensa:
— Faço os exames necessários uma vez ao ano e procuro me cuidar, mas normalmente a minha esposa vai muito mais ao médico. Eu vou uma vez ao ano e ela umas 10.
Juarez dos Santos Ferreira, 68, afirma que ainda não tem problemas de saúde e que procura manter um certo cuidado ao longo do ano.
— Minha saúde está em dia até o momento, mas com a idade é preciso fazer os exames necessários e buscar acompanhamento. Faço o necessário. Tento me alimentar bem e faço umas caminhadas— ressalta o morador do bairro Universitário.
Atendimentos pelo SUS
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) pretende ampliar o acesso e o acolhimento dos pacientes em busca de prevenção. Por isso, a recomendação do Ministério da Saúde é que os homens busquem os serviços da rede pública não apenas nos casos de doenças, mas que tentem realizar, pelo menos, uma consulta por ano.
Conforme dados da pasta, nos serviços de atenção primária, a cada quatro atendimentos individuais para pacientes de 20 a 59 anos, apenas um é para o sexo masculino. Os dados apontam ainda que os homens têm mais mortes prematuras, entre 30 e 69 anos, por doenças crônicas não transmissíveis e por causas externas, que representam as principais internações hospitalares entre 20 e 59 anos.
O Ministério da Saúde também orienta os agentes de saúde a manterem o cadastro dos pacientes atualizado. Também estimula o funcionamento das UBSs em horários alternativos para garantir o acesso dentro da rotina de trabalho de parte do público. Os profissionais das UBSs são orientados a aproveitar, também, a oportunidade em que os homens vão aos postos para abordá-los sobre os cuidados com a saúde.
Entre os serviços disponíveis estão:
:: Acolhimento e identificação da necessidade médica.
:: Atendimento individual e coletivo realizado por médicos, enfermeiros, dentistas e equipes multiprofissionais.
:: Visita e atendimento domiciliar.
:: Cuidados para a saúde bucal.
:: Pré-natal do parceiro.
:: Atualização do cartão de vacinação.
:: Diagnóstico, tratamento e acompanhamento de doenças sexualmente transmissíveis e de doenças infecto contagiosas.
:: Controle do tabagismo.
Outras ações são voltadas para a garantia da adoção de hábitos de vida saudáveis, como alimentação adequada, práticas corporais e de atividade física, controle do consumo de álcool e tabaco.
Saiba mais sobre o câncer de próstata
O câncer de próstata tem evolução de forma silenciosa, sendo que em muitos casos os pacientes não apresentam sintomas ou, quando apresentam, eles são semelhantes aos do crescimento benigno da próstata (dificuldade de urinar e necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite).
Na fase avançada, a doença pode provocar dor óssea, sintomas urinários ou, quando mais grave, infecção generalizada ou insuficiência renal. Por esses motivos, é essencial a realização do exame de PSA, associado ao exame de toque retal. Esses são fundamentais para que ocorra o diagnóstico precoce e, consequentemente, para dar mais efetividade ao tratamento.
Para quem é indicado o exame de próstata/PSA?
:: Homens com 45 anos ou mais com sintomas ou fatores de risco
:: Todos os homens com mais de 50 anos
Sintomas mais comuns:
:: Alteração na frequência e padrões urinários
:: Sangue na urina
:: Disfunção erétil