Para não ter nenhuma dúvida, Douglas comprou três testes de gravidez para a namorada. Todos deram positivo para a chegada de um bebê que daria um novo sentido para a vida do casal e, principalmente, para o então estudante e estagiário de 22 anos. Leonardo cresceu querendo ser pai duas vezes: começou a realizar o sonho aos 19 anos, com o nascimento da primeira filha. A família aumentou há menos de um ano e agora ele é pai de duas meninas.
Mais do que serem pais, Douglas e Leonardo compartilham outra realidade: vivenciaram a paternidade na juventude. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), pessoas entre 18 e 24 anos de idade são consideradas jovens-jovens, ou seja, antes da fase adulta, que inicia a partir dos 25 anos. Além disso, ambos desejavam ser pais, mas tiveram o privilégio de começar a formar uma nova família de forma inesperada.
Neste Dia dos Pais, comemorado no domingo (13), e no Dia Mundial da Juventude, lembrado no sábado (12), o Pioneiro conta agora as experiências e os desafios dos jovens pais.
"Quero ser conhecido como pai do Augusto"
Há cinco anos, o assistente comercial Douglas Hoffmann Xavier soube que seria pai em meio ao luto. Três meses antes da descoberta da paternidade, ele perdeu a mãe, Rose, em um acidente de trânsito quando ela saia do trabalho. Foi quando a dor deu espaço a um misto de sensações com os preparativos para a chegada do pequeno Augusto, fruto do relacionamento com a companheira Stéffani, com quem divide a vida até hoje.
— Lembro de ir na farmácia e comprar três testes de gravidez. Se o primeiro desse negativo, a gente parava por ali. Como não deu, fizemos os três (risos). Naquele momento precisamos de um tempo para assimilar. Na época, eu era estagiário, não tinha um emprego fixo, então me assustei um pouco com o que estava por vir. Um mês depois, contamos para os pais dela (Stéffani), choramos muito. E parece que quanto mais a barriga crescia e mais a gente contava para as pessoas, mais a ficha caia de que eu seria pai. Foi incrível — recorda ele, hoje com 26 anos.
Douglas entende que a chegada do filho na juventude ajudou a acelerar o seu amadurecimento para a fase adulta. Até então, ele nunca tinha convivido com nenhuma criança, uma vez que cresceu como filho único e foi o primeiro do seu círculo de amigos a ser pai. Assim, os primeiros desafios com a chegada do Augusto foram superados com a ajuda da família da esposa. Ao mesmo tempo, o pai de primeira viagem queria aprender e dividir as responsabilidades com os cuidados de um bebê.
Parecia que eu não sabia nem cuidar de mim, com 22 anos, mas depois que tu vira pai surge um instinto de proteção que acaba com os medos
— Augusto tinha oito dias quando eu dei o primeiro banho nele. Lembro bem de organizar a banheira, verde, e do cuidado para ser muito delicado porque parecia que ele ia se quebrar. Terminei a missão com uma sensação incrível. Parecia que eu não sabia nem cuidar de mim, com 22 anos, mas depois que tu vira pai surge um instinto de proteção que acaba com os medos — conta.
Com quatro anos, Augusto é uma criança em fase de descobertas, que gosta de fazer desenhos em folhas brancas e usando canetinhas de diferentes cores. É parceiro para correr pela casa junto com o pai por várias rodadas, até os adultos cansarem e ele se manter ativo e querendo brincar mais. Augusto é muito esperto também com os números, igual ao pai, que faz carreira em uma instituição bancária.
Outra semelhança que os dois compartilham é a torcida pelo Juventude - mantendo a tradição do filho torcer para o mesmo time do coração do pai. Douglas leva, sempre que possível, o pequeno ao Estádio Alfredo Jaconi.
— Ele já se diz juventudista (risos). Eu falo para ele os nomes dos jogadores e ele acha muito engraçado ter um jogador chamado Nenê. Na cabeça dele, não é possível nenê ser um nome para uma pessoa adulta — conta o pai, referindo-se ao atual camisa 77 do time alviverde.
Para o futuro, Douglas quer permitir as melhores opções para que o filho defina os seus próprios passos.
— Ninguém nasce sabendo ser pai, é um aprendizado diário. O que quero é não tomar decisões por ele, mas poder permitir as melhores condições para ele decidir o que quer fazer. Me vejo no futuro não como Douglas, mas sim ser conhecido como pai do Augusto. É esse o nome que eu quero ter daqui um tempo — diz.
O (quase) único homem da casa
Na adolescência, Leonardo Bettiol tinha uma vontade: ter dois filhos. Mas ele não imaginava que realizaria o desejo aos 27 anos. O corretor de imóveis é pai de Alice, 8 anos, e de Laura, uma bebê de 9 meses. A chegada da primeira filha aconteceu quando ele tinha 19 anos, no segundo ano de namoro com a agora esposa Viviane.
Uma escolha com aprendizado dentro de casa, mas que também precisou de renúncias.
— Tive um bom exemplo dentro de casa, com meus pais casados há mais de 30 anos. O exemplo do meu pai foi fundamental e onde eu me espelho. Então, era natural que eu tivesse o sonho de formar a minha própria família. Quando a Alice nasceu eu era muito jovem, estava começando a cursar Engenharia, que consegui conciliar com a tarefa de ser pai, graças a minha esposa. Mas deixei de sair com os amigos, de ir em festas, porque tinha outra responsabilidade — recorda.
A infância de Alice é acompanhada de perto pelo pai, que incentiva a filha a aprender coisas novas e ter hábitos saudáveis. Ele prefere evitar o açúcar na alimentação, por exemplo, e por isso acompanha a filha para que ela não tenha o costume de beber refrigerante em dias de semana. Pai e filha também são parceiros no futebol - ambos torcem para o Caxias -, praticam natação e tênis e são craques em jogos de tabuleiro.
— Alice é muito parecida comigo. Ela é muito competitiva e eu também sempre fui assim, nunca gostei de perder, de errar. Gostamos de música também. Desde pequeno, eu tocava violão e ela aprendeu comigo a tocar também — conta.
Para ela, a semelhante com os dois é bem mais visível.
— O que eu acho parecido entre eu e o meu papai são os olhos, porque o da minha mãe é redondinho e o do meu papai é mais fechado —comenta.
Todo o aprendizado que Leonardo teve com a Alice agora é novamente aplicado com a pequena Laura - o que poderia fazer do corretor de imóveis o único homem da casa, se não bastasse um detalhe, muito bem lembrado por Alice durante a entrevista.
— Espera aí, não é o único homem da nossa casa, tem o meu gato, que é um menino, e se chama Fígaro porque é igual ao do Pinóquio — diverte-se ela, que adiantou que dará quatro presentes para Leonardo neste Dia dos Pais, mas sem revelar antes para não estragar a surpresa.
— Realizei meu sonho de ter dois filhos, mas, se vier mais um, também será muito bem-vindo e acolhido com muito amor —conta o pai.