Dois meses depois da primeira queda de barreira no km 181 da BR-116, completados nestas quarta-feira (16), moradores e comerciantes de Nova Petrópolis ainda aguardam pela solução. Há um mês, o Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit) criou um sistema de siga e pare, alternando a passagem de veículos entre 7h e 17h30min, para reduzir o impacto. Mesmo assim, conforme a Associação Comercial e Industrial de Nova Petrópolis (Acinp), os negócios do município estão sendo prejudicados com a diminuição de visitantes de cidades vizinhas, como Caxias do Sul.
O vice-presidente de comércio da Acinp, Gerson Holz, estima que a condição da estrada tem impactado em até 50% alguns dos negócios do município. Holz, que também é comerciante, vê que os moradores de Caxias e cidades da região não ficam mais para jantar, por conta do horário da estrada, ou até mesmo desistem de visitar Nova Petrópolis.
— Eu tenho bastante clientes de Caxias e tenho alguns clientes que não têm vindo mesmo, que vinham me visitar pelo menos uma vez por mês e não estão vindo. Nós sabemos que nos finais de semana, a fila te retém uns 20 minutos. Então, tem impactado na vinda do caxiense que é o nosso principal público — relata Holz.
Uma alternativa seria o desvio que passa pela Linha Temerária, porém há um trecho de 10 quilômetros de estrada de chão e pouca infraestrutura. O caminho é usado especialmente por quem precisa trabalhar em Nova Petrópolis. Mesmo assim, também está trazendo prejuízos. A proprietária de uma floricultura, Christine Hesse, conta que os funcionários temem pegar esse caminho à noite, além de que alguns já tiveram gastos em mecânico após o veículo ser danificado na via:
— São custos altos que o poder público nem percebe, que parece que não afeta eles. O que sinto da nossa força de trabalho é um desgaste, cansaço e a falta de perspectiva disso ser resolvido — critica a floriculturista.
Em contato com a reportagem, a assessoria da prefeitura de Nova Petrópolis afirma que também cobra do Dnit uma solução para o trecho na BR-116.
"Não existe solução definitiva"
O Dnit espera assinar o contrato com a empresa vencedora da licitação nesta semana para iniciar as obras de contenção no trecho, de acordo com o superintendente regional, Hiratan Pinheiro, em entrevista ao programa Atualidade, da rádio Gaúcha. Enquanto os trabalhos ocorrem, o órgão promete aumentar o período do "siga e pare", apesar de que não há anúncio do novo horário. A ampliação deve ocorrer anda em agosto. O Dnit também ainda não explica como será feito o trabalho.
Analisando o trecho e o histórico da Serra, o engenheiro civil e professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Darlan Tomazini alerta que não existe uma solução definitiva para as quedas de barreira. O que pode ser feito são obras de contenção com monitoramento para que novos deslizamentos de encosta sejam evitados.
Soluções existentes e aplicadas em outras áreas podem ser avaliadas, como de redes de proteção, barreiras de proteção ou realizar um retaludamento, que é redesenhar a geometria da área para estabilizar o terreno. Qual for a escolha precisa antes de um estudo aprofundado.
— São várias as soluções que podem ser estudadas e analisadas considerando também o investimento possível. De forma geral, todas essas soluções necessitam de monitoramento e têm que estar atreladas a uma boa drenagem. Então, é necessário fazer um projeto de drenagem, fazer um estudo de retaludamento, avaliar a vegetação, visto que a vegetação pode favorecer como pode desfavorecer a estabilidade de encostas. Então, isso precisa ser avaliado — lembra o engenheiro.
Tomazini explica que a Serra tem tendência a situações como escorregamentos ou quedas de blocos por conta da formação de solo. Para definir qual a forma de contenção, o local, como descreve o engenheiro, deve passar por estudos geológicos e geotécnicos, bem como por atualização de dados hidrológicos, que podem determinar novas obras de drenagem ou reavaliar os métodos de drenagem já existentes. O excesso de água no solo é um dos motivos que leva às quedas de barreiras.
— Quando temos chuvas intensas, acabamos levando o solo, digamos, a um limite crítico de instabilidade. Ele fica numa situação crítica que pode vir a desmoronar. Basicamente, chuvas intensas e repetidas com frequência, sem ter tempo do solo secar, mantém o solo saturado e isso favorece ocorrências de instabilidade — reforça.