Não é apenas sensação. A quantidade de obras nas vias urbanas de Caxias do Sul realmente se intensificou nos últimos meses. Ao circular pela cidade, motoristas e pedestres têm se deparado com frequência com obstáculos que precisam ser contornados com impacto mais ou menos significativos na mobilidade. Essa multiplicação de canteiros de obras se deve à necessidade do município se adequar ao marco legal do saneamento.
A maior parte das obras é realizada pelo Samae que, além do abastecimento de água, é responsável pelas redes de esgoto sanitário da cidade. Atualmente, Caxias atende 100% da área urbana no fornecimento de água encanada. Na área rural, são 12 mil moradores já mapeados pela autarquia para serem contemplados com a ampliação de redes nos próximos anos, o que deixa o total atualmente em 97,5%. O marco do saneamento determina que municípios tenham 99%de abastecimento de água tratada em 2033.
É na coleta e tratamento de esgoto, contudo, que estão os maiores desafios. Hoje, 92,59% da população de Caxias tem algum tipo de serviço público de esgoto sanitário. O tratamento, no entanto, atinge 78,4%. A retirada dos resíduos residenciais da água, que depois será direcionada aos arroios, ocorre em oito estações de tratamento (já foram 10, mas duas foram desativadas por serem antigas).
A ampliação desses percentuais para atingir a meta de 90% estabelecida na lei federal depende não apenas da implantação de novas redes e seis novas estações de tratamento previstas, mas também da modernização da tubulação existente. É que a neutralização do esgoto sanitário depende de uma rede exclusiva que direcione os resíduos para as estações de tratamento. É o chamado separador absoluto. Atualmente, no entanto, em boa parte da cidade é utilizado o antigo sistema de redes mistas, em que o esgoto residencial escoa pela mesma tubulação da água da chuva.
É para a troca desse modelo ultrapassado pelo sistema de separador absoluto que ocorrem parte das obras na área urbana de Caxias, especialmente nos bairros Rio Branco e São Pelegrino. Essa região da cidade receberá pouco mais de 18 quilômetros de tubulação em um trabalho que deve ser concluído em setembro. Atualmente, a implantação da nova rede ocorre na Avenida Itália, pouco antes do cruzamento com a Rua La Salle, em São Pelegrino, mas outras frentes também já atuaram na Avenida Rio Branco, Rua Marechal Floriano e Rua Teixeira Mendes, entre outros pontos. As obras estão orçadas em R$ 8,2 milhões e irão impactar 16 mil pessoas.
— Temos o projeto de implantar mais seis estações de tratamento de esgoto e também mais 300 quilômetros de rede em Caxias do Sul, então a população vai ver muita obra em Caxias do Sul na parte de esgoto — projeta o diretor-presidente do Samae, Gilberto Meletti.
As obras de ampliação e modernização do esgotamento sanitário se somam ao reforço do sistema de abastecimento, com a implantação da adutora Tronco Sul, atualmente no bairro Cristo Redentor. O duto irá ligar a estação de tratamento Parque da Imprensa até o bairro Rio Branco, ampliando a rede de distribuição do Sistema Faxinal e impactando 170 mil moradores de 17 bairros. A obra está orçada em R$ 19 milhões.
Até o fim de julho, mais obras de abastecimento terão início. Uma delas é a troca da adutora Santa Catarina-São José. A rede atual já está com a vida útil esgotada e apresenta problemas constantes. Por isso, a tubulação será substituída por outra mais moderna e durável. Outra obra já autorizada é a implantação de uma rede de 13 quilômetros para levar água do sistema Marrecas até a área do aeroporto de Vila Oliva. Somados, os dois investimentos totalizam R$ 13 milhões.
Intervenções também na drenagem
Além das tubulações que atendem residências e estabelecimentos comerciais, a cidade também tem recebido com frequência intervenções na rede de drenagem. A mais significativa em andamento é a galeria do bairro Sagrada Família, que bloqueia a Rua Atílio Andreazza desde abril. No ponto, serão implantados 811 metros de dutos que prometem resolver o problema de alagamentos em períodos de chuva intensa. Obras do tipo normalmente são responsabilidade da Secretaria de Obras, mas nesse caso a Câmara de Vereadores autorizou o Samae a executar devido ao investimento (R$ 5 milhões), valor que pasta não teria como arcar.
— A drenagem que vai captar bem a água que vem da BR-116, em toda parte mais alta daquele bairro, e vai levar até a Perimetral Norte. Então ela entra numa outra adutora e vai para o o Arroio Tega — explica Meletti.
Outras obras de drenagem em parceria com o Samae também estão previstas para a Perimetral Sul e para a Rua Flora Magnabosco, ambas no bairro São Leopoldo. A Secretaria de Obras, no entanto, também tem realizado intervenções por meios próprios. Uma delas é a implantação da rede de drenagem no bairro Cruzeiro, que exige o bloqueio da Rua Mariano Mazzochi.
Além disso, há obras pontuais e rápidas executadas por 12 equipes que se dividem por regiões da cidade. Todos os dias, os grupos, de cerca de sete pessoas cada um, verificam as demandas da população e vão para as ruas realizar os reparos. Conforme o secretário de Obras, Norberto Soletti, a quantidade de intervenções está dentro da média.
— Temos um problema que vem de anos: a cidade cresceu e a infraestrutura é antiga. Muito já foi feito em drenagem e tudo mais, mas ainda é preciso fazer mais — observa.
Em muitos casos, as obras de reparos são rápidas, mas há situações em que a duração do trabalho acaba sendo maior que o previsto.
— Na Rua Visconde de Pelotas com a Avenida Júlio de Castilhos era somente um buraquinho na faixa de pedestres, mas foram necessários três dias de trabalho porque tivemos que refazer uma caixa. Na Rua Os Dezoito do Forte os canos não existiam mais, tivemos que recompor toda a rede. Quando você abre é que vê o tamanho do problema — explica Soletti.
Revitalizações também impactam população
A área urbana de Caxias é impactada ainda por obras de revitalização. A que mais interfere na mobilidade atualmente é na Avenida Alexandre Rizzo, no bairro Desvio Rizzo, onde a via passa por alargamento. O trabalho é realizado por uma empresa contratada, mas também tem participação do Samae na renovação da rede de saneamento. O trabalho deve durar cerca de um ano e meio.
Além disso, a Estação Férrea também passa por reformas. O trabalho começou pela fase interna e deve ser concluído pela Rua Augusto Pestana, que também terá substituição de tubulações, além de receber decks. A obra no entanto está parada após a empresa responsável pedir suspensão de contrato.
Principais trabalhos em andamento
Revitalização do acesso ao Desvio Rizzo
Obra contempla alargamento e nova pavimentação da Avenida Alexandre Rizzo e também recapeamento da Rua Cristiano Ramos de Oliveira e vias do entorno. Ao todo são 1,8 mil metros de pavimentação. Acesso também terá novo paisagismo, pistas de caminhada e ciclovia, entro outros dispositivos. O Samae também vai modernizar a tubulação que passa pelo trecho.
- Tempo de execução: cerca de um ano e meio.
- Valor: R$ 21 milhões + R$ 14 milhões da obra do Samae.
- Impacto no entorno: bloqueios parciais e totais entre a Rua das Rosas e a RS-453.
Nova galeria no Sagrada Família
Nova galeria de drenagem em 811 metros das ruas Atílio Andreazza e Graciema Formolo. A obra tem o objetivo de evitar alagamentos que atingem a região há cerca de 30 anos, já que a rede terá maior capacidade de escoamento.
- Tempo de execução: cerca de 10 meses.
- Valor: R$ 5 milhões.
- Impacto no entorno: Rua Atílio Andreazza está bloqueada atualmente entre a Perimetral Norte e a Rua Conselheiro Dantas.
Nova rede de drenagem no bairro Cruzeiro
Implantação de nova rede de drenagem da chuva em trecho da Rua Mariano Mazzochi, cruzando a Rua Luiz Michielon.
- Tempo de execução: 45 dias.
- Valor: obra é realizada por servidores da Secretaria de Obras, por isso custo total poderá ser calculado após a conclusão.
- Impacto no entorno: bloqueio total da Rua Mariano Mazzochi e estreitamento de pista na Rua Luiz Michielon. Também foi necessário desviar o trajeto da linha de ônibus L83 - Campos da Serra.
Pavimentação de estrada no Cerro da Glória
Pavimentação da estrada que liga as localidades de Loreto e Cerro da Glória, no interior de Forqueta. A obra era aguardada há décadas pela comunidade. Cerca de 750 metros já estão em fase de recapeamento e a previsão é pavimentar mais 4,5 quilômetros de estrada. A via escoa mais de 8 milhões de quilos de uva e 1 milhão de quilos de cítricos por ano.
- Tempo de execução: cerca de um ano e meio.
- Valor: R$ 14 milhões, com financiamento internacional da Corporação Andina de Fomento (CAF).
- Impacto no entorno: bloqueios parciais.
Adutora Tronco Sul
Implantação de nova rede de distribuição de água do sistema Faxinal. A tubulação, de 70 centímetros de diâmetro e ferro fundido, vai atender 170 mil moradores de 17 bairros, principalmente da região sul da cidade. Após concluída, a adutora também poderá assumir a distribuição de água para 400 mil pessoas quando houver falha na tubulação que passa pela Rua Bento Gonçalves.
- Tempo de execução: um ano.
- Valor: R$ 19 milhões.
- Impacto no entorno: bloqueio total da Avenida Independência, no bairro Cristo Redentor. A Rua Monte Castelo, entre as ruas Silveira Martins e José Donato Balen tem restrições parciais. Desde o dia 21 de junho também há interrupção da Rua Felipe Camarão, entre a Rua Tronca e a Avenida Independência.
Nova rede de esgoto no São Pelegrino
Nova rede de esgoto do tipo separador absoluto, que destina uma tubulação para água da chuva e outra para residências. Até então, o escoamento cloacal e pluvial ocorria pela mesma rede. Obra ocorre em três frentes e totaliza 18.746 metros de tubos com 150 milímetros de diâmetro. Irá atender cerca de 16 mil pessoas.
- Tempo de execução: previsão de conclusão em setembro.
- Investimento: R$ 8.240.417,28.
- Impacto no entorno: obras ocorrem na Rua Marechal Floriano, no trecho entre as ruas Os Dezoito do Forte e Antônio Prado; na Rua Teixeira Mendes, entre a Av. Itália e a Rua Cremona; e na Av. Rio Branco, entre as ruas Dr. Augusto Pestana e Machado de Assis.
Estação Férrea
Largo da Estação vai ganhar novo paisagismo, concha acústica, praça com fontes interativas, entre outras melhorias. Intervenções também se estendem para a Rua Augusto Pestana, que terá decks de madeira e recuperação em rede de saneamento. Obra está parada a pedido da construtora, que quer renegociar valores do contrato.
- Tempo de execução: cerca de um ano.
- Investimento: cerca de R$ 7,6 milhões.
- Impacto no entorno: primeiras intervenções ocorreram dentro do largo, sem impacto no trânsito da Rua Augusto Pestana.
Adutora São José-Santa Catarina
Implantação de 5.524 metros de nova rede de distribuição de água, substituindo a rede atual, que chegou ao limite da vida útil. A rede partirá do entroncamento da Rua Amadeo Rossi com a Rua Moreira César e atenderá 60 mil pessoas. As obras devem começar em 15 dias
- Tempo de execução: nove meses.
- Valor: R$ 3,3 milhões.
- Impacto: Obras devem começar em 15 dias e impactar vias dos bairros São José e Santa Catarina.
Adutora do futuro aeroporto de Vila Oliva
Primeira intervenção na área do aeroporto de Vila Oliva, nova adutora irá levar água do sistema Marrecas até o futuro terminal. A rede partirá de Fazenda Souza e terá 13.320 metros. Implantação está prevista para começar em julho.
- Tempo de execução: oito meses.
- Valor: R$ 9,7 milhões.
- Impactos no entorno: rede começará na Rua Ítalo Postiglione, em Fazenda Souza e percorrerá estradas que ligam Fazenda Souza a Vila Oliva até o terreno do futuro terminal.