A partir das noites de quinta-feira, a Brigada Militar (BM) de Caxias do Sul começa a lidar com um problema que tem incomodado inúmeras vizinhanças no município. Chamados por perturbação de sossego “explodem” na cidade, em uma média que chega a ser mais de 80 a cada seis horas entre as quintas-feiras e sábados, conforme a corporação. As reclamações são principalmente sobre som alto, seja de festas ou veículos, e o barulho de motos.
O major Flori Chesani Junior, subcomandante do 12º Batalhão da Polícia Militar (12º BPM), explica que o período de maior ocorrência é geralmente entre 23h e 4h. Além de pontos de concentração de pessoas, que atrai os veículos com som alto e exibições irregulares de motos, há muitas chamadas em condomínios.
— Muitos ligando por causa do som alto ou festas de vizinhos. E aí, demanda um volume de chamadas muito grandes nesses períodos — explica Chesani.
A Brigada identifica que, atualmente, há sete pontos que são os mais preocupantes de Caxias do Sul. Neles, ocorre a aglomeração de pessoas e as reclamações pelos barulhos de veículos e festas. Dois dos pontos estão em frente a casas noturnas no Largo da Estação Férrea, outros dois estão na região do Loteamento Sanvitto (em frente a uma casa e a um posto de gasolina), outro no Cidade Nova (também próximo a uma casa noturna), um no Cinquentenário (novamente perto de uma casa noturna) e mais um no bairro Petrópolis (em frente a bares).
Mudança de cultura
Muitos chamados são pelas badernas nos pontos listados acima. Mas, há ainda os chamados nos condomínios, que sobrecarregam a polícia local. O major Chesani vê que existe a necessidade de uma mudança de comportamento no município:
— Como vivemos em sociedade, o básico que temos é respeitar o direito das outras pessoas. E aí, usa-se muitas vezes a polícia para questões como essas, sendo que existem outras coisas que são mais graves na cidade, como roubos, furtos, tentativas de homicídios, (Lei) Maria da Penha, que atendemos bastante, com um volume muito grande nos finais de semana. Então, passa por uma mudança de comportamento grande na cidade.
Nos condomínios, a sugestão é, primeiro, atentar-se às regras de convivência. Outro conselho é que exista diálogo entre as pessoas. Por exemplo, em uma situação entre vizinhos, que os envolvidos tentem resolver de forma pacífica as questões. Além disso, deve-se sempre avaliar se aquela pessoa rotineiramente perturba os vizinhos com festas ou se é algo raro, de uma ocasião especial.
— Entendemos que a perturbação de sossego é prejudicial. Sabemos que é questão de saúde. Muitas vezes vemos que há um exagero no acionamento da Brigada, sendo que muitas vezes as próprias pessoas, com uma simples conversa, conseguem resolver — percebe 0 subcomandante.
Vizinhança perturbada com festas e motos
Morando há 45 anos no bairro Planalto, Edison Borges relata que a perturbação tem piorado cada vez mais na região. Borges, que é ex-presidente da Associação de Moradores de Bairro (Amob), descreve que um problema é o som automotivo, com veículos que passeiam pelo bairro com o volume “estourando”, e o outro é um encontro de motociclistas na Rua Antônio Benevenuto de Marchi.
Esse encontro ocorre aos domingos, geralmente do meio da tarde até a madrugada. Algumas das motos tem o escapamento adulterado, o que causa um barulho ainda maior para a população que vive no local.
— Ficam utilizando as vias públicas para fazer barulho e manobras radicais, perturbando a população ao extremo — descreve Borges.
O morador diz que muitas chamadas são feitas para Brigada, mas os vizinhos temem retaliação e, por isso, não se identificam. O major Chesani explica que a falta de identificação prejudica o trabalho dos policiais, já que muitas vezes nem a localização é repassada.
— Isso acaba prejudicando muito mais. Ele quer ser atendido, mas não quer se identificar e nem de onde ele é. 'Ah, é aqui no bairro X'. Aí, vamos com uma viatura no bairro, tentando achar onde tem som alto — diz Chesani.
Edison percebe ainda que o problema se torna ainda mais grave no Planalto porque a população da área em que vive é mais idosa:
— Imagina essas pessoas dentro de casa, acuadas, que não conseguem ver uma televisão, não conseguem escutar o "radinho" por causa desse barulho.
No início de junho, uma operação da prefeitura, com Fiscalização de Trânsito e Guarda Municipal, flagrou situação semelhante que ocorria no bairro São Giácomo. Na noite de 3 de junho, 10 motos foram recolhidas no loteamento Praça do Sol. No local, os motociclistas realizavam manobras com escapamento aberto, perturbando moradores da região.