A 144ª Romaria ao Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha, leva milhares de pessoas a peregrinar em oração seja para agradecer ou pedir uma graça divina. Reunidos, por meio de caminhos que partem de diferentes cidades, os peregrinos que chegam ao santuário têm à disposição uma série de serviços ofertados e realizados por pessoas que se doam ao evento.
A cada pré-romaria, por exemplo, a imagem da Santa de Caravaggio deixa o Santuário e é levada em peregrinação por cavalarianos, jipeiros e antigomobilistas. Cabe então a um grupo formado por moradores da localidade retirar a imagem com segurança para instalar em um veículo. No feriado e durante o final de semana, a Santa permanece na esplanada sempre aos cuidados de pessoas identificadas com coletes azuis.
Por muito tempo, o líder do grupo foi o agricultor Helói Pasa, 64 anos, que segue, devido à admiração da comunidade, como uma espécie de membro honorário da turma, ainda que atualmente cumpra a função de chefe da sacristia.
— Comecei a trabalhar para o santuário aos 12 anos como coroinha, depois passei a movimentar a Santa e recolher os donativos. Desde antes da pandemia, meu serviço é cuidar da sacristia.A estrutura que abriga a Santa ficou mais pesada, estávamos acostumados a carregar em quatro, hoje precisamos de seis — explica.
Com a "aposentadoria" de Pasa, coube ao também morador de Caravaggio Moisés Crócoli, 33, organizar os 12 homens que, na sexta-feira (26), realizaram a coleta dos donativos e movimentaram a imagem da Santa quando necessário. Nascido e criado na localidade, Moisés acompanha desde pequeno a movimentação se intensificar quando o Dia de Nossa Senhora de Caravaggio de aproxima. Desde 2016, no entanto, tem responsabilidade de retirar a imagem do santuário que há dois anos ganhou uma coroa que a circunda.
— Por isso que temos a equipe grande que vai se revezando, porque se é sempre a mesma pessoa não é fácil. Antes ia manual e era complicado, hoje temos um motor que faz ela descer e voltar ao local original. É gratificante, é bom ver tanta gente vindo — disse.
Pão, salsichão e pastel feito na hora
No meio da manhã de sexta-feira (26), a Comunidade Nossa Senhora das Graças, distante cerca de sete quilômetros do santuário, já havia comercializado 100 quilos de salsichão e oitocentos pães para montar aquele que é um dos clássicos lanches da romaria. Responsável pela churrasqueira, Valdomiro Sgorla, 72, contava com a ajuda de 20 pessoas. Ele realiza a atividade há 25 anos. No ponto tradicional de parada, se surpreendeu com a quantidade de gente que peregrinou no feriado.
— É a primeira vez que vejo tanta gente passando por aqui, o clima colaborou e não tem hora para comer. Era 5h45min e já tinha o pessoal que pedia se estava pronto. É uma boa oportunidade de movimentar a comunidade e arrecadar um caixa para pequenos reparos — disse.
A um quilômetro dali, na Comunidade São José, um grupo de 12 voluntários da Cruz Vermelha garantia que os milhares de peregrinos de Caxias do Sul chegariam bem ao Santuário
— Estamos aqui se doando também, como tantos que se colocam a caminhar. Ao longo do ano, algumas pessoas não se exercitam tanto e alguns chegam um pouco ofegantes, esses precisam desse auxílio mais para aferir a pressão arterial e conferir os batimentos cardíacos — revelou o vice-presidente estadual da Cruz Vermelha, Guilherme Bieguelmeyer, 29.
Se doar à Romaria de Caravaggio não é ação realizada apenas por moradores locais, mas também por quem vem de fora e adotou Farroupilha como lar. O policial militar Anderson Peres Marques, 44, mora há 27 anos na cidade e trabalha há duas décadas no evento. Natural de Rosário do Sul, na fronteira oeste do Estado, tem admiração pela expressões de fé que a peregrinação oferece.
O dia dele começa cedo para se organizar e levar a base móvel da Brigada Militar até o santuário, onde passa o dia à serviço da comunidade. Na sexta-feira, Marques iniciou o trabalho às 3h30min. Estacionado ao lado do santuário, o veículo abriga dois beliches e uma minicozinha para caso de necessidade para atender o efetivo de 110 homens que atuam na segurança da romaria.
— Sou cristão evangélico, sigo a Igreja Universal há mais de 20 anos, mas também frequento o santuário porque esse lugar é especial, de muita paz e tranquilidade, então venho com frequência para correr ou passear de bicicleta — contou.
O serviço, como o realizado pelo soldado Marques neste feriado, e por tantos outros voluntários, seguirá ainda durante o final de semana, sem ter hora certa para terminar. A frase do policial resume até que horas esses personagens seguirão se doando à Romaria de Caravaggio:
— Até que o último peregrino vá embora.